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Setor bancário é ponto fraco da economia espanhola

5 de junho de 2012

Enquanto União Europeia fala em expandir prazo para que governo espanhol cumpra meta de austeridade, especialistas alertam para o sério problema que o país ainda enfrenta com os bancos.

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Foto: AP

À primeira vista, parece ser um bom sinal. Na última quarta-feira (30/05), a Comissão Europeia elogiou a Espanha por suas reformas e suas medidas de austeridade econômica. Sob a condição de que os espanhóis reduzam os gastos excessivos e apresentem um orçamento sólido para os próximos dois anos, o comissário europeu para Assuntos Econômicos e Monetários, Olli Rehn, chegou a considerar que o país tenha um ano a mais do que o planejado inicialmente para alcançar a meta de cortes. Sendo assim, possivelmente Madri terá que apresentar um déficit abaixo dos 3% apenas em 2014.

Na União Europeia, porém, são cada vez maiores as dúvidas se a Espanha realmente está em condições de sair do lamaçal de dívidas com suas próprias forças. O país ainda enfrenta um grande problema com seus bancos, abastecidos com bilhões de euros em "créditos podres" (com alto risco de calote). Será preciso, por exemplo, injetar 23 bilhões de euros para salvar o banco parcialmente público "Bankia". E ainda não se sabe ao certo de onde esse dinheiro vai sair.

Perigo para a Europa

Diante disso, a amenização proposta pela Comissão Europeia tem um gosto amargo. Na realidade, a possibilidade de empurrar o prazo registra a seriedade da situação e a impotência dos integrantes do bloco, pois os problemas de países europeus de peso, como a Espanha, poderiam estremecer toda a zona do euro. Se a Espanha precisasse ficar sob o pacote de ajuda, ele não iria resistir ao encargo, conforme teme a maioria dos especialistas. Por isso, muitas autoridades europeias acham justas quase todas as medidas de apoio propostas.

"Para a Espanha, já é tarde", afirma Daniel Gros, diretor do think tank Centro de Estudos de Políticas Europeias, em Bruxelas. Admite-se que em breve o sistema bancário espanhol não conseguirá mais se refinanciar e que o governo espanhol precisará pagar juros que a longo prazo não conseguirá bancar. Então o país ficaria à beira do abismo. Neste caso, o erro de adotar o fundo de ajuda para financiamento da economia espanhola como um todo não deve ser cometido.

"A Europa não consegue bancar isso, simplesmente porque a Espanha é muito grande", alerta Gros. Ele afirma ser preciso encontrar um caminho para que os bancos espanhóis possam ser recapitalizados, sem que isso quebre o país. "Os bancos espanhóis não precisam de mais empréstimos, e sim de mais capital. E este capital não pode ser repassado pelo governo, porque ele não tem dinheiro para isso".

Nacionalismo x controle dos bancos

O financiamento precisaria, desta maneira, vir de alguma outra fonte da Europa. "A primeira opção seria o Fundo Europeu de Estabilização Financeira (FEEF), o pacote de resgate europeu", aconselha Gros. Como o fundo de ajuda foi pensado apenas para ajudar países em risco imediato, e não para resgatar bancos enfraquecidos, ele precisaria ser modificado.

Esta é uma proposta que também será discutida na Comissão Europeia. "Então o fundo de ajuda poderia recapitalizar os bancos espanhóis e depois, claro, tomar seu controle". No entanto, tal controle sobre os bancos não é conciliável com o nacionalismo dos espanhóis, que não aceitam ser comandados por regras ditadas pela UE, acredita Gros.

Neste meio tempo, a agência de rating Fitch reduziu o otimismo em relação à Espanha. A agência rebaixou oito regiões, entre elas Madri, por conta de problemas econômicos. Para o especialista, a decisão da Fitch não foi uma surpresa, pois a autonomia de palpitantes regiões da Espanha tem sempre evitado as medidas de arrocho do governo central.

"Por isso elas precisam ser chamadas à responsabilidade com mais força, para gastarem apenas aquilo que realmente têm". Isso poderia ser imposto pelo governo de Madri, não repassando mais dinheiro a essas regiões, sugere Gros. "Se o governo fosse mais duro, ele poderia dizer para a abastada região da Catalunha, por exemplo: não vamos salvar vocês, vocês precisam se virar. Então a disciplina orçamentária chegaria rapidamente".

Venda do bem estar social

Enquanto isso cresce a pressão sobre o governo em Madri. Os mercados financeiros presumivelmente não vão mais conseguir aceitar por muito tempo que o déficit espanhol chegue a 8 ou 9% do PIB. Não há alternativa para a política de austeridade. Mas outros cortes só poderão ser impostos à furiosa população de maneira dura, como as manifestações do início de março mostraram. Além disso o clima também está esquentando no setor produtivo, o qual acusa o chefe de governo, Mariano Rajoy, e seus ministros de esconder sob o manto do pacote de ajuda a "venda do Estado de bem-estar social".

Com uma intensidade quase desesperada, a UE e o governo espanhol procuram amenizar a situação. Até mesmo a chanceler federal alemã, Angela Merkel, vem pedindo confiança nas reformas espanholas em curso e na estabilidade dos bancos europeus. Após encontro do Conselho de Estados do Mar Báltico na última quinta-feira (31/05), ela falou que a Espanha está seguindo um caminho "para alcançar a consolidação fiscal e ao mesmo tempo produzir crescimento". Se as palavras de confiança chegarão ao povo espanhol, ainda é uma incerteza. O que se sabe é que os clientes têm sacado dinheiro como nunca dos bancos espanhóis.

Autor: Ralf Bosen (msb)
Revisão: Carlos Albuquerque