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Theresa May: 100 dias de governo com desafios à vista

Samira Shackle, de Londres pv
21 de outubro de 2016

A nova premiê britânica rompeu drasticamente com a agenda política de seu antecessor, enfrentando pouca oposição. Mas sua tarefa mais complicada ainda está por vir: a negociação do Brexit com a União Europeia.

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Primeira-ministra do Reino Unido, Theresa May
Primeira-ministra do Reino Unido, Theresa May: primeiros 100 dias foram fáceisFoto: picture-alliance/dpa/A. Rain

Quando Theresa May se tornou primeira-ministra do Reino Unido, em meados de julho, ela assumiu o comando de um conturbado Partido Conservador, abalado pelo resultado do referendo sobre a saída britânica da União Europeia (UE). As feridas da campanha expuseram falhas profundas dentro do grupo político, que há tempos estava dividido nas questões europeias.

May completou agora 100 dias como chefe do governo britânico tendo realizado rupturas significativas em relação à agenda de seu antecessor, David Cameron. "Houve um desmantelamento drástico da agenda política e da filosofia de Cameron", aponta Oliver Patel, pesquisador do Instituto Europeu do University College London (UCL).

"Na eleição geral de 2015, os conservadores foram eleitos com um mandato específico. A votação do Brexit tem sido usada como um mandato que desvia completamente desse curso, embora o referendo tenha sido sobre a UE. Isso não é necessariamente o que deve ocorrer numa democracia."

Contudo, graças à desordem no Partido Trabalhista, que passou grande parte dos últimos três meses envolvido na eleição de sua própria liderança, May tem enfrentado uma oposição relativamente branda.

"A principal força dela está, na verdade, fora de seu controle, e é a oposição. May tem sido mais favorecida por uma oposição fraca do que qualquer outro premiê de que eu saiba", analisa o professor de história Matthew Cole, da Universidade de Birmingham. "Ela pode se dar ao luxo de ter problemas e de cometer erros, pois, como as coisas estão, há pouca chance de a oposição conseguir capitalizá-los."

Divisões internas

Ministro do Exterior britânico, Boris Johnson
Nomeação de ex-prefeito de Londres Boris Johnson como novo ministro do Exterior gerou incredubilidadeFoto: Reuters/T. Melville

Na primeira remodelação do gabinete por May, o então chanceler da Fazenda George Osborne e o rival derrotado na disputa pela liderança partidária Michael Gove foram afastados. Philip Hammond assumiu a pasta das Finanças, enquanto, numa nomeação que causou espanto em alguns setores da sociedade britânica, o histriônico ex-prefeito de Londres Boris Johnson se tornou ministro do Exterior.

"Foi uma mudança drástica, que indicou uma determinação em deixar a era Cameron para trás, mas é claro que quanto mais drásticas são as mudanças no gabinete mais decepcionados os colegas ficarão", diz Cole.

"Pelo menos 17 que saíram contra a vontade. E ela tem uma maioria parlamentar de apenas 12 deputados, o que significa que precisa decepcionar apenas um pequeno número de deputados para se encontrar em grande dificuldade. Já estamos vendo políticos como Osborne criticarem sua abordagem."

Theresa May tem sublinhado que não quer que a Europa seja a característica definidora de seu governo. No entanto, com todos os seus esforços, sua nova agenda política não parece estar tendo ressonância junto aos eleitores comuns.

"Ela tem enfrentado problemas em propagar qualquer mensagem que não tenha a ver com o Brexit. Realmente não sei dizer o que mais ela tem feito", critica o consultor Alex Lawrence-Archer, de Bristol. "Também é interessante como ela se manteve entusiástica, depois de ter sido 'castigada' pelos mercados com a queda da libra. Isso a faz parecer perigosa ou tola – possivelmente ambos."

"Brexit significa Brexit"

Bandeiras do Reino Unido e da UE
Reino Unido e UE: separação penosaFoto: picture-alliance/empics/T. Melville

Por maior que seja a vontade de May de traçar uma agenda dissociada da relação do Reino Unido com a UE, a maior questão enfrentada por seu governo é, obviamente, como implementar o resultado do referendo do Brexit. Quando indagada, May, que votou pela permanência britânica na UE, tem repetido o mantra "Brexit significa Brexit".

Na convenção do Partido Conservador, ela anunciou que o Artigo 50 do Tratado de Lisboa (cláusula que permite a saída de um país do bloco europeu) seria acionado até o fim de março de 2017. Seu discurso indicou um "Brexit duro", com ruptura radical em relação à UE, incluindo o acesso ao mercado único.

Muitos cidadãos do Reino Unido estão frustrados com a falta de clareza sobre o que está por vir. "Não tem tido nenhum tipo de articulação sobre que tipo de país desejamos, além de um punhado de consultas intermináveis sobre o que queremos", comenta Will McCullum, morador de Reading.

Especialistas afirmam que o trabalho realmente difícil virá quando as negociações começarem a sério. "As coisas têm sido relativamente fáceis até agora, porque não aconteceu muita coisa", disse Oliver Patel, do UCL. "Ainda não tivemos qualquer indicação do governo sobre sua postura de negociação. Assim que essas decisões estejam tomadas e as negociações começarem, as coisas ficarão muito difíceis."

A premiê Theresa May terá de encontrar um equilíbrio entre as exigências de controle da imigração com a ansiedade quanto às implicações econômicas da saída do bloco europeu. "Quando essas decisões vierem, a apresentação delas e a gestão do partido se tornarão importantes", prevê Cole. "No momento, May está gerindo as expectativas, no futuro ela estará gerindo o próprio partido."