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Sul-coreanos se preparam para rever parentes do Norte

19 de agosto de 2018

Membros de famílias separadas pela guerra chegam a hotel e aguardam para seguir viagem ao país vizinho, onde se encontram com entes queridos que não veem há quase sete décadas. Último evento do gênero foi há três anos.

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Sul-coreano mostra fotos de parentes
Muitos sul-coreanos traziam fotos de parentes ao chegarem a hotel onde esperam por encontro na Coreia do NorteFoto: Reuters/K. Hong-Ji

Dezenas de sul-coreanos idosos e frágeis se reuniram animadamente neste domingo (19/08), num hotel da cidade de Sokcho, na véspera de seu primeiro encontro em quase sete décadas com membros de suas famílias na Coreia do Norte.

A reunião – a primeira em três anos – começa na segunda-feira no resort de Monte Kumgang, no sul da Coreia do Norte, em região próxima à fronteira com a Coreia do Sul.

Milhões de pessoas tiveram suas famílias separadas pela Guerra da Coreia, entre 1950 e 53. O conflito dividiu irmãos e irmãs, pais e filhos, marido e esposas e perpetuou a divisão da península.

Entre os afetados está Lee Keum-seom, agora uma pequena e frágil senhora de 92 anos. Ela esperava para ver seu filho pela primeira vez desde que o deixou para trás no tumulto da guerra. Ela perdeu o marido e o filho de quatro anos quando a família fugia, e embarcou em uma balsa para a Coreia do Sul com apenas sua filha pequena – que agora a acompanha para o encontro.

O filho agora tem 71 anos e Lee foi informada de que ele levará sua nora para a reunião. "Não sei o que estou sentindo, se é bom ou ruim", diz Lee à agência de notícias AFP. "Não sei se isso é real ou um sonho."

Equipes das duas Coreias desfilam juntas na abertura dos Asian Games, na indonésia
Equipes das Coreias desfilaram juntas em evento esportivo na indonésia, em mais um gesto de boa vontadeFoto: Reuters/I. Kato

Ela criou sete filhos depois de se casar novamente na Coreia do Sul, mas sempre preocupada com o filho que deixou no Norte. Agora há muitas perguntas se fazer. "Onde ele morou, com quem viveu e quem o criou – porque ele tinha apenas quatro anos", frisa.

Famílias não têm segunda chance

Como o conflito terminou com um armistício em vez de um tratado de paz, as duas Coreias permaneceram tecnicamente em guerra. Todos os intercâmbios civis – até de notícias familiares comuns – são proibidos.

Desde 2000, as duas nações realizaram 20 rodadas de reuniões, com a participação de cerca de 20 mil pessoas. Entretanto, ninguém teve uma segunda chance de ver seus parentes. e o tempo está se esgotando para muitos idosos que ainda não tiveram uma oportunidade de reencontrar seus entes queridos.

Mais de 130 mil sul-coreanos se inscreveram para participar de um encontro com parentes desde que os eventos começaram, mas a maioria deles já morreu. A maior parte dos que ainda estão esperando tem mais de 80 anos, e o mais velho participante deste ano tem 101 anos.

Enquanto algumas pessoas desistem no último minuto por motivos de saúde, 89 idosos sul-coreanos – acompanhados por parentes – se reuniram na cidade de Sokcho, na costa nordeste da Coreia do Sul – para passar a noite antes de finalmente atravessarem a fronteira fortemente fortificada que divide as duas Coreias, após décadas de espera.

Idoso sul-coreano exibe fotografia de parentes
Sul-coreano aguarda em hotel em Sokcho por reencontro com parentesFoto: Reuters/K. Hong-Ji

Nos próximos três dias, os participantes do encontro passarão apenas 11 horas com seus parentes que vivem na Coreia do Norte – a maioria, sob os olhos atentos dos agentes norte-coreanos. E na quarta-feira as famílias serão separadas novamente – com toda a probabilidade, pela última vez.

Hiato de três anos

As reuniões desta semana ocorrem após um hiato de três anos, durante o qual a Coreia do Norte testou três armas nucleares e vários mísseis, demonstrando seu potencial para atingir os Estados Unidos.

Nas reuniões anteriores, parentes idosos – alguns em cadeiras de rodas – choraram, abraçaram-se e acariciaram-se mutuamente em um momento de muitas emoções. De acordo com o Ministério da Unificação de Seul, que lida com assuntos intercoreanos, mais de 500 sul-coreanos separados
e seus familiares devem atravessar a fronteira para duas rodadas de reuniões nesta semana.

As reuniões estão ocorrendo num momento de seguidos contatos diplomáticos. Nos últimos meses, o líder norte-coreano Kim Jong-un se encontrou com o presidente sul-coreano, Moon Jae-in, duas vezes e realizou uma cúpula com o presidente Donald Trump em Cingapura, onde eles emitiram um comunicado citando um objetivo vago de obter uma península livre de armas nucleares, sem descrever como e quando isso ocorreria.

Moon, que planeja encontrar Kim novamente em setembro em Pyongyang, diz que o progresso na reconciliação será uma parte crucial dos esforços internacionais para resolver o impasse nuclear
com a Coreia do Norte. As Coreias realizaram conversações militares e participam com equipes combinadas dos Jogos Asiáticos realizado neste mês na Indonésia, em um
gesto de boa vontade.

Líder norte-coreano Kim Jong-un e presidente sul-coreano, Moon Jae-in, sorriem durante encontro
Líder norte-coreano Kim Jong-un e presidente sul-coreano, Moon Jae-in: encontros frequentes em momento de reatamento de laçosFoto: picture-alliance/Zumapress/Inter-Korean Press Corps

Mais de 75 mil inscritos morreram

Ainda assim, a Coreia do Sul não conseguiu persuadir o Norte a aceitar a antiga proposta para realização de reuniões mais frequentes e com mais participantes. A Coreia do Norte também ignorou a sugestão do Sul de visitas à cidade natal e trocas de cartas.

O número limitado de reuniões não pode atender às demandas de membros de famílias divididas, que estão agora, em sua maioria, em seus 80 e 90 anos. Mais de 75 mil dos 132 mil sul-coreanos que se inscreveram para participar dos encontros morreram, de acordo com dados do governo.

Analistas dizem que a Coreia do Norte vê as reuniões como uma importante moeda de barganha com a Coreia do Sul e que não quer que elas se expandam, porque os eventos dão ao seu povo uma melhor consciência do mundo exterior. 

Enquanto a Coreia do Sul usa uma loteria informatizada para escolher os participantes, a Coreia do Norte faz as escolhas com base na lealdade em relação a sua liderança autoritária, afirmam observadores

MD/afp/ap

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