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Trump defende seu discurso antes de ataque ao Congresso

12 de janeiro de 2021

Após dias em silêncio, presidente rejeita responsabilidade sobre a invasão violenta ao Capitólio e chama de correta a fala em que instigou seus apoiadores a marcharem até o Congresso e demonstrarem "força".

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O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, fala com repórteres antes de embarcar em avião
Ao embarcar para o Texas nesta terça-feira, Trump fez sua primeira aparição pública desde a invasão do prédio do CongressoFoto: Alex Brandon/AP/picture alliance

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, rejeitou nesta terça-feira (12/01) qualquer responsabilidade sobre o ataque ao Capitólio perpetrado por seus apoiadores na semana passada, e afirmou que seu discurso antes da invasão foi correto.

"Se você ler meu discurso, [...] pessoas pensaram que o que eu disse foi totalmente apropriado", afirmou Trump a repórteres, enquanto deixava a Casa Branca para uma visita ao Texas, onde ele vai inspecionar a construção de uma parte do muro na fronteira com o México.

Essa foi a primeira aparição pública do presidente desde que seus apoiadores invadiram com violência o prédio do Congresso americano em 6 de janeiro. Ação deixou ao menos cinco mortos e várias dezenas de feridos, incluindo ao menos 60 policiais. As cenas da multidão invadindo e vandalizando o prédio causaram uma onda internacional de repúdio. Dezenas de pessoas foram presas após o ataque, que contou com a participação explicita de neonazistas e supremacistas brancos.

Em um discurso a apoiadores em Washington no dia da invasão, Trump repetiu suas alegações infundadas de que houve fraude nas eleições presidenciais de novembro, das quais ele saiu derrotado, e instigou seus apoiadores a marcharem até a sede do Congresso, que naquele momento realizava uma sessão para certificar a vitória do democrata Joe Biden no pleito.

O ataque acabou interrompendo a sessão e forçou parlamentares de ambos os partidos e também o vice-presidente Mike Pence, que presidia a sessão, a se esconderem. A reunião só foi retomada horas mais tarde, após o prédio ser liberado, e confirmou Biden como vencedor da eleição.

"Vamos caminhar até o Capitólio, e vamos apoiar nossos corajosos senadores, senadoras e congressistas – e provavelmente não vamos apoiar tanto alguns deles –, porque você nunca vai tomar de volta nosso país com fraqueza. Você tem que mostrar força, e tem que ser forte", afirmou Trump em 6 de janeiro, a uma multidão de vários milhares de apoiadores.

O presidente disse ainda que Pence deveria ter "a coragem de fazer o que ele tem que fazer", alegando sem fundamentos que o vice-presidente, como líder da sessão, teria o poder constitucional de invalidar os votos do Colégio Eleitoral que estavam sendo formalmente contados no plenário do Congresso naquele dia.

"Eu sei que todos aqui logo estarão marchando em direção ao prédio do Capitólio para fazer, de forma pacífica e patriótica, com que suas vozes sejam ouvidas", acrescentou Trump.

"Vocês são muito especiais"

Com os invasores ainda no prédio e os parlamentares escondidos em locais seguros, o presidente divulgou um vídeo – a pedido de assessores dele chocados com a violência – sugerindo que seus apoiadores voltassem para casa, mas reforçando as alegações de fraude e minimizando o ocorrido no Capitólio.

"Eu conheço a sua dor. Sei que vocês estão machucados. Tivemos uma eleição que foi roubada de nós. [...] Mas vocês precisam ir para casa agora. Precisamos ter paz. Precisamos ter respeito à lei e ordem", afirmou Trump na ocasião. "Amamos vocês, vocês são muito especiais", acrescentou, sem condenar o ato violento, como fizeram Pence e Biden mais tarde.

Trump depois se manifestou no Twitter, de maneira a parecer defender a iniciativa dos invasores. "Há coisas e eventos que acontecem quando uma vitória eleitoral esmagadora e sagrada é retirada sem cerimônia e cruelmente de grandes patriotas, que vêm sendo tratados de forma má e injusta por tanto tempo. Vão para casa com amor e em paz. Lembrem-se deste dia para sempre!", escreveu.

Desde a invasão, dezenas de pessoas já foram detidas no país em conexão com o ataque, incluindo o filho de um juiz de Nova York, Aaron Mostofsky, de 34 anos, preso nesta terça-feira.

Impeachment

Pelo discurso de Trump inflamando seus apoiadores em 6 de janeiro, a oposição democrata na Câmara dos Representantes iniciou na segunda-feira os trâmites para um histórico segundo processo de impeachment contra o republicano, a poucos dias de ele deixar o cargo.

O texto acusa o presidente de "incitação a ressurreição" e afirma que, ao insuflar seus seguidores, Trump "pôs em grave perigo a segurança dos Estados Unidos e suas instituições de governo".

A resolução deverá ser votada na Câmara já nesta quarta-feira. Se os deputados aprovarem a abertura do processo, Trump será o primeiro presidente americano a sofrer dois impeachments na Casa. No ano passado, a Câmara aprovou o impedimento do presidente por abuso de poder e obstrução do Congresso, mas ele foi absolvido em julgamento posterior no Senado.

Nesta terça-feira, Trump tachou de "absolutamente ridícula" a tentativa dos democratas de tirá-lo do cargo por meio de um impeachment. Segundo ele, é "uma continuação da maior caça às bruxas da história da política". O presidente também alertou que a iniciativa da oposição está gerando "uma raiva tremenda".

A cerimônia de posse de Biden está marcada para o próximo dia 20 de janeiro, evento ao qual Trump, quebrando uma tradição histórica, já anunciou que não comparecerá. Temendo confrontos violentos, as autoridades americanas ordenaram o aumento das medidas de segurança.

EK/afp/ap/efe/rtr/ots