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Streaming ganha popularidade e é visto como saída para indústria musical

Greg Wiser (ca)5 de fevereiro de 2014

A distribuição de músicas por portais de streaming como o YouTube foi um dos temas mais discutidos no Midem, feira de música em Cannes. O futuro do setor pode estar nesse tipo de serviço online, dizem especialistas.

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Foto: Picture-Alliance/dpa

Há cerca de dois anos, Marius Lauber, um músico alemão completamente desconhecido, postou na internet, sob o pseudônimo Roosevelt, uma faixa demo com o belo título Sea. Pouco tempo depois, o músico estava tocando em clubes famosos como o Berghain, em Berlim, ou o Le Bain, em Nova York – e os críticos musicais lhe prognosticavam uma grande carreira.

"Fiz o upload da música no YouTube, sem pensar em ser descoberto. Mas a faixa chamou a atenção do selo Greco-Roman, e então nos encontramos", disse Lauber, pouco depois da divulgação de sua primeira música numa rádio pela internet, no final de 2012. "Um ano depois, tudo estava assinado e selado", conta.

A história de sucesso de Roosevelt não é um caso isolado e mostra como portais de streaming como YouTube, Soundcloud, Spotify ou o recém-criado Beats Music estão mudando a maneira como músicos são descobertos e ouvidos. Esse desenvolvimento preocupa a indústria musical – que culpa parcialmente os portais de streaming pelas perdas financeiras do setor – há bastante tempo. Nos últimos 15 anos, as vendas caíram quase pela metade.

Em busca de talentos pelo Twitter

Mas nem todos veem a situação de forma tão obscura. Lyor Cohen já foi chefe do selo de hip-hop americano Def Jam e executivo da Warner Music Group. Na maior feira mundial da indústria musical, o Midem (Mercado Internacional do Disco e da Edição Musical), ele apresentou em Cannes, na França, o seu novo projeto 300, afirmando: "Eu acredito firmemente que o streaming é o futuro de uma indústria musical saudável."

Radiohead
Thom Yorke (d) diz que streaming prejudica a sua banda, RadioheadFoto: AP

Ao filtrar e analisar dados relacionados à música da internet, Cohen pretende contornar a morosa burocracia dos grandes selos. O nome 300 já diz tudo: ele alude à Batalha das Termópilas, na Grécia antiga, quando 300 espartanos conseguiram derrotar milhares de soldados persas.

Cohen explicou que a ideia central de seu modelo é uma parceria com o serviço de microblog Twitter, de onde, futuramente, ele poderá acessar grandes quantidades de dados musicais, incluindo informações como a localização de usuários (artistas), não acessíveis publicamente.

Em contrapartida, o projeto 300 irá utilizar suas descobertas para apoiar o Twitter no desenvolvimento de um software que deverá ser útil também para outros empresários musicais.

As intenções de Cohen são claras: graças a tais informações da web, ele pretende descobrir novatos como Roosevelt antes de caírem nas redes de um caça-talentos convencional. A ideia é saber que artistas estão atraindo atenção e onde.

YouTube – pirataria legal?

Quando ouvem falar de um novo artista, o YouTube é frequentemente o ponto de partida. Em Cannes, ficou bastante evidente a frustração da indústria musical com esse fato. Axel Dauchez, executivo-chefe do serviço de streaming Deezer, foi direto ao ponto: a falta de pagamento a muitos artistas transforma tais websites em "importantes piratas legais", disse.

Também o líder da banda Black Eyed Peas, o cantor americano de rap will.i.am, criticou que os artistas são deixados de fora de todas as operações de pagamento. Outros serviços de streaming também sentiram recentemente a fúria de músicos como Thom Yorke, da banda Radiohead, ou de David Byrne, líder do lendário grupo pós-punk Talking Heads. Eles se queixaram de que a remuneração dos serviços de streaming seria desproporcional ao esforço artístico.

Cannes Midem Talks 2014 Will.i.am
will.i.am, do Black Eyed Peas, faz palestra no MidemFoto: Champeux/Image & Co

As vendas nos EUA mostram os efeitos dos sites de streaming. A consultoria de dados SoundScan relatou no site da revista Billboard que, em 2013, o número de downloads no mercado americano – o maior do mundo – caiu pela primeira vez. Também a venda de CDs caiu por volta de 14%, enquanto o streaming de canções aumentou em quase 32%, para 120 bilhões de acessos.

Na Alemanha, que pertence aos cinco maiores mercados musicais do mundo, os números de 2013 ainda não foram divulgados. Estatísticas preliminares, no entanto, apontam que as vendas de CDs caíram 2%, enquanto a receita na área digital cresceu, por outro lado, em 12% – e isso engloba o streaming.

Possível crescimento bilionário

Marc Geiger, chefe do departamento de música da agência de talentos William Morris Endeavor, não vê nenhum motivo para pessimismo nesses números. No Midem, ele apelou a seus colegas para que, finalmente, reconheçam que o download de músicas irá pertencer, em breve, ao passado – e que o futuro está no streaming.

Ele estima que a indústria musical tenha conseguido a sua maior receita até agora no final da década de 1990, quando o setor lucrou cerca de 40 bilhões de dólares. Ele prognosticou aos participantes do Midem que, em 15 anos, os lucros com o streaming poderão girar em torno de mais de 100 bilhões de dólares.

Essas projeções têm como base os seguintes pré-requisitos: no início, o preço das assinaturas deve ser baixo, depois deve aumentar continuamente. Taxas mensais devem ser a regra e não a exceção, e os serviços de streaming poderiam, no futuro, ser associados a outros serviços.

A empresa de telefonia americana AT&T, por exemplo, coopera com o Beats Music. Esse serviço de streaming, criado pelo produtor e cantor de hip-hop Dr. Dre, pode vir a ser um precursor dessas ofertas combinadas.

Evitar o "efeito jukebox"

O streaming inclui também outro problema, disse o executivo-chefe da Deezer, Axel Dauchez, à Deutsche Welle. Os usuários só escutam músicas e artistas que já conhecem. Segundo Dauchez, os caminhos se fecham então para que artistas novos e experimentais possam divulgar as suas músicas.

"Se o streaming é para ser algo sustentável, devemos todos trabalhar para que este serviço possibilite ao usuário a descobrir coisas novas", disse Dauchez. No entanto, antes que os internautas descubram novas músicas nos exclusivos serviços de streaming, é preciso pagar as taxas. Quantos desses usuários estarão dispostos a pagar tais assinaturas será, nos próximos anos, uma questão chave para a indústria musical.