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Um alemão contra a Alemanha

Marcio Weichert10 de junho de 2002

Para classificar sua equipe, técnico alemão Winfried Schäfer, de Camarões, precisa impor à Seleção Alemã uma inédita eliminação na primeira fase de um mundial. Motivos, ele tem de sobra.

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Com seu trabalho desacreditado na Alemanha, Schäfer foi trabalhar em CamarõesFoto: AP

Na Alemanha, Winfried Schäfer tornou-se o principal assunto às vésperas do duelo entre o selecionado nacional e o de Camarões, nesta terça-feira, em Shizuoka (Japão). A imprensa alemã – especialmente os jornais sensacionalistas – explora à exaustão a possibilidade de um time treinado justamente por um alemão levar a Alemanha a seu maior fracasso numa Copa do Mundo, ou seja, não passar pela primeira vez da primeira fase.

Todos os grandes veículos da mídia alemã tentam entrevistas exclusivas com o candidato a carrasco. Para aqueles que se questionam como pode um alemão querer impor um vexame a seu próprio país, Schäfer responde: "Desde setembro de 2001 sou um leão camaronês. E eu quero voar para a Coréia do Sul com minha equipe. Assim, não posso levar em consideração minha terra natal. Camarões me deu a chance de ter novamente prazer em meu trabalho, o que eu havia perdido na Alemanha. Agora, quero retribuir ao povo camaronês", declarou o treinador à agência alemã de notícias DPA.

Desprezado na Alemanha

– À concorrente SID, especializada em esportes, Schäfer insistiu na tecla: "Na Alemanha, me tiraram a dignidade." Ao Bild, o jornal de maior circulação do país, o técnico enfatizou: "Não vou cantar o hino alemão, mas o camaronês." Considerado, igualmente um "leão" – não por ser africano como seus jogadores, mas por sua longa cabeleira –, o técnico teve no Stuttgart e no Tennis Borussia de Berlim seus últimos empregos na Alemanha. Foi demitido de ambos após pouco tempo de trabalho. Seus métodos e táticas são considerados ultrapassados.

"Não vou ficar nada satisfeito, se formos eliminados logo pelo Winnie", admite Gerhard Mayer-Vorfelder, que como presidente do Stuttgart pôs o treinador na rua após apenas cinco meses de contrato. Hoje, o ex-patrão é presidente da Federação Alemã de Futebol (DFB), de modo que derrotar a Seleção Alemã terá para Schäfer também um certo sabor de vingança pessoal. "A Alemanha tratou meu marido muito mal", reforça a esposa Angelika.

Sem alternativa

– O candidato a traidor da pátria confessa, porém, que jamais desejou chegar à terceira rodada do mundial nesta situação. "É uma sensação estranha. Eu gostaria muito de ter evitado o caráter decisivo deste jogo. Eu preferia que ambos tivéssemos feito o dever de casa nas primeiras partidas. Mas agora não tenho escapatória. Preciso e quero vencer da Alemanha para continuar na Copa. Só isto conta agora."

O técnico de 52 anos ainda sonha com uma vitória da Arábia Saudita sobre a Irlanda, o que classificaria tanto a Alemanha como Camarões, independente do resultado da partida entre os dois. No entanto, Schäfer não leva fé nesta hipótese. Para ele, "a Irlanda é a melhor equipe do grupo". E a Alemanha, o favorito contra sua equipe. "Mas se nós encontrarmos nosso jogo, tudo será possível", ressalva.

Expectativa

– Ao justificar a diferença de placares com que Alemanha (8x0) e Camarões (1x0) derrotaram a Arábia Saudita, Schäfer considera ter sido decisivo os alemães terem aberto logo o placar, o que desmobilizou o adversário. "Nós precisamos de muito tempo, o que permitiu que os sauditas crescessem no jogo", comparou o treinador, que à frente do Karlsruhe SC revelou para o futebol alemão o goleiro Kahn, o zagueiro Novotny e o armador Scholl. Por problemas de contusão, os dois últimos não estão porém na Copa.

Schäfer sabe da importância da classificação para Camarões, um país com povo fanático por futebol. "Tanto faz se contra Alemanha, Áustria ou quem a gente jogue, cada vitória, cada gol é comemorado. Durante o jogo, não se trabalha. Nem mesmo o presidente", observa o treinador, cuja contratação indignou os mais nacionalistas, pois o país africano já foi colônia alemã. Ou seja, para os africanos vencer a ex-metrópole é também uma questão de honra. E, para Schäfer, o rótulo de traidor, inevitável. Só falta saber quem o irá chamá-lo assim.