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Schwäbisch Hall, tesouro escondido em Baden-Württemberg

Flávia Magalhães11 de março de 2006

Schwäbisch Hall, cujo nome geralmente é associado pelos alemães ao banco homônimo, reserva surpresas agradáveis aos seus visitantes.

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A igreja de São Miguel (ao fundo) é palco de inúmeros eventos em Schwäbisch HallFoto: picture-alliance / dpa

Quem viaja à Alemanha dificilmente encontra nos guias de viagem o nome de uma pequena cidade no interior do Estado de Baden-Württemberg: Schwäbisch Hall. Situada na região de Hohenlohe, a 75 quilômetros ao norte de Stuttgart, a cidade guarda segredos dos diversos períodos da história alemã. Com seu brilho ofuscado por outras cidades mais conhecidas em sua proximidade, como Nurembergue e Heidelberg, ela se revela um tesouro escondido da região.

Fundada no século 12, quando o bispo Gebhard von Würzburg mandou construir a igreja de São Miguel (1156) e o mercado da cidade, Schwäbisch Hall abriga vestígios de uma salina celta que remonta ao século 1º a.C. O próprio nome da cidade (Hall significa 'sal') retrata a sua origem celta. Além disso, Schwäbisch Hall não está localizada na região que a denomina. Na verdade, deveria se chamar "Fränkisch Hall". O erro se espalhou na época do governo do partido nazista, pois se acreditava que toda a região do antigo Reino de Württemberg pertencia à Suábia. Os habitantes da cidade, porém, nunca se importaram com o falso nome: um verdadeiro "haller" não adiciona nenhum adjetivo, sendo Hall suficiente para identificar a cidade.

Schwäbisch Hall Stadtansicht
Schwäbisch Hall: muitas opções de lazer em qualquer época do anoFoto: picture-alliance/dpa

Riqueza salineira

A produção de sal foi uma das atividades comerciais da cidade até o século 19, propiciando-lhe uma boa situação financeira. Uma vez que esta era uma das atividades mais rentáveis na Idade Média, Schwäbisch Hall recebeu o título de "freie Reichsstadt" (cidade imperial livre), servindo, portanto, de base de apoio ao imperador, o que trazia muitos privilégios.

A água das fontes da cidade era retirada em baldes e despejada em grandes panelas, num processo denominado "sieder" (fervura). Depois de evaporada a água, o sal se acumulava e podia ser comercializado. Em 1924, quando a salina foi fechada, criou-se o "solbad", um paraíso termal, onde se pode, ainda hoje, tomar saunas e banhos terapêuticos temperados com o sal produzido na região. Além disso, existe uma associação que carrega o nome da antiga atividade e que é responsável pela celebração do festival de verão da cidade ("Großes Siederfest"). A festa acontece na ilha "Grasbödele", no meio do Rio Kocher, cujo nome, também de origem celta, significa "rio de águas sujas" e não faz referências ao processo de fervura, como se poderia imaginar.

Heller: moedas com importância literária

A cidade ganhou importância na Idade Média, com a cunhagem de moedas de prata que se chamavam heller, cuja origem está associada ao período da dinastia de Frederico Barbarossa (1122-1190). As figuras do brasão de Schwäbisch Hall, uma cruz e uma mão, compunham a moeda, a qual era utilizada em todo o império devido ao prestígio da cidade. A partir do século 14, houve um declínio na produção e a cidade perdeu importância. No entanto, encontram-se referências às moedas da cidade na tradução da Bíblia feita por Lutero e também em outras obras literárias. Ainda nos dias atuais, a palavra heller é usada nos dialetos do sul da Alemanha para se referir a "moeda".

Leia mais sobre a história da cidade e seu banco famoso

Um pouco de história

Schwäbisch Hall, Comburg Außenansicht
Comburg: detalhes da vida medieval ainda bem preservadosFoto: Eva Maria Kraiss

Com Johannes Brenz e suas pregações na igreja de São Miguel, a cidade conheceu e integrou-se à Reforma. Durante a Guerra dos Trinta Anos, Schwäbisch Hall participou da liga protestante. Isso causou muitos problemas aos seus habitantes, que tiveram de enfrentar a peste, a fome e a miséria à região.

No século 15, o mosteiro beneditino Comburg foi anexado à cidade e, em 1488, transformado em um centro de preparação de cavaleiros. Atualmente, é um dos monumentos medievais mais importantes e bem-preservados na região.

Apesar das muitas construções medievais, a cidade possui alguns edifícios em outros estilos arquitetônicos. O barroco hoje presente em Schwäbisch Hall surgiu no século 18, durante a reconstrução da cidade, após os Gelbinger, moradores de um dos bairros, terem incendiado o centro medieval durante lutas pela hegemonia na região, em 1680. A reconstrução e a remodelação de Schwäbisch Hall foi financiada através da produção salineira, dado que, nesta época, a cidade ainda possuía a maior salina do país.

