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Turquia e Rússia trocam acusações em meio à tensão na Síria

15 de fevereiro de 2020

Ambas buscam fortalecer domínio territorial no norte sírio, em meio a ofensiva das tropas de Assad na região de Idlib, último bastião das facções islâmicas rebeldes apoiadas militarmente por Ancara.

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Veículos militares turcos em território sírio, na região de Idlib
Veículos militares turcos em território sírio, na região de IdlibFoto: Getty Images/AFP/A. Tammawi

Rússia e Síria, de um lado, e a Turquia, do outro, continuaram trocando acusações neste sábado (15/02), em meio aos temores de um acirramento da já grave situação na região de Idlib, no noroeste da Síria. Cerca de 700 mil pessoas já fugiram deste que é o último reduto das facções islâmicas que lutam contra o regime do presidente Bashar al-Assad.

A Turquia declarou que, ao contrário do que afirma a Rússia, cumpre com os compromissos assumidos no acordo de Sochi, se referindo ao pacto assinado em 2018, que visa reduzir a tensão na região de Idlib. O governo turco, que apoia milícias rebedes opositoras no país vizinho, mantém 12 postos de observação militar em Idlib.

O Kremlin acusara a Turquia de não respeitar o acordo de Sochi e de não fazer nada para "neutralizar os terroristas" na região de Idlib. Segundo o governo russo, a Turquia tem "a obrigação de neutralizar os grupos terroristas", mas "esses grupos bombardeiam as tropas sírias e realizam ações agressivas contra instalações militares russas".

Na próxima segunda-feira, uma delegação turca irá a Moscou para debater a situação em Idlib, afirmou o ministro turco do Exterior,  Mevlut Cavusoglu.

Na quarta-feira, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, ameaçou o regime em Damasco. "Declaro que se for produzido um ataque contra nossos soldados, por menor que seja, atacaremos em todas as partes, mesmo fora das fronteiras do acordo de Sochi", afirmou. A declaração foi dada após 14 militares turcos morrerem em bombardeios do Exército sírio em Idlib, na semana anterior, em meio a uma ofensiva das forças de Assad.

"Atuaremos segundo a situação do terreno. Estamos decididos a retirar o Exército sírio de nossos pontos de observação até o fim de fevereiro. Por isso, estamos reforçando nossas forças em Idlib nos últimos dias. Não vamos tolerar nenhuma provocação", garantiu Erdogan.

O governo de Assad reagiu logo em seguida e acusou Erdogan de estar "desligado da realidade" após as suas ameaças. "O chefe do regime turco produziu declarações vazias e ignóbeis que apenas podem vir de uma pessoa desligada da realidade", afirmou um diplomata do Ministério do Exterior sírio.

Nas últimas semanas, a Turquia enviou várias unidades militares para a região de Idlib. Mas parece pouco provável que Erdogan queira mesmo arriscar um confronto direto com forças sírias, pois isso poderia resultar facilmente num confronto com as tropas russas, que apoiam Assad.

Nem a Rússia e nem a Turquia estão dispostas a recuar, seja politicamente, seja dos territórios que controlam na região de Idlib, comenta o especialista Tobias Schneider, do Global Public Policy Institute (GPPI), de Berlim. "O que pode ocorrer é um conflito pontual, como em 2015, quando os turcos abateram um jato russo. Aí veríamos quem recua primeiro."

Os objetivos dos dois lados são tão ambiciosos quanto são grandes os temores de ambos de um confronto. A Turquia busca controlar não apenas os territórios hoje sob domínio dos curdos, no nordeste da Síria, como também outros mais ao sul. Tudo indica que Erdogan parte do princípio de que Assad não conseguirá retomar o controle sobre todo o território da Síria.

Se conseguir alcançar seus objetivos, Erdogan terá também comprovado que a Turquia é uma potência que impõe seus interesses, se necessário também por meios militares.

Para Schneider, a ofensiva turca é um freio nas ambições de Assad e do presidente russo, Vladimir Putin, de recuperar o domínio sobre a totalidade do território sírio e, se for bem-sucedida, pode dar à Turquia uma posição melhor nas negociações sobre o futuro do país vizinho.

AS/dw/lusa/rtr

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