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Sem recursos, Cuba olha para China e Rússia em busca de parcerias

Jan D. Walter (ca)26 de julho de 2014

Primeiro o presidente russo, depois o chinês: China e Rússia intensificam as relações com a ilha dos irmãos Castro. Mas não há filantropia nisso. Além dos negócios, os dois países querem ampliar sua influência na região.

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Raúl Castro e presidente chinês, Xi Jinping, em HavanaFoto: Reuters

Há poucos dias, o presidente chinês, Xi Jinping, fez uma visita a Cuba. Não somente à capital, Havana, mas também à cidade "heroica" de Santiago de Cuba, onde teve início a revolução em 26 de julho de 1953. Lá, a China pretende participar da ampliação de um porto.

Xi, no entanto, não ficou para o aniversário da revolução neste sábado (26/07). A fraternidade socialista já não exerce importância na política externa chinesa. O que importa é o comércio, recursos naturais e influência geopolítica. E a China não está sozinha nisso.

Durante muito tempo, a União Soviética apoiou Cuba como uma espécie de posto avançado perto da costa dos EUA. Mas, com o fim do Pacto de Varsóvia, a economia cubana também desabou, e os fluxos cambiais foram interrompidos. No final da década de 1990, sob o comando do presidente Hugo Chávez, foi a vez de a Venezuela assumir o papel de "irmão mais velho com dinheiro". Só que hoje a própria Venezuela depende de ajuda externa.

Assim, o caminho parece estar aberto para um novo mecenas. E diante da situação econômica cubana, o país insular está precisando de um financiador: Cuba está entre os países mais pobres da região. O salário médio mensal de um funcionário público – ou seja, 90% da população economicamente ativa – equivale a pouco mais de 15 euros (cerca de 45 reais), de acordo com dados oficiais. O desemprego está aumentando, a oferta de alimentos é precária e o prognóstico de crescimento para este ano gira em torno de 1,4%.

A entrada de divisas no país se deve, principalmente, às exportações de açúcar, tabaco e "serviços médicos", ou seja, médicos que são arrendados pelo regime a outros países, entre eles o Brasil. As reformas cautelosas, iniciadas pelo presidente Raúl Castro em 2008, não surtiram quase nenhum efeito até agora.

Rússia anuncia retorno

Isso não é nenhuma surpresa, diz o economista cubano Elías Amor, do exilado partido anticomunista União Liberal Cubana. Segundo ele, as reformas seriam apenas uma fachada. "O regime Castro quer somente ganhar tempo", afirma Amor, até que apareça outro mecenas, ou ao menos uma outra fonte de dinheiro, para se gerar prosperidade.

Em sua visita a Cuba há duas semanas, o presidente russo, Vladimir Putin, perdoou de uma só vez 90% das dívidas cubanas ainda do período soviético – no valor de 26 bilhões de euros. No entanto, ressalta Amor, isso não passa de um gesto simbólico, de aceitação da realidade. "Cuba nunca aceitou a Rússia como credor e já não paga, há décadas, mais nenhuma parcela da dívida."

Putin in Kuba Fidel Castro
Vladimir Putin visita Fidel Castro em CubaFoto: Reuters

"Para a Rússia, o importante agora é incomodar os EUA por meio de uma presença ativa em seu 'quintal'", opinou o cientista político Günther Maihold, do Instituto Alemão para Relações Internacionais e de Segurança. O advogado cubano e crítico do regime René Gómez Manzano é da mesma opinião. "A Rússia espera apoio total dos Castros contra os EUA e o Ocidente. Na anexação da Crimeia e no conflito na Ucrânia, essa estratégia já funcionou", lembra Manzano.

Mas Cuba não pode alimentar sua população com alianças antiamericanas. E, assim, a busca por fontes de recursos continua.

Os últimos 2,6 bilhões de euros que Cuba deve à Rússia deverão ser destinados a um fundo de projetos de infraestrutura na ilha. Primeiramente, porém, Cuba precisa levantar esse dinheiro. A era dos presentes parece ter chegado ao fim. Os novos interessados se apresentam mais como investidores do que como mecenas.

Brasil e China mostram presença

"Os chineses são pragmáticos demais para financiar o poder dos Castro sem uma reciprocidade material", avalia Manzano. De fato, a China parece apostar numa futura abertura do país, pelo menos economicamente: estima-se que na costa cubana haja reservas de até 20 bilhões de barris de petróleo.

Empresas petrolíferas internacionais – da Espanha, Noruega e Malásia – já realizaram perfurações. China, Rússia e Brasil também estão no páreo. Até agora, porém, Cuba não pode sequer atender às suas próprias necessidades.

Atualmente, o Brasil está construindo um porto de águas profundas, próximo a Havana, por cerca de 700 milhões de euros. A China investiu quase dez vezes mais numa refinaria de petróleo. Durante a visita a Cuba, Xi Jinping ainda anunciou novos investimentos, entre eles, a expansão do porto de Santiago de Cuba, mas também projetos menores como um campo de golfe junto a um resort.

"Para a China, uma potência comercial, os novos portos marítimos são interessantes porque ali podem ser trasladadas cargas de navios que não poderiam aportar nos EUA", explica o cientista político Maihold. O advogado Manzano vai um passo além: "possivelmente eles também esperam que, no final de seu mandato, o presidente Obama suspenda o embargo, então poderiam fazer bons negócios em Cuba."

Mandela Trauerfeier Johannesburg 10.12.2013 Obama und Castro
Os presidentes Barack Obama, Raúl Castro e Dilma Rousseff no funeral de MandelaFoto: Reuters

Aproximação histórica com o norte

O embargo comercial dos EUA contra Cuba existe há mais de 50 anos e proíbe, tanto quanto possível, empresas americanas de negociar com Cuba. Mas esse embargo já não parece mais instransponível. "Os cubanos querem construir um vínculo com os EUA, por esse motivo não pretendem mais ser vistos como um satélite de Moscou", avalia Maihold.

Também para o presidente Barack Obama essa parece ser uma opção. Ele, inclusive, já abrandou algumas sanções. Em 2012, uma delegação de congressistas americanos visitou Cuba. Representantes de primeiro escalão dos dois Estados se encontraram na cerimônia fúnebre em homenagem a Nelson Mandela, na qual Obama e Raúl Castro apertaram as mãos. Castro é citado como tendo dito que um vínculo com os EUA seria possível, mas que o sistema cubano não seria negociável.

Com isso, para Manzano, o presidente cubano dá claros sinais sobre essa abertura. "Houve alguma mudança, mas, na melhor das hipóteses, trata-se de reforminhas de natureza meramente econômica. Nem de longe se trata daquilo que Cuba precisaria para garantir seu bem-estar."