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Turcos no exterior ajudam na vitória de Erdogan

Teri Schultz md
18 de abril de 2017

Bélgica e Áustria foram os países na Europa com maior média de turcos favoráveis a mudar a Constituição do país e conferir mais poderes ao presidente.

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Belgien Türkei-Referendum | Erdogan-Anhänger feiern in Brüssel
Partidários de Erdogan comemoram em Bruxelas vitória do "sim" em referendo turcoFoto: picture alliance/abaca/D. Aydemir

Eleitores turcos no exterior foram às ruas para celebrar o "sim" no referendo que aprovou mudanças constitucionais para dar mais poder ao presidente turco, Recep Tayyip Erdogan.

Enquanto apenas 51,3% dos turcos residentes na Turquia querem mais autocracia, aqueles que vivem fora das limitações políticas impostas em seu país de origem são mais entusiasmados com a ideia.

Observadores da Organização para Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) lançam dúvidas sobre se a votação de domingo correspondeu aos padrões internacionais, mas o voto dos turcos que vivem no exterior parece mostrar divisões claras.

De acordo com dados publicados pela emissora turca TRT World, a Bélgica foi o país na Europa com maior média de turcos favoráveis à proposta, com quase 80%. A Áustria vem em seguida, com mais de 72% a favor, e o resultado na Holanda – onde o governo entrou em confronto com Erdogan no mês passado, ao proibir comícios pró-governo – não fica muito atrás, com quase 70% para o "sim".

Mas este fervor pelo autoritarismo em Ancara pode ter um preço elevado para os belgas de ascendência turca, que atualmente podem manter a dupla cidadania e votar em ambos os países. Quando o enorme apoio a Erdogan apareceu nas pesquisas, o parlamentar conservador belga Hendrik Bogaert disse à emissora belga VRT ser a favor da proibição da dupla cidadania.

"Nós aprendemos algumas coisas durante a campanha eleitoral (turca)", disse Bogaert. "Acordamos hoje com um regime autocrático ali ao lado. Não podemos simplesmente fingir que nada aconteceu."

Dupla cidadania

Bogaert diz que a dupla cidadania "não é boa para a integração" e que isso leva os belgas de outras etnias a estarem "mais envolvidos na política externa do que na política belga". Por isso, ele propõe acabar com o direito à dupla nacionalidade para quem vier de fora da UE.

Respondendo a essa proposta pelo Twitter, o secretário de Estado belga para o Asilo e Migração, Theo Francken, concordou com Bogaert, afirmando que os membros da UE têm o pleno direito de rejeitar a dupla cidadania. "Vamos fazer isso", tuitou Francken, em inglês.

Turcos que buscam asilo político na Bélgica, devido aos expurgos no setor público e militar promovidos por Erdogan, viram os resultados do referendo com preocupações diferentes. Para eles, que são perseguidos em Ancara por supostos laços com a tentativa de golpe de julho do ano passado, isso significa que haverá ainda menos chance de que possam um dia voltar para casa, com um regime autoritário mais firmemente cimentado.

Seguidores de Erdogan empunham bandeiras em Bruxelas
Eleitores de Erdogan em Bruxelas: 77,9% dos turcos belgas votaram pelo "sim"Foto: picture alliance/abaca/D. Aydemir

"Situação triste"

Um ex-oficial militar da Otan – ele mesmo um perseguido político na Turquia e que deseja permanecer no anonimato para sua própria segurança – avalia que a "situação dos turcos na Bélgica é ainda mais triste",

"Essas pessoas foram educadas na Bélgica! Se elas ainda votam em um ditador, a Bélgica é que deveria começar a questionar suas políticas", afirma.

Ele, entretanto, se opõe à proposta belga de impedir a dupla cidadania. "Ninguém pode ser punido por seus pensamentos ou preferências políticas", diz. O ex-oficial da Otan pede que os governos europeus sejam cautelosos.

"O apoio para Erdogan na Europa é resultado do fracasso da política de integração e do baixo nível de educação", diz ele. "Portanto, os países deveriam rever suas políticas, para permitir uma melhor integração e uma melhora dos níveis de educação", argumenta. "O debate sobre a dupla cidadania deveria ser visto dessa perspectiva, e deve ser usado como instrumento de uma melhor integração em vez de punição."