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"Sie" ou "Du": quando usar o tratamento formal ou íntimo na Alemanha?

4 de janeiro de 2013

Antigamente a regra era clara: não se usa a forma de tratamento informal "Du" para falar com estranhos. Hoje em dia essa norma é menos rígida, o que não torna a situação mais fácil.

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Foto: Patrizia Tilly/Fotolia

Na Alemanha, as boas maneiras têm um nome: barão Adolph Knigge. Ele escreveu, ainda em fins do século 18, a obra Über den Umgang mit Menschen (Sobre a forma de tratar as pessoas), ou, coloquialmente "o Knigge". Equivocadamente, acredita-se até hoje tratar-se de um manual de regras de etiqueta, mas, na realidade, o livro é, antes de tudo, um tratado sociológico.

Seja como for, até hoje o Knigge é considerado "a" referência no que diz respeito a formas de tratamento na língua alemã. Hans-Michael Klein, presidente da Sociedade Knigge da Alemanha, dá palestras a respeito de normas de conduta no país, das quais fazem parte os ensinamentos sobre o uso correto do formal Sie (o senhor / a senhora) e do íntimo Du (tu, você).

Adolph Freiherr Knigge
Adolph Knigge, o nome da etiqueta na AlemanhaFoto: picture-alliance / dpa

O especialista diferencia dois setores distintos da vida: "Para cada um deles, há regras absolutamente diferentes: na vida privada, o mais velho é quem propõe o uso do Du ao mais jovem. Não importa se se trata de homens ou mulheres."

Na vida profissional, continua Klein, não vem ao caso a idade, mas sim a posição de cada um na hierarquia da empresa. "É sempre o chefe ou 'chefa' quem oferece ao funcionário – não importa se mais velho ou mais novo – o Du." Quando duas pessoas de mesmo grau hierárquico se encontram – por exemplo, dois chefes de departamento – aquele com mais tempo de empresa é quem dá o passo em direção à informalidade, explica Klein.

Alguns casos especiais

Essas são as regras tradicionais, mas há exceções e casos especiais. Entre os jovens, por exemplo, o uso do Du é amplamente disseminado, não importando se o interlocutor é ou não uma pessoa conhecida. E há ainda os casos especiais.

Por exemplo o chamado Hamburger Du, ou seja, o "tu hamburguês". A denominação já confunde, pois se trata de combinar o tratamento formal (Sie) com o prenome da pessoa. O resultado é algo como: "Markus, o senhor poderia, por favor...".

Tradicionalmente, essa forma mesclada de tratamento é usada em casos de "relações sociais assimétricas", ou seja, quando o superior chama seu funcionário. "Assimétricas" porque o chefe está acima na hierarquia profissional e porque o tratamento pelo prenome só funciona em uma direção, pois não é boa ideia o funcionário fazer o mesmo ao se dirigir ao superior.

Os bávaros, famosos por suas peculiaridades, também fazem um uso singular da forma de tratamento Du: em Munique, a capital da Baviera, costuma-se utilizar o oposto do "tu hamburguês", o que significa, no caso, chamar a pessoa de Du, mas usar a forma em combinação com o nome de família do interlocutor: "Schmidt, você pode dar um pulinho aqui?".

Em analogia a esse "Münchener Du", há também o "tu de caixa de supermercado", empregado em situações muito específicas. Como quando a funcionária quer saber o preço de uma mercadoria e berra para a colega do outro lado da loja: "Senhora Meier, você sabe o preço da pêra?".

Outro uso especial é o "Genossen Du", usado entre correligionários do Partido Social Democrata, para marcar que se trata de "camaradas", todos iguais entre si e unidos pelas mesmas convicções políticas.

Cuidado: armadilha

Mas as verdadeiras armadilhas não estão propriamente no uso correto do Sie (o senhor /a senhora) e do Du (tu, você), mas nos momentos em que se deixa de usar um e se passa a usar o outro. O especialista em etiqueta Klein cita três dos piores equívocos possíveis.

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Tratamento informal em momento de descontração pode não se perpetuar no dia seguinteFoto: Fotolia

O primeiro: durante uma festa descontraída da empresa, o chefe passa a usar o Du com o funcionário. Mas o que fazer no dia seguinte no trabalho? O superior ainda vai se lembrar do que disse no dia anterior?

Klein recomenda: "O melhor é evitar uma forma de tratamento direta, optando por frases indiretas, por exemplo: 'Não queríamos falar do tema tal hoje?'". De todo jeito, os funcionários têm que esperar até que o superior reaja, aconselha Klein, segundo o qual é "tabu absoluto" lembrar ao chefe que na noite anterior ele havia introduzido o tratamento mais informal.

Outra coisa a ser evitada: "Um funcionário mais velho nunca deve começar a tratar o chefe, mais novo, por 'você'", alerta Klein. A iniciativa tem sempre que partir do superior, independentemente da idade.

O terceiro mandamento neste contexto é jamais recusar de maneira ríspida a forma de tratamento mais íntima. Caso isso seja feito, é necessário agir de forma que o interlocutor mantenha sua dignidade. Klein recomenda: "Diga, neste caso: 'Fico muito feliz com a oferta de poder chamá-lo de 'você' e com o apreço a mim destinado, mas pediria, por favor, a chance de conhecê-lo melhor antes'".

Klein aconselha de forma geral aos participantes de seus seminários uma regra válida para qualquer situação: sempre reagir da maneira mais adequada, sem chamar a atenção pela inconveniência. Uma regra universal, fácil de ser apreendida e que pode ser aplicada não só à questão "Du ou Sie?".

Autora: Birgit Görtz (sv)
Revisão: Augusto Valente