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EsporteAlemanha

Union Berlin: o novo número 1 da capital alemã

Gerd Wenzel
Gerd Wenzel
16 de março de 2021

Após décadas de domínio do Hertha, o Union Berlin surge como uma nova estrela nos céus berlinenses. Pequeno clube vem ficando à frente não apenas na tabela da Bundesliga, mas também no quesito simpatia entre o público.

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Jogadores do Union Berlin comemoram gol em partida contra o Hertha, em dezembro de 2020
Jogadores do Union Berlin comemoram gol em partida contra o Hertha, em dezembro de 2020Foto: Odd Andersen/AFP/Getty Images

Durante décadas, o Hertha dominou inconteste o cenário futebolístico em Berlim. Nunca teve um concorrente à altura. Clubes como Tasmânia, Tennis Borussia, Blau-Weiss 90, Alt Glienecke, Berliner AK 07 ou o próprio Union Berlin não chegaram a fazer sombra ao Hertha, considerado até recentemente o único grande clube da capital.

Conhecido como Die alte Dame (A velha senhora), o clube se orgulha de sua centenária tradição – afinal, foi fundado ainda no século 19, em 1892. Ano que vem completará 130 anos de história. Orgulha-se também de mandar os seus jogos no majestoso Estádio Olímpico de Berlim, além de dois solitários títulos de campeão alemão, conquistados nos já longínquos anos 1930.

No frigir dos ovos, o Hertha com seu mascote – o urso Herthinho – reinava absoluto nos corações dos torcedores berlinenses, mas, como nada dura para sempre, a predominância do clube alvi-azul na capital parece mesmo ter chegado ao fim.

A nova estrela que surge nos céus da capital atende pelo nome Union Berlin. Fundado em 1966, durante anos perambulou pelas divisões inferiores, tanto na RDA (antiga Alemanha Oriental) como na Alemanha reunificada, quando finalmente, em 2019, conseguiu subir para a divisão de elite do futebol alemão.

Boa parte dos normalmente céticos berlinenses dava como favas contadas que o modesto clube do sudeste da cidade, cujos torcedores pertencem majoritariamente ao operariado, não iria dar conta de suportar o ambiente altamente competitivo da primeira divisão. Em enquete feita na época pela mídia Kicker, 51% dos mais de 100 mil usuários cravaram que o Union seria rebaixado em seguida.

Para surpresa de muitos, em sua primeira temporada na Bundesliga, o clube não apenas evitou o rebaixamento, mas acabou ficando num honroso 11º lugar na tabela, com a mesma pontuação conquistada pelo Hertha.

Não bastasse isso, na atual temporada, faz uma campanha ainda melhor. Faltando nove rodadas para o fim do campeonato, está em sétimo lugar na tabela, de olho numa vaga para a Liga Europa. Além disso, já nem vê mais o seu arquirrival da cidade no retrovisor porque está simplesmente 17 pontos à sua frente na classificação geral.

O tradicional Hertha, pasmem, está ficando pelo meio do caminho e já se vê envolvido numa luta desgastante contra o rebaixamento. Vai muito mal das pernas, ocupando o 16º posto à beira do desastre rumo à segunda divisão.

Qual é o segredo do Union Berlin?

Há diversos. Um deles é, sem sombra de dúvida, sua política de contratações, que se resume em achar bons jogadores disponíveis a preço baixo ou até que não custem nada, como foi o caso do atacante Max Kruse, que veio de graça e logo se integrou ao time. Ao todo, o clube investiu apenas 2,5 milhões de euros em aquisições de novos jogadores, quantia irrisória para os padrões da Bundesliga. Na sua maioria, trata-se de profissionais que já passaram por muitos clubes sem terem conseguido um bom contrato ou não foram notados pelos olheiros que costumam andar à caça em busca de novos talentos.

O nigeriano Taiwo Awoniyi, de 23 anos, é um exemplo clássico. Desde 2017, ele é emprestado pelo Liverpool a tudo quanto é clube porque Jürgen Klopp não encontra utilidade para um atacante como ele. Awoniyi passou por sete clubes na Europa e agora está no Union Berlin, onde é o vice-artilheiro do time, com cinco gols e três assistências na atual temporada. Talvez fique por lá. 

Enquanto isso, o Hertha gastou aproximadamente 70 milhões de euros na contratação de jogadores para a temporada 20/21 e até agora sem resultados visíveis. O brasileiro Matheus Cunha, por exemplo, custou 18 milhões de euros e, após um início promissor, de repente parou de fazer gols. Desde novembro, não marca um golzinho sequer e, para piorar tudo mais um pouco, agora está no estaleiro, com lesão muscular na coxa.

Outro fator do sucesso do Union chama-se Urs Fischer. O suíço tem todas as qualidades que um técnico precisa para ter sucesso num clube a curto prazo. Tem ideias claras sobre como o time deve jogar, comunica isto muito bem aos jogadores e trabalha com afinco na implementação dos seus planos. Segurança em primeiro lugar é seu conceito básico de jogo. Talvez seja por isso que o Union Berlin dispõe da terceira melhor defesa da Liga, ficando atrás apenas de Wolfsburg e Leipzig.

Jogadas ensaiadas são treinadas à exaustão, assim como o posicionamento de cada jogador em qualquer situação possível. Automatismos são aprendidos a cada treino. Na falta de criatividade e improvisação, que haja ordem e organização em campo. O resultado dessa filosofia básica é que especialmente as jogadas oriundas de bolas paradas e os contra-ataques muitas vezes são bem-sucedidos.

E tem ainda o fator simpatia. Não é de agora que o Union se orgulha de ser um pequeno clube da classe trabalhadora berlinense e sua política de comunicação social leva em conta esse aspecto. A exemplo do St. Pauli de Hamburgo, o clube participa de iniciativas pela integração e inclusão de todos. Não há lugar para discriminação, racismo, homofobia e tantas outras manifestações nefastas que denigram os mais elementares direitos humanos.

Em levantamento feito por uma agência que avalia o grau de simpatia que os 36 clubes profissionais da Alemanha irradiam para o grande público, o Union Berlin ficou em 7º lugar, enquanto o Hertha teve que se contentar com o 35º. Até nesse quesito, a nova estrela do cenário futebolístico de Berlim dá de 7x1 no seu arquirrival.   

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Gerd Wenzel começou no jornalismo esportivo em 1991 na TV Cultura de São Paulo, quando pela primeira vez foi exibida a Bundesliga no Brasil. Atuou nos canais ESPN como especialista em futebol alemão de 2002 a 2020, quando passou a comentar os jogos da Bundesliga para a OneFootball de Berlim. Semanalmente, às quintas, produz o Podcast "Bundesliga no Ar". A coluna Halbzeit sai às terças.