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Soulfly – Max Cavalera em turnê pelo mundo

Marc Zeugner26 de maio de 2004

O ex-líder do Sepultura está em turnê pelo mundo com o álbum "Prophecy", o quarto da sua banda atual, Soulfly. Eles podem ser vistos também na Alemanha até o final de junho.

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O astro do rock brasileiroFoto: presse

Depois de alguns shows na Escandinávia, o Soulfly chegou à Alemanha. Eles já tocaram em Hamburgo e Leipzig e o astro do rock respondeu às nossas perguntas, no Renaissance Hotel em Colônia, ainda com cara de sono.

DW-WORLD: Existe alguma característica especial dos fãs alemães, as suas reações, eles fazem mais barulho ou são mais calmos do que o pessoal de outras partes?

Max Cavalera: Todo lugar é um pouco diferente, mas a maioria das pessoas que gosta deste tipo da música é semelhante. Acho que a única diferença em relação ao Soulfly é que a gente atrai um pessoal diferente para o show: tem a galera metal, que vai de camisa preta, gosta de coisas mais radicais do tipo death metal e Slayer; tem a galera hardcore, você vê gente com camisas do Dead Kennedys; tem a galera skatepunk, a galera nova, que curte o som mais novo, tipo Deftones. É uma mistura muito louca. Uma das poucas bandas que consegue fazer esta mistura assim é o Soulfly, porque a maioria das outras bandas divide o pessoal.

As galeras são semelhantes em todas as partes ou, por exemplo, existe uma diferença entre as da América do Norte e da Europa?

Não, elas são semelhantes. Mas ainda não me apresentei com esse disco nos Estados Unidos, então é difícil dizer. A gente vai dar um show lá agora em julho, junto com Reunion e Morbid Angel. Vamos tentar esta mistura lá nos EUA, vamos ver se conseguimos.

Vamos falar um pouco do álbum. Ele foi mixado por Terry Date, que já trabalhou com o Deftones e o Pantera. Como surgiu a cooperação? Foi a primeira vez ou vocês já trabalharam juntos antes?

Soulfly CD Cover Prophecy
Capa do CD 'Prophecy'

Foi a terceira vez. A segunda vez foi no último álbum do Soulfly, o 3, e a primeira vez que eu trabalhei com ele foi numa música só, do segundo disco do Deftones. Foi quando o conheci e sempre gostei do trabalho que fez. Eu trabalhei antes mais com Andy Wallace, com Ross Robson, mas resolvi trabalhar com ele no disco anterior e agora acabamos fazendo o Prophecy também.

O disco foi gravado com Marc Rizzo, Joe Nunez, Dave Ellefson e Bobby Burns. Joe Nunez voltou para tocar no álbum. Para você, a banda e seus componentes são um tipo de família, na base do 'a gente sai de casa e volta'? Por que você sempre pega outros músicos para gravar e para tocar nos shows?

O Soulfly é diferente. Não é um projeto, como algumas pessoas pensam. Acho que a única banda um pouco parecida são os Queens of the Stone Age. A cada disco eles mudam, mas continua sempre o pessoal principal, um ou dois [Josh Homme e Nick Oliveri]. É muito parecido com o Soulfly. Acho legal ficar mudando, porque muda o som, traz coisa nova. E eu escrevo as músicas, então nunca perde a originalidade.

Esse fato de mudar o som também foi a meta de tocar com dois baixistas, Dave Ellefson e Bobby Burns. Dave Ellefson tocava antigamente no Megadeath. Pode ser que ele seja um pouco mais clássico?

Não foi tão sério como parece, foi mais uma coisa de jam mesmo, porque ele mora em Phoenix. O Bobby também já fez um monte de música, então convidei os dois. Conheço o Dave desde o primeiro Rock no Rio, quando o Sepultura tocou com o Megadeath, portanto há bastante tempo. Aí, foi mais uma mistura de zoeira, de jam, que acabou sendo legal. Ele devia fazer uma música e acabou fazendo quatro. Mas você tem razão num ponto. Tem coisa clássica por trás, por exemplo na música Mars, a quinta do disco. Há algumas coisas de baixo ali que são totalmente clássicas de metal. O cara tem que sentar e tentar estudar...essa p****, inclusive o Bobby. Ele teve que reaprender para tocar ao vivo. Aquela coisa do metal antigo, daquela época "Sepultura, Megadeath", quando a gente ficava horas e horas tentando fazer umas coisas que ninguém consegue fazer. Dava dor de cabeça tentando fazer isso, mas era legal (risos).

Falando da variedade entre e dentro das músicas, o disco tem influência de experimental, dub e world music. Para mim, especialmente "Moses" é um bom exemplo. Foi uma idéia que você sempre teve, ou apareceu durante o processo de trabalho?

Não, a idéia de misturar metal com reggae ou dub vem desde da época do Sepultura, quando a gente fez um cover do Bob Marley, foi no Roots. Foi bem legal, eu gostei p'ra caramba da aventura. Antes da gente, foi bem legal o que fizeram o The Clash e o Bad Brains. Mas ninguém tinha feito isso com metal. Foi dificil, porque muita gente com quem toquei não ouve estes estilos de música de jeito nenhum. Foi difícil conseguir tirar isso deles, de vez em quando foi até frustrante. Quando comecei com o Prophecy, eu encontrei a banda Eyesburn, uma banda da Sérvia que tem bastante influência de dub e reggae.

Você viajou para a Sérvia por uma semana para escrever coisas novas. Existe uma razão especial para você ter escolhido a Sérvia, alguma ligação antiga?

