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Um debate sem novidades

(lk / sv)4 de setembro de 2005

Combativos, os dois candidatos a chefe de governo mal deixaram espaço para os quatro apresentadores de TV que comandavam o programa, mas não revelaram nada de novo em seus argumentos.

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Debate: confronto direto entre Merkel e SchröderFoto: AP

A tensão reinante no estúdio, perceptível também para quem estava diante da telinha, desfez-se depois de alguns minutos. Os candidatos voltavam-se um para o outro, ao apresentar seus argumentos, em tom combativo mas não agressivo, interrompendo-se às vezes mutuamente, retomando idéias sem perder o fio da meada e deixando pouco espaço para os quatro apresentadores. Estes conseguiram apenas determinar por meio de perguntas espaçadas o rumo do debate, que girou boa parte do tempo em torno das questões de trabalho e da política tributária.

Wahl Fernsehduell Merkel - Schröder
Os apresentadores Peter Klöppel (RTL), Maybrit Illner (ZDF), Sabine Christiansen (ARD) e Thomas Kausch (Sat.1) – (da esq. para a dir.)Foto: AP

Quanto ao conteúdo, nem Gerhard Schröder nem sua desafiante, Angela Merkel, apresentaram nada de novo, desfilando retórica típica de campanha eleitoral. O premiê relembrou até o não à guerra do Iraque, enquanto candidata da oposição insistiu nos fracassos da política econômica do atual governo.

Schröder vence, Merkel surpreende

As primeiras pesquisas de opinião realizadas após a transmissão do debate apontam para uma vitória de Schröder por pontos nos quesitos confiabilidade e simpatia. Já Merkel está à frente do chanceler federal quando se trata de competência para resolver os problemas do mercado de trabalho, mas sem convencer realmente o eleitorado: 52% dos entrevistados declararam não confiar em nenhum dos dois neste ponto.

Com sua performance, o chefe de governo – há muito considerado mestre no domínio do jogo com as câmeras e que, por isso era visto como favorito – confirmou as expectativas de 67% dos entrevistados pós-debate. A candidata democrata-cristã, da qual apenas 11% acreditavam ter melhores chances neste debate, surpreendeu 40% dos telespectadores.

Wahl Fernsehduell Merkel - Schröder Live in Fernsehen
Foto: AP

Receio de criticar Bush

Quanto à política externa, Merkel cometeu o erro de se esquivar da pergunta sobre a omissão do governo norte-americano em Nova Orleans. Para ter que ouvir imediatamente depois de Schröder que até o próprio presidente George W. Bush já havia assumido seus erros. Ou seja, que não havia "problemas em criticá-lo", se ele próprio já tinha assumido a mea culpa. Ponto para Schröder. Mesmo que seja num âmbito já tido como “seguro” para os social-democratas e verdes, sob o comando de Joschka Fischer: a política externa.

“Europa com fronteiras claras

Em suas palavras de despedida, o premiê, além de relembrar seu não à guerra do Iraque e pedir “uma nova confiança” dos eleitores, “aconselhou” sua adversária “a não agir como se as eleições já tivessem passado”. Ou seja, não comemorar a vitória antes da hora. A despedida de Merkel, por sua vez, acentuou o alto desemprego e o baixo crescimento econômico dos últimos sete anos de coalizão social-democrata-verde, para encerrar com um sinal em prol de “uma Europa, que conhece claramente suas fronteiras”. Uma forma indireta de se referir a uma Europa que cerra suas fronteiras, principalmente quando o assunto é o ingresso da Turquia.

" televisão"?

Maybrit Illner, uma das jornalistas que participaram do debate, havia finalizado um depoimento anterior ao encontro dos candidatos frente às câmeras com as seguintes palavras: "O debate é importante, mas, no fundo, é só televisão". Embora seja "só televisão", a discussão pública é avaliada não só pelo pelo eleitor na poltrona de casa, mas principalmente pela mídia do país, que disseca cada palavra logo em seguida.

Mesmo que esse debate que os alemães chamam entusiasmadamente de "duelo" seja apontado como uma americanização da campanha eleitoral no país. Americanizado ou não, é certamente um caminho sem volta, pois os alemães não parecem dispostos a deixar de ver seus políticos se debatendo na telinha, quando querem ser eleitos.

Em suma, como especulou o diário berlinense Der Tagesspiegel antes do debate, Schröder conseguiu manter o "balanço entre a jovialidade e o charme”. Já a “polêmica dosada de um estadista" do chanceler federal, na atual conjuntura, nem muita pose e experiência frente às câmeras conseguiria manter.

Afinal, a candidata da oposição tem nas mãos os trunfos do alto desemprego e do parco crescimento econômico. A questão é se um governo da CDU seria capaz de solucionar esses problemas como promete. Daqui a duas semanas, o eleitor decide nas urnas em quem ele prefere acreditar.