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Tropa de paz e cargos ameaçam polêmica em Bonn

Roselaine Wandscheer28 de novembro de 2001

A conferência para reordenação política do Afeganistão tem expectativa de encerrar domingo.

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Yunis Qanuni, ministro do Interior da Aliança do NorteFoto: AP

Pela primeira vez, a Aliança do Norte sinalizou com a possibilidade de aceitar tropas paz no Afeganistão. No segundo dia da conferência, em Bonn, sobre os rumos políticos afegãos, o representante da Aliança do Norte, Yunis Qanuni, salientou que uma força multinacional de paz deveria integrar um amplo plano de paz a ser negociado em Cabul.

As Nações Unidas insistem na presença militar internacional para evitar novos conflitos na era pós-talibã. As demais delegações presentes à conferência no palácio de Petersberg, no oeste alemão, sinalizaram aceitar o estacionamento de tropas estrangeiras, com restrições. Um delegado do Grupo Peshavar citou a possibilidade de enviar soldados de países muçulmanos neutros, como Marrocos, Bangladesh e Malásia.

Foi decidida em Bonn a proclamação de um Conselho Superior para o Afeganistão. Este grêmio teria até 20 membros e exerceria funções semelhantes às de um governo de transição, de três a seis meses. A distribuição dos principais cargos políticos deverá ser outra questão polêmica na conferência. Por outro lado, fontes diplomáticas destacaram que há consenso geral sobre o papel de integração do ex-rei Mohammed Sahir Schah.

Em março ou abril do próximo ano, seria composta a tradicional Loya Jirga (Grande Conselho), uma assembléia com representantes de todas as etnias. Esta decisão ratifica um acordo de outubro último, entre o ex-rei do Afeganistão, Mohammad Zahir Shah, e representantes da Aliança do Norte. Com o apoio dos Estados Unidos, eles haviam chegado a um acordo para expulsar o regime talibã do poder e a constituição do conselho supremo de líderes afegãos.

O Grande Conselho nomearia um governo de transição, que teria dois anos para elaborar uma constituição democrática e preparar o caminho para eleições livres. A última eleição democrática no Afeganistão aconteceu em 1973. Há fortes chances de encerrar a conferência no próximo domingo, devido à disposição pelo consenso demonstrada pelos representantes dos quatro principais grupos afegãos.

Os participantes da conferência:

  • Aliança do Norte é apoiada pelas etnias tadjique, usbeque e hazará, mas odiada pelos pachtuns - que formam o maior contingente da população -, devido às crueldades que cometeu na guerra civil. O líder da delegação é Yunis Qanuni, ministro do Interior da Aliança.
  • Outra delegação representa o ex-rei Zahir Shah, de 87 anos, derrubado em 1973 e que vive exilado em Roma. O ex-rei, de origem pashtun, é um elemento de integração no país. A delegação, pró-ocidental, é liderada Abdul Sattar Sirat, que defende uma tropa internacional de paz para o Afeganistão.
  • Já o Grupo Peshavar é liderado pelo também pashtun Sayed Hamed Gailani, também apoiado pelo ex-rei e pelo Paquistão. Cerca de 40% dos afegãos são pashtuns.
  • Por seu lado, a delegação da Iniciativa Chipre representa cem exilados políticos afegãos, de oposição ao ex-rei. O grupo tem ligações com o Irã e é liderado por Humajun Dscharir, ex-ministro do Exterior. Dscharir é genro do guerrilheiro fundamentalista islâmico e ex-chefe de governo Gulbuddin Hekmatjar. Este vive exilado no Irã e foi responsável pela destruição de Cabul na guerra civil entre 1992 e 1996.

Os talibãs não têm representantes na conferência.