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Uma renúncia e a crise da social-democracia alemã

2 de junho de 2019

Andrea Nahles foi a primeira mulher a chefiar o mais antigo partido da Alemanha. Ficou apenas 13 meses no cargo, em meio a sucessivos desastres eleitorais de uma legenda que, à sombra de Merkel, vive crise de identidade.

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Andrea Nahles, líder do Partido Social-Democrata alemão
Andrea Nahles deixará a liderança social-democrata alemãFoto: Imago Images/E. Contini

O Partido Social-Democrata (SPD) alemão já está se acostumando aos resultados ruins. Obteve apenas 15,8% dos votos nas eleições de 26 de maio para o Parlamento Europeu (uma queda de 11 pontos frente ao pleito de 2014); perdeu as eleições em Bremen, após sete décadas no poder no estado; na Baviera, teve apenas um dígito de apoio no pleito estadual, e em Hessen teve números igualmente desastrosos.

Agora o SPD está vivenciando um novo recorde negativo. Depois de apenas 20 meses à frente da bancada da legenda no Parlamento e 13 meses como líder do partido, Andrea Nahles vai deixar ambos os cargos. Só Martin Schulz (11 meses) havia ficado tão pouco tempo no posto. Nahles também vai abrir mão de sua cadeira de deputada.

A força da decisão serve a Andrea Nahles. Ela nunca teve medo ou hesitou. "Quando sou desafiada, fico de olhos abertos", disse, numa entrevista na TV após as eleições europeias. Especialmente na bancada social-democrata no Parlamento já havia um enorme vento contrário a ela. Nahles ainda tentou salvar seu posto. Mas a questão é que muitos parlamentares simplesmente temem perder seu lugar no Parlamento se a derrocada do SPD continuar.

No domingo de manhã, a decisão de Nahles tornou-se pública. "A discussão na bancada e os muitos feedbacks do partido me mostraram que o apoio necessário para o exercício de meus cargos não está mais lá", escreveu Nahles em uma carta a seus companheiros.

Na segunda-feira, ela vai anunciar publicamente, portanto, sua demissão do cargo de presidente do SPD e, na próxima terça-feira, no Parlamento, sua demissão do cargo de chefe da bancada.

Nahles foi a primeira mulher a chegar ao topo do SPD, na história do partido. Em 27 de setembro de 2017, foi eleita líder da bancada social-democrata no Parlamento; meio ano depois, em 22 de abril de 2018, virou presidente do partido. Durante este período de seis meses, convenceu o SPD a aceitar uma nova coalizão com os conservadores das uniões Democrata Cristã e Social Cristã (CDU/CSU), o oposto do que fora planejado após as eleições.

"O SPD foi enviado para a oposição", disse Nahles em setembro de 2017. Como líder oposicionista no Bundestag, ela queria fazer política contra os partidos conservadores. "A partir de amanhã, eles vão levar na cara", bradou em direção a CDU e CSU, rindo em voz alta. Embora Nahles mais tarde tenha se desculpado pela forma de se expressar, na verdade a performance foi bem no estilo dela: impulsiva, desbocada e brigona. E, sim: às vezes um pouco constrangedora.

Houve muitos momentos estridentes nas aparições políticas de Andrea Nahles. No Bundestag, ela começou a cantar durante um discurso, xingou publicamente e usou palavras geralmente não usadas por políticos de alto escalão. Onde Andrea Nahles nasceu e cresceu, ao sul da antiga capital Bonn, no oeste da Alemanha, as pessoas são cruas e emocionais, e via de regra não medem palavras.

Ela queria se tornar chanceler federal alemã ou dona de casa, disse Nahles ao concluir o ensino médio, em 1989. Em outras palavras: fazer uma carreira política ou ficar no vilarejo de Weiler. Nahles tem seu lar na antiga fazenda dos seus bisavós desde que nasceu, em 1970. Divorciada, hoje ela cria o filho sozinha.

Não era necessariamente lógico para Nahles fazer carreira no SPD. Seu pai era pedreiro, "tinha o ombro, joelho e costas quebrados". Isso influenciou a filha, política desde jovem. Em sua pequena cidade natal, cristã-conservadora, aos 18 anos de idade fundou uma associação local do SPD, vista com crítica e cheia de suspeitas por parte dos moradores.

Nahles não se intimidou, seguiu seu caminho político. Não lhe restava muito tempo para os estudos de língua, literatura e política em Bonn. Foram necessários 20 semestres para completar seu mestrado, e sua tese de doutorado ficou inacabada. Aos 25 anos, assumiu a presidência do Jusos, a ala jovem do SPD. Aos 28, entrou para o Parlamento e se mudou para Berlim. Ela aprendeu rapidamente a se articular nos bastidores, e mais tarde esteve envolvida na queda de dois presidentes do SPD.

Como chefe de partido, Nahles queria reformar e governar bem ao mesmo tempo, tirando o SPD de sua profunda crise de identidade e levando-o de volta ao sucesso. Mas o contrário ocorreu, o declínio nas pesquisas continuou, com os social-democratas chegando a obter apenas 14% das intenções de voto em nível nacional. Provavelmente também porque, ao contrário da ideia de Nahles, o SPD não conseguiu desenvolver seu próprio perfil dentro de uma coalizão chefiada por Merkel.

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