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20 anos de unidade alemã

17 de novembro de 2010

Fernando Alves, Filipe Ferrari Tomé e Daniele Haak escreveram os textos em português que venceram o concurso sobre a queda do Muro de Berlim. A todos os participantes, nossos agradecimentos. Leia os textos premiados.

https://p.dw.com/p/QC6v
Foto: AP

1º lugar

Em outubro de 1989, com 24 anos, eu fazia a primeira de muitas visitas à Alemanha. Sem falar alemão muito bem (situação que não mudou em 20 anos...), eu perambulava pelas ruas de Aachen, Bonn, Colônia, entusiasmado com tanta história e tanta arte – eu, poeta e escritor, não via a hora de chegar de volta ao apartamento de meu querido amigo alemão, Heiko, e contar as novidades que vira.

Um belo dia, comecei a observar um movimento nervoso nas ruas – pessoas correndo, gente chorando, estranhos se abraçando. Pensei em tentar encontrar Heiko na Universidade de Aachen (ele era então estudante), mas logo vi que seria inútil. Voltei para o apartamento e soube que as aulas haviam sido suspensas... o Muro de Berlim caía!

Heiko e eu não hesitamos: demos um jeito de encontrar lugar no primeiro trem noturno para Berlim e lá fomos. Foi a primeira vez que vi neve em minha vida, ao desembarcar na estação Zoo. Minutos depois, eu martelava com vontade o muro, perto do Reichstag, com um martelo que passava de mão em mão, vindo sei lá de onde... do céu, talvez?

As lágrimas do Heiko (engenheiros não choram facilmente...) disseram-me muito, ensinaram-me muito mais do que eu poderia aprender naquele dia visitando qualquer museu. Agradeci ao papai do céu por me colocar na Alemanha exatamente naquele tempo.

Até hoje, quando conto esse dia em Berlim (Heiko e eu voltamos para casa na noite seguinte, pois não havia onde dormir!), as lágrimas me vêm naturalmente. Um poema que escrevi talvez valha mais do que tudo que escrevi aqui. Chama-se "Pela Porta de Brandemburgo":

Havia cavalinhos escondidos.

Onde a bilheteria?

Onde a lona do circo?

Havia dois picadeiros.

Artistas do Oriente?

Onde o urso amestrado?

Bandeiras tremulavam.

Quando saltariam os trapezistas?

Quando ririam os palhaços?

A pantomina crispava as peles.

E todos choravam

Sob o hiato azulado

Do céu roto de Berlim.

Autor: Fernando Alves

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2º lugar

Quando o muro caiu e a Alemanha se reunificou eu ainda era bem jovem. Minha mãe me conta que, quando assistimos às boas notícias na televisão, eu me levantei e disse: "agora que o 'tio' soldado cansou de brigar, ele vai ajudar a reconstruir né?".

Eu não sabia ainda a profundidade do que estava dizendo, mas hoje vejo o significado histórico daquele momento que testemunhei ao vivo – era o início do fim de uma era de enormes tensões internacionais e de divisão política irremediável. Nesses últimos 20 anos, o mundo mudou mais que poderíamos esperar à época. E no centro de uma Europa mais unida que jamais esteve em sua história, está uma nação cuja própria união simboliza e reflete a pacificação da Europa – um sonho distante durante muitos séculos, que agora se realiza.

Encanta-me que nossos desafios tenham mudado de ‘evitar um inverno nuclear’, algo fundamentado em gerenciar conflitos e disputas ideológicas aparentemente sem solução, para ‘cooperar para proteger nosso meio ambiente’, em cujo cerne encontra-se a busca pelo entendimento e por trabalharmos juntos por algo maior que cada um de nós.

Não quero dizer que seja mais fácil ou que se trate de uma tarefa mais agradável. Vai ser difícil e vai demorar. Mas quando podemos nos inspirar no exemplo dos povos alemães e seus vizinhos europeus e no sonho realizado de uma União Europeia, eu acredito sinceramente que vale a pena.
Autor: Filipe Ferrari Tomé

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3º lugar

20 de Reunificação Alemã: Espelho para o Mundo

Em 3 de outubro de 1990, eu tinha apenas dois anos e não poderia imaginar a grandiosidade das mudanças que ocorriam na Alemanha naquele momento. Hoje, vinte anos após, esta data me traz lembranças do que não vivi. Desde que entendi, nos livros de história, o que foi a Guerra Fria e a Reunificação Alemã, a data de 3 de outubro passou a fazer parte do meu calendário particular de "datas festivas".

Mesmo no Brasil, onde atualmente curso Direito, ao aproximar a data, comento que o "dia da Unidade Alemã está chegando" e, para aqueles que não sabem ou lembram vagamente do que esta data significa, conto a eles a história do povo alemão – que já em 1989, com a queda do Muro, realmente emanou seu poder.

Falo com orgulho, como se esta História eu tivesse ajudado a construir, este orgulho é em parte relacionado à minha origem alemã, pois herdei na descendência alemã traços físicos e princípios que se destacam na minha personalidade brasileira.

Em síntese, o que passo nesta transmissão de conhecimento é que as ações do povo alemão em 1989 e 1990 resultaram 20 anos após, numa Alemanha pujante, na qual o mundo se espelha. Um país que olha o desenvolvimento em todas as suas dimensões – como por exemplo a economia que não esquece a sustentabilidade ambiental e nem o desenvolvimento social.

O povo, juntamente com a política de desenvolvimento implantada pelo governo, são os maiores merecedores dos créditos pela Alemanha de hoje, que incrivelmente não só se reconstruiu em 20 anos, mas se tornou o país que todos os outros países querem ser "quando crescerem".

Autora: Daniele Haak