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STF rejeita ação de Bolsonaro contra isolamento social

23 de março de 2021

Ministro Marco Aurélio critica "visão totalitária" do presidente ao tentar barrar medidas de isolamento social. Governos estaduais têm competência para tomar suas próprias decisões, afirma juiz.

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Presidente Jair Bolsonaro, que sempre adotou postura contrária às medidas de isolamento social, aparece sentado em frente a uma frase em uma parede com os dizeres "um brinde à democracia",
Bolsonaro sempre adotou postura contrária às medidas de isolamento socialFoto: Alan Santos/PR

O ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), rejeitou o pedido do presidente Jair Bolsonaro para derrubar os decretos dos governos da Bahia, do Distrito Federal e do Rio Grande do Sul, que determinam restrições na circulação de pessoas para conter o aumento do número de mortes e infecções pela covid-19.

Bolsonaro, que sempre adotou uma postura contrária às medidas de isolamento social, havia acionado o STF no fim da semana passada. A ação direta de inconstitucionalidade (ADI) sustentava que as iniciativas tomadas pelos estados são inconstitucionais, uma vez que somente poderiam ser adotadas pelo Legislativo, e não por decretos dos governadores.

A ADI foi assinada somente pelo presidente, sem a representação da Advocacia-Geral da União (AGU). A petição inicial pedia que os decretos fossem declarados "desproporcionais" e derrubados por liminar, "a fim de assegurar os valores sociais da livre iniciativa e a liberdade de locomoção".

Entretanto, Marco Aurélio considerou que não cabe ao presidente acionar diretamente o STF. "O chefe do Executivo personifica a União, atribuindo-se ao Advogado-Geral a representação judicial, a prática de atos em juízo. Considerado o erro grosseiro, não cabe o saneamento processual", escreveu o ministro em sua decisão.

Segundo o juiz, os governo federal, estaduais e municipais têm competência para adotar suas próprias medidas para combater a pandemia de covid-19.

Marco Aurélio afirmou ainda que a medida é imprópria em meio ao regime democrático. "Ante os ares democráticos vivenciados, impróprio, a todos os títulos, é a visão totalitária. Ao presidente da República cabe a liderança maior, a coordenação de esforços visando o bem-estar dos brasileiros", disse o ministro.

Pior momento da epidemia

Os decretos estaduais foram editados visando conter a disseminação da covid-19, num momento de alta expressiva nos números da doença. O isolamento social e a restrição à circulação de pessoas são promovidos por autoridades internacionais de saúde como algumas das medidas mais eficientes de combate ao coronavírus, e vêm sendo implementados pela maioria dos governos mundo afora.

Na contramão do resto do mundo, Bolsonaro vem minimizando a gravidade da doença e atacando essas medidas restritivas desde o início da epidemia, preferindo, em vez disso, apostar em drogas que se comprovaram ineficazes contra o vírus, como a cloroquina.

O Brasil atravessa hoje o momento mais grave da epidemia de covid-19. O sistema de saúde está em colapso, e hospitais enfrentam escassez de leitos e alertam para falta de medicamentos para entubação de pacientes.

O país se aproxima rapidamente da marca de 300 mil mortes, e é o segundo em todo o mundo na contagem de óbitos e de pessoas infectadas pelo coronavírus.

rc/ek (ots)