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Um prêmio à busca pela democracia

Kersten Knipp (av)9 de outubro de 2015

Portadora inesperada do Nobel da Paz 2015, a associação formada por quatro entidades da sociedade civil exerce papel fundamental não só na Tunísia, mas para o equilíbrio do Oriente Médio e do mundo atual.

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Representantes do Quarteto para o Diálogo Nacional comentam o Nobel da PazFoto: picture-alliance/dpa/C. B. Ibrahim

A escolha do Prêmio Nobel da Paz deste ano fui uma surpresa tanto para os agraciados como para a população tunisiana. Muitos se recusavam a acreditar na notícia, pensando tratar-se de um erro ou de um trote. Contudo, a incredulidade inicial logo deu lugar ao orgulho. Pois é a primeira vez na história que a distinção entregue pela comissão em Oslo vai para aquele país da África do Norte.

Após a retirada do ditador Zine el-Abidine Ben Ali, quatro anos atrás, a ordem democrática nacional ameaçava entrar em colapso. Nesse momento de alta tensão política, quatro diferentes entidades da sociedade civil se uniram para impedir uma guerra civil.

Norwegen Kaci Kullmann Five Bekanntgabe der Friedensnobelpreisträger 2015
Presidente do Comitê do Nobel, Kaci Kullmann Five, anuncia premiação em OsloFoto: Reuters/NTB Scanpix/H. Junge

Elas conseguiram, de fato, convocar as forças políticas inimigas à mesa de negociações, restabelecendo o consenso social. Por essa conquista em nome da democracia, o Quarteto para o Diálogo Nacional receberá o Prêmio Nobel da Paz 2015.

Após a queda do ditador

No poder desde 1987, Ben Ali foi forçado a fugir com a família para a Arábia Saudita, em 14 de janeiro de 2011, após um mês de protestos populares. A queda do ditador, porém, também fez com que o padrão de vida de muitos tunisianos despencasse. Desemprego e inflação cresciam, e aos poucos o país foi caindo na armadilha do endividamento.

Diante de tamanhas vicissitudes econômicas, democracia e direitos humanos deixaram de ser prioridade para parte dos cidadãos, e os atentados terroristas se sucediam. Aparentemente a sociedade não era capaz de chegar a o consenso sobre um modelo político comum.

Essa insegurança também se manifestava na Assembleia Nacional Constituinte de 2011. Seu trabalho progredia penosamente, um primeiro esboço constitucional foi rejeitado por grande parte da população. O país estava profundamente dividido entre os que apostavam numa Constituição secular e os que almejavam uma de fundo islâmico.

A crise ganhou expressão dramática em 2013, em dois atentados políticos. Em fevereiro foi assassinado o jurista e político de esquerda Chokri Belaïd. Em julho Mohamed Brahimi, membro da bancada esquerdista do Parlamento tunisiano, foi vítima de um atentado terrorista.

Em reação, acusou-se o partido no governo, Ennahda, de ter estimulado a violência política no país, com seu curso de islamismo moderado. Exigia-se que o líder partidário Rachid Ghannouchi assumisse a responsabilidade. Foi sob sua liderança que o Ennahda vencera a primeira eleição para a Assembleia Constituinte, e os primeiros-ministros tunisianos de dezembro de 2011 a janeiro de 2014 eram membros da legenda.

Tunesien Friedensnobelpreisträger das tunesische Quartett für den nationalen Dialog
Membros do Quarteto festejam em Túnis adoção da nova Constituição tunisiana em 2014Foto: picture-alliance/AP Photo/A. Zine

União fortemente simbólica

Em meio à situação tão delicada, associaram-se quatro organizações da sociedade civil: a União Geral Tunisiana do Trabalho (UGTT), a organização patronal União Tunisiana da Indústria, Comércio e Artesanato (Utica), a Liga Tunisiana dos Direitos Humanos (LTDH) e o Conselho da Ordem dos Advogados da Tunísia. Sua proposta era promover o diálogo nacional e buscar um consenso político para o futuro de todos os tunisianos.

Quando os integrantes do grupo começaram a se reunir, no terceiro semestre de 2012, o simples fato de eles se encontrarem já foi sentido como um sinal significativo. "É um passo importante para a solução da crise política", comentou na época o historiador tunisiano Habib Kazdaghli. "Ele mostra como é decisivo o espaço que as ONGs ocupam na vida política da Tunísia."

Graças aos esforços do Quarteto para o Diálogo Nacional, sobretudo os grupos esquerdistas, até então mutuamente hostis, se aproximaram para formar uma aliança democrática, a qual passou a constituir um polo de equilíbrio em relação aos fundamentalistas islâmicos e o Ennhada.

Decisão histórica em Oslo

Para o jornalista da DW, Moncef Slimi, natural da Tunísia, a concessão do Nobel da Paz ao grupo é uma decisão de grande peso.

"Esse quarteto desempenhou um papel histórico para que a Tunísia fosse poupada de um destino como o do Egito, em que houve um golpe militar, ou da Líbia, em que a guerra civil domina. Por isso a Tunísia é uma exceção em relação a outros países da 'Primavera Árabe', e um modelo para a região."

Nesse ínterim, o Quarteto para o Diálogo Nacional é representativo da grande maioria da população tunisiana e reconhecido como autoridade moral. Segundo Slimi, o Prêmio Nobel é um incentivo para o país prosseguir na trilha iniciada.

"Na região, a Tunísia está sob pressão. A situação da vizinha Líbia é uma carga. Mas a conjuntura em Egito, Síria e Iêmen igualmente mostra a enorme tensão sob que se encontra o mundo árabe. Por isso, a decisão [do Comitê Nobel] é boa para a Tunísia: ela mostra que o mundo está do lado do país."