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Schröder condena posição dos EUA frente ao Iraque

(sv)30 de agosto de 2002

Chefe de governo alemão chama de "erro" as declarações do vice-presidente norte-americano, Dick Cheney. Ministro do Exterior rechaça participação da Alemanha em uma possível invasão do Iraque.

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Dick Cheney, vice-presidente norte-americanoFoto: AP

O chanceler federal alemão, Gerhard Schröder, reagiu com um claro não às ameaças do vice-presidente dos Estados Unidos, Dick Cheney, de derrubar de imediato o regime de Saddam Hussein. Schröder salientou que "estamos ainda longe da paz no Oriente Médio. Falar agora de um ataque ao Iraque é um erro. A Alemanha, sob o meu governo, não irá participar dessa operação".

Schröder procurou amenizar suas declarações avessas aos EUA, dizendo que, "entre amigos, deve-se falar de divergência de opiniões de forma aberta". Para o chefe de governo alemão, no entanto, iniciar uma guerra com um país que acaba de aceitar o envio de inspetores da ONU é uma estratégia errônea.

Alto Risco -

O verde Joschka Fischer, ministro das Relações Exteriores, combateu também com veemência a posição dos EUA no conflito. "Acredito que um ataque ao Iraque, com o objetivo de uma troca de regime, é de alto risco, além de não ser correto", afirmou o ministro em entrevista ao diário Flensburger Tageblatt. Segundo Fischer, embora a presença dos EUA seja indispensável como fator de estabilidade em todo o mundo, "o Iraque, no momento, não é uma ameaça aguda à segurança internacional".

Fischer observou que uma invasão do Iraque deixaria seqüelas no processo de paz no Oriente Médio. "Uma guerra desencadearia uma completa nova ordem das relações na região. Tenho sérias dúvidas de que essas consequências tenham sido refletidas e discutidas nos EUA", afirmou o ministro.

Fischer alertou ainda para os riscos de uma dissolução da aliança antiterror, afirmando que a posição da Alemanha é de solidariedade na luta contra o terrorismo, "mas não de aventura". O ministro alemão da Defesa, Peter Struck, salientou que mesmo se o Conselho de Segurança da ONU viesse a determinar um ataque ao Iraque, "a Alemanha ainda teria a soberania de dizer se participaria".

Paris e Londres -

Com exceção de Londres, quase todos os governos europeus manifestaram preocupação com o pronunciamento do vice-presidente Cheney. Um eventual ataque ao regime de Bagdá, sem uma prévia decisão do Conselho de Segurança da ONU, está, na opinião do ministro francês do Exterior, Dominique de Villepin, fora de cogitação. Para a França, um mandato das Nações Unidas continua sendo condição sine qua non de uma invasão ao Iraque.

Segundo uma pesquisa publicada pelo diário The Guardian, 52% dos eleitores do Partido Trabalhista de Tony Blair, no Reino Unido, são contra o apoio do governo britânico à política norte-americana em relação ao Iraque. Blair, tido como o aliado mais importante de Washington, procura no momento sair pela tangente. Enquanto continua dando sinais de que apóia as ações militares dos EUA, Londres escorrega dizendo que "decisões ainda não foram tomadas".

Com ou Sem Aliados -

Apesar das críticas dos aliados europeus, o secretário da Defesa norte-americano, Donald Rumsfeld, declarou que a falta de apoio "não muda nada" nas intenções dos EUA de invadir o Iraque. "Unanimidade é menos importante do que tomar a decisão correta", declarou Rumsfeld.

No entanto, o não categórico de Berlim não é indiferente à Casa Branca. O que os americanos sabem é que como força política de maior peso dentro da UE, as palavras de Berlim ecoam pelo velho continente. "O não alemão", segundo Fischer, é quase "um não europeu", apesar das incertezas acenadas por Londres.

Campanha eleitoral -

A menos de um mês das eleições, o debate sobre uma possível invasão norte-americana no Iraque adquire, na Alemanha, tons de campanha eleitoral. O "não à guerra" dado por Schröder já foi transformado, de imediato, em tópico da plataforma social-democrata.

O governo burila com isso uma questão tradicionalmente caracterizada pelo consenso entre os partidos dentro do país: a política externa. Embora tenha demonstrado um extremo "cuidado" ao tratar do tema, a oposição democrata-cristã pasou também a rejeitar um provável ataque dos EUA ao Iraque.

Se o 11 de setembro comoveu a opinião pública alemã, levando a grande maioria da população a se solidarizar incondicionalmente com "a vítima EUA", as ameaças do linha dura Cheney causaram efeito oposto. A possibilidade de uma guerra desencadeada pelo governo norte-americano é vista hoje por grande parte dos alemães com um misto de condenação e medo. Vê-se, com isso, o outro lado da superpotência mundial.