A fama da cidade através do banco

A história continua sem maiores acontecimentos até o século 20. Durante os ataques aéreos de 1944, o banco da cidade de Leipzig queria uma sede segura e encontrou em Schwäbisch Hall o lugar ideal. Por não ter indústrias, a cidade não constava da lista dos alvos. Assim, o banco se mudou para Schwäbisch Hall, iniciando um novo e frutífero capítulo na história da cidade. Com a divisão do país após a Segunda Guerra, o banco foi desmembrado e a parte que restava à cidade passou a se chamar Bausparkasse Schwäbisch Hall. Hoje, os alemães associam mais o nome ao banco do que à cidade.

A ocupação americana na região

No começo do século 20, a produção de maquinaria industrial também se consolidou. Em 1934, começou a construção do aeroporto de Hessental, que hoje se encontra parcialmente desativado, mas que foi amplamente utilizado pelos americanos quando as tropas de ocupação se instalaram na região. As Dolan Barracks marcaram toda uma geração de moradores, pois os americanos permaneceram ali até 1993.

US Soldaten in Deutschland Heidelberg
Dolan Barracks: presença americana em Schwäbisch HallFoto: AP

Hoje, os edifícios se tornaram residências e abrigam também um novo centro comercial. Ainda é possível sintonizar emissoras de rádio em inglês. Antigamente, os programas serviam para informar os soldados americanos, mas atualmente oferecem notícias culturais sobre os EUA e temas políticos e econômicos.

"Lembro que, quando era criança, íamos uma vez por ano às festas organizadas na área americana. Era estranho, mas, ao mesmo tempo, fascinante. Podíamos comer cachorro-quente, chips, tomar seven-up e jogar boliche. Essas eram coisas que não existiam no nosso dia-a-dia. Aquilo era para mim a América: um mundo de sonhos", comenta um jovem ex-morador de Schwäbisch Hall.

Leia mais sobre a comida típica e a cerveja produzida em Schwäbisch Hall

Vida cultural marcada pela diversidade

Goethe-Institut in Schwäbisch Hall
Instituto Goethe em Schwäbisch Hall: aprender alemão com estiloFoto: Schwäbisch Hall

Schwäbisch Hall oferece a seus visitantes interessantes opções culturais. Durante o verão, acontecem espetáculos teatrais em dois locais: no teatro da cidade (Haller Globe Theater), construído nos moldes do Globe Theater de Shakespeare; e nas escadarias da igreja de São Miguel. A apresentação envolve tanto os moradores quanto atores profissionais. As apresentações ao ar livre requerem muita habilidade e equilíbrio, uma vez que os degraus não são realmente o palco ideal para peças de teatro. A combinação, porém, agrada e confere um certo quê de exclusividade aos espetáculos locais.

O Centro Cultural Würth, fundado pela empresa de mesmo nome, abriga exposições de arte moderna e, juntamente com a inauguração da faculdade de Artes Plásticas e design, transformou Schwäbisch Hall em um centro cultural e estudantil.

Schwäbisch Hall também conta com um Instituto Goethe. Além dos eventos organizados pela instituição, estrangeiros provenientes de todo o mundo aprendem alemão e têm a possibilidade de experimentar a saborosa cozinha regional, além, obviamente, de contribuir para a criação de um ambiente cosmopolita e multicultural.

Apesar do clima metropolitano, o estilo de vida pacato do interior permanece intacto. A agricultura e a pecuária, principalmente de suínos, ainda são uma importante fonte de renda.

Suábio: fartura à mesa, apesar da fama de pão-duro

A culinária local guarda surpresas para os apreciadores de especialidades. O prato típico é o Spätzle, um tipo de espaguete rústico, acompanhado por molho de cogumelos e bife de porco. As porções – verdadeiramente fartas – podem ser acompanhadas pela boa cerveja da cidade: a Haller Löwenbräu.

Schwäbisch Hall, Hällische Sau
Mohrenköpfle, o porco típico da região: nome dado conforme as características físicasFoto: Schwäbisch Hall

Um tipo especial de porco criado em Schwäbisch Hall, o Mohrenköpfle ou hällisches Landschwein, apresenta um alto teor de gordura, fornecendo um sabor especial aos embutidos e defumados produzidos ali.

Anedota ou história verídica?

Uma história contada por moradores relembra a passagem de um inglês pela cidade. Enquanto girava por Baden-Württemberg em seu Rolls-Royce, resolveu parar em Schwäbisch Hall para tomar um café. Entusiasmado com a beleza local, ele estendeu sua visita: os 15 minutos viraram oito dias. Impressionado pela sua descoberta, ele lançou um dizer bem típico, ainda repetido pelos habitantes: "so very nice and not expensive!" ('tão bonita e nada cara!').

Embora interessante, a realidade atual não corresponde mais exatamente às palavras do visitante. No verão, os preços podem alcançar os praticados nas metrópoles alemãs. De qualquer forma, o episódio, de fundo econômico, combina com a imagem da região no restante do país e, talvez por isso, tenha se mantido vivo ao longo dos anos.

Um destino agradável tanto para quem procura a agitação das grandes cidades quanto para quem prefere a tranqüilidade do campo, Schwäbisch Hall é uma ótima opção para uma escapada de fim de semana ou férias prolongadas. Neste último caso, torna-se indispensável ter um carro para desfrutar a beleza dos arredores, principalmente na cidade vizinha de Vellberg.