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Schulz propõe guinada à esquerda para o SPD

21 de fevereiro de 2017

Candidato dos sociais-democratas alemães apresenta propostas que, em parte, revertem medidas da polêmica reforma social e trabalhista conhecida como Agenda 2010. Sindicatos e esquerda elogiam, e indústria critica.

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Martin Schulz
Schulz colocou a justiça social como um dos seus principais temas de campanha Foto: picture alliance/dpa/M. Scholz

O Partido Social-Democrata da Alemanha (SPD) passa por um momento de autossatisfação raramente visto nos últimos anos desde a indicação do ex-presidente do Parlamento Europeu Martin Schulz como seu candidato à chancelaria federal, há quatro semanas. 

"Ter deixado o SPD feliz me deixa feliz", afirmou Schulz nesta segunda-feira (20/02), ao comentar o crescimento do partido nas pesquisas eleitorais. Sondagens mostram os sociais-democratas tecnicamente empatados com a União Democrata Cristã (CDU), da chanceler federal Angela Merkel.

Leia a cobertura completa sobre a eleição na Alemanha em 2017

Nesta segunda-feira, Schulz colocou a justiça social como um dos seus principais temas de campanha e apresentou propostas que significam uma guinada à esquerda para o partido, até mesmo revertendo parte da reforma social e trabalhista feita pelo governo social-democrata e verde do chanceler Gerhard Schröder.

Ao Bild, jornal sensacionalista que tem a maior tiragem da Alemanha, o candidato sugeriu que estaria disposto a estender o pagamento do seguro-desemprego, que hoje pode ser recebido por até 12 meses para quem tem menos de 50 anos e até 24 anos para quem estiver acima dessa idade.

Schulz ainda propôs uma aposentadoria justa, que garanta um bom padrão de vida, para trabalhadores de baixa renda que contribuíram por ao menos 35 anos para o sistema de pensões e quer limitar as opções para as empresas contratarem funcionários por tempo limitado, ampliar a participação de funcionários na tomada de decisões e impedir que funcionários que organizam eleições para conselho de trabalhadores possam ser demitidos. Segundo o candidato, a ideia é mostrar "respeito pelas conquistas das pessoas no nosso país".

Reforma rachou o SPD

Conhecida pelo nome Agenda 2010, a reforma foi altamente polêmica na época quando anunciada, em 2003, e levou a uma profunda cisão no SPD, com nomes importantes deixando o partido e mais tarde se unindo à legenda A Esquerda. Ela flexibilizou as leis trabalhistas e mudou os sistemas de aposentadoria e saúde. Apesar da polêmica, a Agenda 2010 é frequentemente apontada como responsável pela alta competitividade internacional da economia alemã.

Na época, os partidos de oposição, como a CDU e o Partido Liberal Democrático (FDP), saudaram e apoiaram maciçamente as reformas. Anos mais tarde, já chanceler, Merkel elogiou várias vezes seu antecessor pela coragem e determinação. Dentro do SPD, porém, o clima era de consternação, e Schröder chegou a ameaçar com a renúncia ao cargo de chanceler se não houvesse apoio às reformas.

Muitos políticos e economistas afirmam que a Agenda 2010 é diretamente responsável pelo crescimento da economia alemã nos últimos anos. A taxa de desemprego, um dos objetivos de Schröder com a reforma, caiu de 11,7% em 2005 para os atuais 6,3%. Mas vários estudos mostraram que uma das razões para a queda são os chamados minijobs (empregos de no máximo 450 euros mensais para aqueles que recebem seguro-desemprego), o que significa que mais e mais pessoas que trabalham dependem do Estado.

Por outro lado, seja ou não por culpa da Agenda 2010, não há dúvidas de que a desigualdade cresceu na Alemanha. Um relatório do governo, divulgado em dezembro, mostra que 4,17 milhões de alemães – 6,1% da população – estão endividados, e os salários menores subiram menos do que a média nacional. O número de sem-teto na Alemanha subiu de 223 mil em 2008 para 335 mil em 2014. Os pobres representam 5,6% da população, enquanto o número de milionários subiu para 16.495 – em 2009, eram 12.424.

Em 2007, o instituto econômico DIW concluiu que mais da metade das pessoas afetadas pela reforma viu sua renda diminuir, e que a pobreza cresceu entre as pessoas que sobrevivem dos benefícios sociais. A Fundação Friedrich Ebert, ligada ao SPD, afirmou que a participação do setor de baixos salários cresceu de 14% para 21,5%.

Esquerda elogia, indústria critica

A Esquerda, que sempre defendeu mudanças na Agenda 2010, reagiu às propostas de Schulz com uma mistura de aprovação e ceticismo. A candidata do partido, Sahra Wagenknecht, disse que mudanças são corretas e já deveriam ter sido feitas há anos e questionou por que o SPD não propõe a reforma ainda antes da eleição, já que teria o apoio do Partido Verde e de A Esquerda. Juntos, os três têm maioria no parlamento.

"Martin Schulz não deveria jogar com o desejo de grande parte da população por políticas sociais mais justas", disse Wagenknecht, que voltou a apelar ao social-democrata para que descarte uma coalizão com a CDU. "A experiência dos últimos anos contradiz a ideia de que políticas sociais possam ser alcançadas dentro de uma grande coalizão."

A Confederação Alemã de Sindicatos (DGB) saudou as propostas de Schulz, afirmando ser correto ampliar o período de pagamento do seguro-desemprego. Já a Confederação das Associações de Empregadores Alemães (BDA) criticou as propostas e disse que elas foram feitas sem um conhecimento preciso de números ou da situação legal no mercado de trabalho.

AS/dw/dpa