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Sophie von Hellermann pinta um "ar de nada"

Carlos Albuquerque22 de setembro de 2006

Eles não têm mais de 30 anos e já fizeram nome internacionalmente: entre os jovens representantes da nova pintura figurativa alemã está Sophie von Hellermann, cuja leveza de pintar é, para alguns críticos, insustentável.

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Sophie von Hellermann – 'Duelistas'. Cortesia: The Saatchi Gallery, LondresFoto: Sophie von Hellermann, 2006

Nesta sexta-feira (22/09), a Metropolitan Opera de Nova York inaugura sua galeria de arte contemporânea. A polpuda doação de 1 milhão de dólares permitiu à ópera nova-iorquina encomendar, a seis renomados pintores, trabalhos inspirados nas heroínas das próximas produções da casa.

Retratando "Rosina", a pupila casadoura da ópera O Barbeiro de Sevilha, de Rossini, a presença de Sophie von Hellermann, pintora alemã nascida em 1975 em Munique, comprova o reconhecimento internacional da jovem pintura figurativa alemã.

Pintando de memória e não a partir de fotos, a leveza de sua pintura e a escolha de seus temas, que unem a narrativa trivial ao romantismo lírico, provocam desconfiança em alguns críticos, o que não os impede, entretanto, de tentar explicar o sucesso de seu trabalho.

Quebrando tradições

Sophie von Hellermann, 2006 Christo
Sophie von Hellermann – 'Christo Päffgen'. Cortesia: The Saatchi Gallery, LondresFoto: Sophie von Hellermann, 2006

Sophie von Hellermann classifica seu trabalho como pintura figurativa. Após haver estudado na renomada Academia de Artes de Düsseldorf, a pintora bávara mudou-se para Londres, onde fez sucesso já em 2001 com uma exposição individual organizada pela The Saatchi Gallery, uma das mais influentes, senão a mais influente galeria de arte londrina.

Seus quadros não explicam histórias completas, mas fragmentos de uma história que nunca se acaba de contar. Ela pinta cenas de seu mundo pessoal, misturando suas vivências com personagens da literatura, do cinema ou da história. Uma cantora alemã famosa já falecida, um casal perdido no meio de um estúdio hollywoodiano, personagens do quadro Almoço na Relva, de Eduardo Manet.

Uma nova feminilidade

Sophie von Hellermann, 2006 Leading
Sophie von Hellermann – 'A líder'. Cortesia: The Saatchi Gallery, LondresFoto: Sophie von Hellermann, 2006

Por retratarem clichês pejorativamente ligados ao conceito de feminilidade, como a frivolidade ou o sentimentalismo, seus quadros assumem ares levemente provocadores. Em Judgement Day, coletânea de trabalhos da pintora dos últimos dez anos, lançado pela Koenig Books em 2006, a crítica Emily Speers Mears enfatiza a necessidade de redefinição dos conceitos de feminilidade e de subjetividade na pintura e denomina esta crítica no trabalho de Von Hellermann como "glamour histérico".

Como explica a autora Anne Pontégnie no mesmo livro, em tempos em que um trabalho de arte tem que estar ligado a valores de seriedade, realismo e a uma certa atitude mental pragmática e séria para ganhar respeito crítico, Von Hellermann quebra esses valores, que conhece "de cor e salteado".

"Um ar de nada"

Sophie von Hellermann, 2006 He Came
Sophie von Hellermann – 'Quando ele chegou...' . Cortesia: The Saatchi Gallery, LondresFoto: Sophie von Hellermann, 2006

A técnica de Von Hellermann é simples, explica o crítico Clemens Krümmel no livro: "Ela usa pintura acrílica, na maioria das vezes sobre algodão cru, às vezes sobre canvas. Não existe nenhum jogo de camadas nem detalhes indulgentes. Ela parou de usar óleo há dez anos, dizendo que era mais fácil lidar com água do que com aguarrás", afirma.

Usando pigmentos acrílicos bastante diluídos, sua pintura lembra aquarela.

"E é importante que essa leveza seja mantida, e os quadros são realmente muito leves, eles quase não têm peso, pois seu peso não é maior do que o da própria tela. Sim, são pigmentos misturados com bastante água e um pouco de ligante", afirma Von Hellermann.

"Um ar de nada" é como Anne Pontégnie denomina a pintura de Von Hellermann em ensaio homônimo publicado em Judgement Days, no qual salienta a desconfiança dos críticos perante a leveza de seu estilo. Pontégnie afirma que Von Hellermann não é a primeira a sofrer essa espécie de crítica, lembrando que, para responder aos críticos que lhe acusavam de fazer uma pintura simplista, Matisse fez uma exposição com os diferentes estágios de suas telas para mostrar a complexidade de seu trabalho.

Uma nova geração

Sophie von Hellermann, 2006 On Set
Sophie von Hellermann – 'No estúdio'. Cortesia: The Saatchi Gallery, LondresFoto: Sophie von Hellermann, 2006

Como Martin Kobe e Tim Eitel, Sophie von Hellermann pertence à nova geração de pintores alemães que, antes de completar 30 anos, já atingiu fama internacional e comprova o renascimento da pintura figurativa realista. Diferentemente dos colegas, a pintura de Von Hellermann não se baseia em fotos. O espaço de von Hellermann não é o da fotografia, mas o de sua imaginação. Muitos querem ver as influências dessa nova geração no trabalho de Martin Kippenberger, falecido em 1997.

Entretanto, como afirma Pontégnie, no caso de Von Hellermann não se trata de demonstar um projeto modernista, como em Kippenberger, mas de "criar o seu próprio espaço", o que fica muito claro no ensaio do curador e escritor Andrew Renton A garota espacial e o estranho caso de estar em dois lugares ao mesmo tempo, que também faz parte do livro da pintora.

Uma criança de seu tempo

Sophie von Hellermann, 2006 Post
Sophie von Hellermann – 'Nerdes da pós-produção'. Cortesia: The Saatchi Gallery, LondresFoto: Sophie von Hellermann, 2006

Esta nova geração também cresceu em um mundo midiático de computadores, DJs e música eletrônica. É interessante observar que câmeras, telas de tevê e monitores de computadores têm presença assídua nos quadros de Von Hellermann.

O não-espaço das cenas e personagens de seus quadros talvez aluda à virtualidade espacial do mundo midiático em que cresceu. Filha de um físico, a pintora não explora somente temas triviais. A Teoria da Relatividade, de Einstein, foi um dos temas de uma recente exposição.

Sua pintura escapa da sátira, da caricatura ou do quadrinhos. Von Hellermann envolve o cômico, presente no seu trabalho, em um mundo de melodrama. Como afirma Clemens Krümmel, Sophie von Hellermann cria a ligação entre o "alto" e o "baixo".