Existe uma ligação. Bem, precisaria um pouco mais de investigação. A minha família vem da Itália, mas antes da Itália é da Iugoslávia – pelo que eu sei. Tudo antes de o país se separar. Mas foi meio uma coincidência ter viajado para lá. Toquei em Belgrado, conheci um pessoal e aí nasceu a idéia de fazer músicas com ciganos e um professor de música, com instrumentos tipo flauta...

...e eles utilizaram uns instrumentos bem exóticos, não é?

Sim, e uns deles são bem famosos lá até. O professor tinha até aparecido na televisão.

Qual é a influência deles no "Prophecy"?

É difícil dizer. Dá para escutar uns trechos mais exóticos do disco, nas partes entre uma música e outra – flauta e mais coisas desse tipo.

Os metais são deles também?

Não, isso foi tocado pelo Eyesburn. Eles gravaram, acho, quatro trombones diferentes para ficar mais legal. Gostei da aventura. Foi aquele lance tipo pegar um backpack, uma guitarra, ir para um país que você não conhece, conhecer a galera, e a Sérvia se parece muito com o Brasil. Há música em todo lugar, todo mundo está na rua bebendo, tem boteco em todo canto e o povo é f**** como lá no Brasil. Eles tiveram a guerra, as bombas, todas as coisas que o Clinton fez. Existe uma ligação, sei lá. Tomar cerveja, comer churrasquinho e aquela bebida deles, que parece pinga. Parecia a época do Sepultura, quando a gente fazia ensaios e todo mundo ficava bêbado comendo uns espetinhos...

Como vocês se comunicaram na Sérvia?

Inglês. Eles falam quebrado, mas dá para entender.

Um outro assunto. Quando escutei o disco, reparei numa música bem no final do álbum. Depois de um tempo, me lembrei por quê. Estou falando de "In the Meantime". Como é porque você decidiu tocar um cover do Helmet? É bem antigo, de 1992.

Principalmente porque a gente tocou com eles e também muito por causa do Dana, filho da Glória [esposa de Max Cavalera]. Essa música era uma das prediletas dele. Ele a escutava direto, o dia inteiro. Achei legal. É um cover fácil de fazer, e ninguém mais fala no Helmet. Foi também uma homenagem ao Dana [falecido em 1996].

Legal. Agora, se não me engano, cada álbum leva pelo menos uma música cantada em português. É uma tradição, ou uma homenagem ao Brasil e sua origem?

Acho que faz parte do Soulfly. É legal continuar com a tradição, e os fãs adoram. Quando tive uma conversa com Bruce Dickinson, vocalista do Iron Maiden, ele me falou que sua música preferida era Brasil, que é do álbum 3. Eu gosto muito do jeito como soa, então continuei com esta tradição. E agora no Prophecy, rolou Porrada. Foi feito hardcore, bem rápido, a letra em cinco segundos, só de gíria, mas acho legal. Ganhei o Cidade de Deus da minha mãe, que me mandou, e o filme tem o slogan "se ficar o bicho pega, se correr o bicho come", que entrou na letra. É uma linguagem de malandro, de favela, de prisão. Pois acho que ficou legal a ligação entre Cidade de Deus e a música Porrada.

"Prophecy" é o seu melhor álbum, ou você não compara?

Logicamente se tem que fazer o que se gosta. Mas eu não comparo. Isso é mais coisa dos fãs. Para mim é como se fosse uma enorme pintura. Já comecei a trabalhar para o próximo disco. Não presto muita atenção em comparar, mas presto atenção em fazer uma coisa bem feita.

Bem, para terminar tenho umas perguntas bem rapidinhas.

Tem algum lugar especial na Europa para você tocar durante a turnê?

Tem um festival na Grécia, na época da Olimpíada. Vai ser bem diferente. A gente também vai fazer o Download Festival em Donington, na Inglaterra, com 70 mil pessoas. Para mim é o mais especial, porque foi no último Donington que Dana morreu. Agora vou voltar ao mesmo lugar oito anos depois. Outro festival será o Exit na Sérvia, bem bizarro. Vai ter Eyesburn, Soulfly e Pet Shop Boys...

O quê?! Uma piada?...

Pois é. Ainda não sei da ordem ou como vai ser. Primeiro achei que alguém queria fazer uma piada. Mas é engraçado p'ra c****.

Com que banda você gostaria muito de tocar?

Acho que nós já tocamos com quase todo mundo. Com a Metallica a gente não tocou ainda, mas vai acontecer agora durante a turnê. Gostaria de tocar num festival com gente tipo Santana, Peter Gabriel, coisas diferentes.

Nos shows, o Soulfly muitas vezes é acompanhado de bandas não muito conhecidas. Por que é assim?

É assim aqui na Europa, principalmente. A idéia é parecida com a chance que a gente teve no Sepultura para começar. Bandas conhecidas deram a oportunidade para abrir o show. É a mesma ideologia: dar uma chance a estas bandas agora. É legal descobrir uma banda nova.

Então, a última. Quais são as coisas prediletas que você faz além da música?

Pois é, a família. Gosto de escalar montanhas, de ler, de filmes...e de futebol...

...como a maioria dos brasileiros...

Gosto muito, sim. Durante as minhas turnês eu já colecionei umas 300 camisas de clubes diferentes.

Qual seria a tua posição no campo?

(Pensando) Eu gosto de atacante. Ter o número 9 ou 11. Se tem que fazer o gol...

...Brasileiro mesmo, né?

Pois é.

Bem, muito obrigado pela conversa e bom show para vocês hoje à noite aqui em Colônia.

Valeu.