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Temer tenta ganhar tempo e segurar aliados

Malu Delgado de São Paulo
19 de maio de 2017

Encurralado por denúncias, presidente inicialmente controla debandada do governo e monta estratégia para ganhar sobrevida no cargo. Uma das frentes de batalha é contestar juridicamente acusações de executivos da JBS.

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O presidente Michel Temer em Brasília: acredita-se que ele tomará medidas legais contra Joesley Batista
O presidente Michel Temer em Brasília: acredita-se que ele tomará medidas legais contra Joesley BatistaFoto: Getty Images/AFP/E. Sa

A despeito da firmeza com que declarou publicamente na tarde de quinta-feira (18/05) que não renunciará, o nível de instabilidade política no Brasil não permite afirmar que o presidente Michel Temer (PMDB) segue firme no cargo. Novos áudios e gravações da delação premiada do empresário Joesley Batista, da JBS, começaram a ser publicados na mídia nesta sexta-feira (19/05), e o governo segue sangrando. O presidente pediu investigação rápida e ágil sobre as suspeitas que pairam sobre ele. Solicitou ao Supremo Tribunal Federal a íntegra da delação de Joesley. 

A estratégia do presidente e do governo é ganhar tempo, questionar juridicamente as afirmações de Joesley, desqualificando as gravações e seus conteúdos, segurar a equipe de governo e impedir que ministros deixem seus cargos e aguardar a reação popular.

Alguns sinais da sexta-feira foram favoráveis ao presidente. Os movimentos Vem pra Rua e MBL (Movimento Brasil Livre), que foram atuantes nas convocações de protestos na ocasião do impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), cancelaram manifestações marcadas para este domingo, dia 21. Movimentos sociais ligados à esquerda, no entanto, mantêm os protestos e pedem a renúncia de Temer e eleições diretas.

Outro foco de incêndio que Temer conseguiu controlar, por enquanto, foi a debandada do governo. O novo presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), fez um apelo aos quatro ministros que não entreguem seus cargos por enquanto.

Áudio da conversa entre Temer e Joesley Batista

O PSDB, assim como fez em relação ao impeachment de Dilma, quer avaliar o tamanho do estrago a partir das reações das ruas. Pragmático e moderado, Tasso afirmou, em nota, que o país vive uma "crise econômica sem precedentes” e pediu que os ministros fiquem no governo até que o conteúdo da delação de Joesley seja conhecido e avaliado.

Nesta sexta-feira, constava na agenda de Temer um encontro com o ministro Raul Jungmann, da Defesa. O partido de Jungmann, PPS, rompeu com o governo, mas ele permanece no cargo, a pedido de Temer. O presidente deve fazer esse périplo de convencimento com todos os seus ministros.

O Palácio do Planalto ainda não confirmou oficialmente qual será a estratégia do presidente na Justiça, mas, sendo do meio jurídico (Temer é constitucionalista, ex-procurador), acredita-se que o presidente tomará medidas legais contra Joesley Batista.

O criminalista Antonio Mariz de Oliveira, amigo de Temer e que inclusive chegou a ser um dos sondados para ocupar o Ministério da Justiça do peemedebista, deve ser contratado pelo presidente. O Supremo abriu inquérito para investigar o presidente Temer, uma decisão acatada pelo ministro Luiz Edson Fachin, relator da Operação Lava Jato no tribunal.

No pedido de abertura de inquérito fundamentado pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pede-se a apuração pelo envolvimento do presidente em três crimes: corrupção passiva, organização criminosa e obstrução à justiça.

Outra frente de ação é questionar o áudio em si. Em seu pronunciamento, o presidente chamou a gravação de "clandestina”. Nesta sexta-feira, o ministro Fachin esclareceu que a gravação foi feita com a anuência da Justiça sendo, portanto, legal. Temer poderá pedir perícias nos áudios e vídeos. O governo acredita que pode ter havido algum tipo de edição. A DW pediu informações à Presidência da República sobre quais procedimentos legais o presidente tomará, mas até o momento nenhuma informação oficial foi divulgada.