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Mendelssohn em Berlim

DW (dds/av)14 de fevereiro de 2009

O compositor passou a maior parte da vida na então capital da Prússia. Porém ao fim trocou-a por Leipzig. Ainda assim, muitas marcas mendelssohnianas permanecem em Berlim, na forma de música, pedra ou instituições.

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Monumento ao músico em Berlim-KreuzbergFoto: picture-alliance/ ZB
Felix Mendelssohn-Bartholdy
Mendelssohn em quadro de Hermann HamannFoto: picture-alliance / akg-images

Embora nascido em Hamburgo, em 3 de fevereiro de 1809, Felix Mendelssohn-Bartholdy passou a infância em Berlim, e lá também escreveu páginas importantes da história da música. Já em 1811, sua família abandonara às pressas a cidade hanseática, ocupada pelos franceses, trocando-a pela então capital prussiana.

Mas que traços do compositor ainda existem na capital alemã, 200 anos após seu nascimento?

Paixão histórica

Para o musicólogo Hans-Günter Klein, o maior feito de Mendelssohn na atual capital alemã foi promover a redescoberta da Paixão segundo São Mateus, de Johann Sebastian Bach, esquecida desde a morte do compositor barroco, em 1750. Um feito que "repercutiu para muito além dos limites de Berlim e que também fundou uma nova tradição".

Denkmal zu Ehren von Johann Sebastian Bach vor der Thomaskirche in Leipzig
Monumento a J.S. Bach em LeipzigFoto: picture-alliance/dpa

Pois o movimento bachiano local, que se mantém até hoje, se deve, sem dúvida, à iniciativa de Mendelssohn. Ele criou um coro especialmente para estudar as obras corais de Bach. A admiração era antiga: sua mãe, primeira professora de piano, estudara com um dos discípulos de Bach. E em 1823 sua avó, Babette Salomon, o presenteara com uma cópia da Paixão segundo São Mateus.

Em 1829, Mendelssohn organizou e regeu, na Academia de Canto de Berlim, a primeira execução da obra desde a morte de Bach, ainda que em versão abreviada e adaptada. Seus principais aliados nesta empreitada histórica foram Carl Friedrich Zelter, compositor e diretor da Academia, e o baixo e ator Eduard Devrient, na época contratado da Ópera Real.

Um novo gênero de música teatral

Ainda segundo Klein, a música incidental composta por Mendelssohn para peças teatrais históricas, por ordem do rei da Prússia, são igualmente um marco na história da música berlinense, inaugurando um novo gênero musical. Hoje, excetuado o Sonho de uma noite de verão, que integra o cânon da música orquestral, seus acompanhamentos para Antígona, Édipo, Atália e outros clássicos estão praticamente esquecidos.

Porém suas sinfonias e aberturas, assim como a música sacra e de câmara, integram, ainda hoje, o repertório de diversas instituições musicais da capital. Um fato que se reflete nos programas dos numerosos concertos em comemoração a seu bicentenário.

Traços arquitetônicos

Maxim-Gorki-Theater in Berlin
Teatro Maxim Gorki, antigo prédio da Academia de CantoFoto: AP

Uma relíquia mendelssohniana da capital é o piano de cauda de Zelter, a partir do qual, presume-se, ele regeu a Paixão na Academia de Canto. Construído por Johann Christoph Oesterlein, o instrumento se encontra hoje no Museu dos Instrumentos Musicais.

O prédio da Academia de Canto, próximo à Staatsoper de Berlim, abriga hoje o Teatro Maxim Gorki. Porém a Universidade Humboldt, onde Mendelssohn estudou – entre outros, com o filósofo Friedrich Hegel – existe,até hoje na avenida Unter den Linden, com sua aparência externa praticamente inalterada.

Planos frustrados

Após a composição da Sinfonia nº 2 (Canto de louvor – uma cantata-sinfonia sobre textos das Sagradas Escrituras), Mendelssohn foi nomeado, pelo rei Frederico Guilherme 4º, mestre de capela da corte. Os planos do monarca eram grandiosos: tornar Berlim a capital cultural do mundo germanófono. Já o compositor ambicionava reformar a Academia Real de Artes e assumir a direção do coro da catedral.

Preußen König Friedrich Wilhelm IV.
Rei Frederico Guilherme 4º da Prússia

No ano seguinte, o compositor galgou o posto de diretor geral de música da Prússia. Porém enfrentava tanta inércia e resistência, que em breve transferiu seu centro de atividades para Leipzig, dedicando-se inteiramente à Orquestra da Gewandhaus. Nos últimos anos de vida, não poupou críticas à vida musical e à mediocridade da capital prussiana.

Em Berlim, permaneceram apenas as relações familiares e a amizade com o rei. Um detalhe feliz para a posteridade, pois a maior parte do legado de Felix Mendelssohn foi para o acervo real, através de sua viúva, irmão e filhos, e se encontra hoje na Biblioteca Nacional da capital. Em contrapartida, a cidade instituiu o Prêmio Mendelssohn de Música.

Leipzig ou Berlim?

Mendelssohn faleceu em 4 de novembro de 1847 em Leipzig, em consequência de um infarto, sendo, contudo, enterrado em Berlim. E até hoje persiste certa rivalidade entre as duas cidades, no tocante ao compositor.

Na capital, nenhuma das casas onde passou tantos anos de sua vida – nas ruas Leipziger, Neue Promenade ou Markgrafen – subsistiu, quer devido à ação do tempo, decisões urbanísticas ou às guerras. Em compensação, não são poucos os monumentos em memória do músico de origem judaica e convertido ao luteranismo.

Seu túmulo encontra-se no Cemitério da Trindade, no bairro de Kreuzberg. No Parque Mendelssohn-Bartholdy, próximo à Praça de Potsdam, encontra-se um retrato seu em relevo. Em 2000, a Sociedade Mendelssohn de Berlim inaugurou um busto do compositor na estação de metrô Hallesches Ufer. E em 2002 mandou instalar, junto ao atual prédio da câmara alta do Parlamento (Bundesrat), uma placa comemorativa para Felix e sua irmã Fanny, também pianista e compositora.