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Universidade Humboldt

15 de outubro de 2010

De um lado, 29 Prêmios Nobel, de outro, queima de livros sob os nazistas, perseguições sob o comunismo. Instituição criada por Wilhelm von Humboldt é "Mãe das universidades modernas": um mito ameaçado.

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Universidade fica na Avenida Unter den Linden, em BerlimFoto: picture alliance/dpa

O monumento a Wilhelm von Humboldt (1767-1835) diante da universidade berlinense que leva o seu nome o mostra relaxado e autoconfiante: instalado em sua poltrona de pedra, ele contempla, orgulhoso, os estudantes que passam a seus pés.

É como se o patrono prussiano, reformador do ensino e fundador da instituição, exigisse, ainda hoje, respeito por suas conquistas. Consciência de sua importância ele certamente demonstrou, ao dizer que acreditava "poder afirmar com toda razão" que a educação "ganhou, através de mim, novo impulso neste Estado".

Flash-Galerie Denkmal Wilhelm von Humboldts vor dem Hauptgebäude der HU Berlin
Wilhelm von Humboldt contempla frequentadores de 'sua' universidadeFoto: HU Berlin / Heike Zappe

"O original moderno"

De fato, com sua "Universidade de Berlim" Humboldt introduziu no panorama do ensino alemão uma nova ideia que fez escola por todo o mundo: as escolas superiores não deveriam apenas ensinar, como também pesquisar.

O rei Frederico Guilherme 3º, da Prússia, apoiou o reformador em seus ambiciosos planos. Contudo as verbas estatais liberadas para a fundação da universidade em 1809 foram modestas. "Não havia mesas nem cadeiras, e o mofo cobria as paredes", descreve Christoph Markschie, atual presidente da Universidade Humboldt.

O prédio era o palacete do príncipe Henrique na avenida berlinense Unter den Linden. O primeiro semestre começou lá em outubro de 1810, contando com 256 estudantes e 52 docentes.

No início, só havia as disciplinas clássicas: Direito, Medicina, Filosofia e Teologia. Hoje a universidade possui 11 faculdades e oferece mais de 250 cursos, desde Estudos Africanos até Odontologia, cujos numerosos centros e institutos centrais estão distribuídos por 300 prédios.

De seus quase 34 mil estudantes, 13% são estrangeiros, vindos de mais de 100 países. O "mito Humboldt" continua atraindo, confirma Uwe-Jens Nagel, vice-presidente de Estudos e Assuntos Internacionais. "Sob o slogan 'O original moderno', traduzimos o ideal de ensino [de Humboldt] para o século 21. Isso quer dizer que, para nós, não existe pesquisa sem ensino e vice-versa."

Nobel, nazismo, comunismo

Em seus 200 anos, a Universidade Humboldt ostenta 29 ganhadores do Prêmio Nobel em seus quadros, entre os quais Albert Einstein e Max Planck. Também Otto von Bismarck, Heinrich Heine, Karl Marx e Kurt Tucholsky já estiveram inscritos com estudantes na alma mater berlinense.

Bücherverbrennung in Deutschland
Queima de livros diante da universidade, em 10/05/1933Foto: AP

Até 1933, ela contava entre as principais instituições de ensino superior da Alemanha. Mas aí começou uma história muito desigual e, em parte, vergonhosa.

Docentes judeus, socialistas e comunistas foram demitidos. As imagens da queima de livros em 10 de maio de 1933 correram mundo. O autor alemão Erich Kästner escreveu assim a respeito: "Eu estava diante da universidade, encurralado entre estudantes em uniformes da SA, as joias da nação, e vi nossos livros voarem para dentro das convulsivas chamas".

Mal se encerrara esse obscuro capítulo, com o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945, a instituição mergulhou em uma nova crise. O conflito Leste-Oeste na Alemanha pós-guerra ocasionou uma crescente influência comunista sobre a universidade. Entre 1945 e 1948, houve prisões, sequestros e assassinatos de estudantes que exigiam uma universidade livre, no espírito de Humboldt.

Na parte da cidade pertencente à Alemanha Ocidental, estudantes acabaram por fundar a Universidade Livre de Berlim, com a ajuda norte-americana. Em 1949, a República Democrática Alemã (RDA), de regime comunista, denominou sua escola superior em Berlim "Universidade Humboldt". Porém sem os ideais humboldtianos.

Mito ameaçado

A partir da reunificação do país, em 1990, a Humboldt voltou a ganhar destaque. Porém, com os atuais 34 mil discentes e 950 professores, não é possível preencher a meta de colocar ensino e pesquisa em pé de igualdade, afirma Uwe-Jens Nagel.

"Precisamos de mais pessoal, o que, entretanto, não é praticável numa cidade-estado pobre como Berlim", explica o professor. Uma forma de melhorar o ensino na universidade seria adotar o modelo de mentores. Segundo este, certos estudantes seriam qualificados para trabalhar como tutores, porém sem receber salário, e sim créditos.

A instituição de ensino superior espera conseguir mais verbas através de sua candidatura como universidade de elite, no próximo ano. Em 2007, ela não conseguiu o título. Caso volte a fracassar, a "mãe das universidades modernas" poderá perder significado. Pois de mito apenas, ninguém vive.

Hörsaal Flash-Galerie
Auditório da HumboldtFoto: AP

Autora: Sabine Damaschke (av)
Revisão: Roselaine Wandscheer