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Angra 3

14 de julho de 2011

Tecnologia da Siemens foi utilizada na construção de Angra 2. Empresa participa também da terceira usina atômica brasileira, mas mudanças na política nuclear alemã levam ativistas a questionar o negócio.

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Visão das usinas Angra 1 e 2, no Rio de JaneiroFoto: Picture-Alliance/dpa

A ampliação da energia nuclear no Brasil não seria possível sem a ajuda da Alemanha. Uma década antes de a primeira central ser ativada, em 1985, os governos dos dois países se aproximaram e assinaram um acordo de cooperação. O Brasil queria ter acesso ao ciclo completo de abastecimento.

Foi só em 2001 que a segunda central entrou em operação: o reator tipo PWR (Pressurizer Water Reactor), ou reator a água pressurizada, foi comprado da KWU, então subsidiária da Siemens. E a terceira central, em construção, contará com o mesmo reator, comprado há duas décadas pelo governo brasileiro. Mas o assunto agora é acompanhado de polêmica, depois das decisões do governo alemão.

Angra 2 Atomkraftwerk Brasilien
Reator Angra 2: tecnologia alemã, KWU/SiemensFoto: AP

A Alemanha, que decidiu fechar todas as suas 17 usinas nucleares até 2020, pode ser a fiadora da construção da terceira planta nuclear em Angra do Reis, no Rio de Janeiro. O país deu garantia de crédito de 1,3 bilhão de euros à Siemens, que tem participação na companhia que vai construir a usina, a francesa Areva.

Projeto antigo

Os equipamentos pesados que integrarão a terceira unidade de geração nuclear brasileira já estão há anos armazenados em território nacional – a construção da central foi iniciada ainda na década de 1980, paralisada em 1986 e, em 2008, recebeu a licença ambiental prévia do Ibama.

Atualmente, o canteiro de obras emprega 3,3 mil pessoas e, se tudo correr como o planejado, a usina entrará em operação em dezembro de 2015. "Existe um contrato entre a Eletronuclear e a Areva NP. O contrato é muito antigo, aliás, porque a construção de Angra 3 ficou parada por muitos anos. Esse contrato foi renegociado", disse à Deutsche Welle o engenheiro Leonam dos Santos Guimarães, assistente do diretor presidente da Eletronuclear.

Ainda segundo Guimarães, a Areva NP vai fornecer serviços de engenharia e alguns poucos equipamentos, "porque a maioria dos que viriam da Alemanha já foi recebida no passado". Restam poucos equipamentos ligados à instrumentação e ao controle da usina, que foi modernizado em relação à Angra 2. Uma evolução para a tecnologia digital, adiciona Guimarães.

A unidade terá uma potência bruta de 1.405 MW, eletricidade que abasteceria, por exemplo, um terço do consumo do estado do Rio de Janeiro. O investimento adicional, segundo estimativas do governo brasileiro, soma 8,56 bilhões de reais.

Angra 2 Atomkraftwerk Brasilien
Sala de controle de Angra 2: foto tirada em 1998Foto: AP

Laços alemães

A Areva não quis falar sobre sua participação em Angra 3. "Não temos nada de novo para anunciar", foi a resposta obtida pela Deutsche Welle. O grupo francês foi fundado em 2001 e incorpora hoje a KWU, antiga subsidiária da alemã Siemens.

Em fevereiro de 2010, o consórcio Areva NP/Siemens pediu ao governo alemão uma fiança no valor de 1,3 bilhão de euros para participar do empreendimento Angra 3. A promessa do "sim" saiu um ano depois – ao oferecer o seguro, a Alemanha sinaliza que arcará com os prejuízos caso o governo brasileiro não cumpra seus compromissos.

Ativistas alemães não gostaram da postura do governo em Berlim e protestaram. "Somos contra essa moral alemã dúbia. O país não pode decidir que vai abandonar suas usinas nucleares e ser o fiador de projetos atômicos no exterior", argumentou Regine Richter, da ONG Urgewald. O grupo diz ter reunido 125 mil assinaturas contrárias à participação alemã na nova usina, e pretende entregar o documento ao ministro da Economia, Philipp Rösler.

Participação nuclear

A geração atômica é hoje responsável por 3% da energia elétrica consumida no Brasil, o que equivale à metade do consumo de eletricidade no estado do Rio de Janeiro. As duas usinas juntas, Angra 1 e 2, têm capacidade de 2.007 MW.

Estima-se que o Brasil abrigue a sexta maior reserva de urânio do mundo (combustível que alimenta os reatores), de 309 mil toneladas. Segundo cálculos da INB (Indústrias Nucleares do Brasil), essa quantidade seria suficiente para abastecer 32 usinas nucleares como Angra 3 durante toda sua vida útil. A INB é a única empresa que faz o beneficiamento do minério e fabricação do combustível nuclear no Brasil.

Autora: Nádia Pontes
Revisão: Roselaine Wandscheer