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Estudos 'verdes'

24 de julho de 2011

Com o setor ambiental no foco mundial, aumenta a demanda por mão de obra especializada. Cada vez mais jovens optam por estudos "verdes" na Alemanha, onde universidades oferecem programas específicos sobre o tema.

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A brasileira Bianca Krupinsk estuda meio ambiente na Alemanha
A brasileira Bianca Krupinsk estuda meio ambiente na AlemanhaFoto: DW

As universidades alemãs perceberam o aumento da demanda e já oferecem mais de 350 cursos ligados aos temas meio ambiente, clima e energias renováveis. Um exemplo é o mestrado em "Mudanças climáticas e recursos hídricos", aberto em Suderburg, no norte da Alemanha, em 2010. Muitos enxergam o país como modelo para a proteção ambiental, e cerca de dois terços dos estudantes são estrangeiros.

"Na Alemanha, as pessoas pensam muito sobre o meio ambiente. Muitos utilizam trem e não carro para poluir menos o ar, por exemplo", conta a brasileira Bianca Souza Krupinsk entusiasmada. Ela diz que tem a oportunidade de aprender muito sobre proteção ambiental no país, não só na sala de aula, mas também na vida cotidiana. Por isso, a Alemanha é o lugar ideal para o seu programa "verde" de mestrado, na Universidade Ostfalia, em Suderburg.

Filosofar não é suficiente

Barbara é cética sobre a consciência ambiental alemã
Barbara é cética sobre a consciência ambiental alemãFoto: DW

Barbara Kölsch, uma colega alemã de Bianca, não tem certeza se a consciência ambiental na Alemanha é tão exemplar assim. "Muitas pessoas certamente já pensaram sobre o assunto, mas o que fazem efetivamente?", pergunta-se a estudante de 29 anos, natural de Mainz. "Será tudo apenas uma moda ambiental?." Barbara acredita que, para muitos, trata-se de uma espécie de esquizofrenia ambiental: reclamam sobre tudo, mas, por comodismo, não fazem nada para mudar as coisas.

Filosofar sobre as mudanças climáticas com uma taça de vinho orgânico na mão não basta para Barbara e Bianca. As estudantes querem encontrar soluções e, para isso, investigam os efeitos das mudanças climáticas sobre os recursos hídricos, têm disciplinas como Climatologia (as leis do clima), Estudos do Solo e das Plantas ou Química Ambiental. Também estudam gestão de projetos e direito contratual internacional.

Direito à água potável

A diversidade de temas ambientais também atraiu o bolsista Anang Bagus Setiawan, da Indonésia, para a Universidade Ostfalia. "Não aprendemos apenas coisas sobre esgoto, água potável e engenharia hidráulica, mas também política e economia ambiental. Eu gosto muito", diz o estudante.

Tudo isso Anang já pode aplicar em seu país: a partir de agosto, ele irá estagiar por três meses em uma estação de tratamento de água na Indonésia. Ele quer ajudar as pessoas de localidades remotas a obter água limpa. O direito à água e à higiene é um direito humano universal e é por ele que o indonésio quer lutar quando concluir seus estudos. Na Alemanha, o jovem engajado não quer ficar, apesar de especialistas em meio ambiente terem perspectivas de carreira muito boas no momento.

De volta à terra natal

Professor Klaus Röttcher dá aula a estudantes do mundo todo
Professor Klaus Röttcher dá aula a estudantes do mundo todoFoto: DW

É comum estudantes como Anang Bagus retornarem aos seus países de origem, diz o professor Klaus Röttcher, diretor do mestrado "Mudanças climáticas e recursos hídricos". Quase 75% dos estudantes estrangeiros voltam à terra natal, porque querem mudar alguma coisa por lá, onde certamente encontrarão um bom trabalho.

Entretanto, pode haver dificuldades. "Aqui na Alemanha os estudantes aprendem técnicas e recursos que não podem aplicar facilmente em outros lugares", afirma Röttcher. Em muitos países, não é possível reproduzir os altos padrões do setor de tratamento de esgoto da Alemanha, por exemplo. "Ou porque são muito caros ou porque as condições básicas são muito diferentes", explica o professor.

Mas Röttcher está certo de que os jovens cientistas encontram soluções criativas para adaptar o que aprenderam à realidade local. Ele mesmo já aprendeu muito com seus estudantes estrangeiros. A partir de suas experiências pessoais, eles relataram, por exemplo, como a corrupção atrasa o progresso tecnológico e a luta contra as mudanças climáticas.

Não bastam conhecimentos técnicos

Campus da Universidade Ostfalia, em Suderburg
Campus da Universidade Ostfalia, em SuderburgFoto: DW

Para lutar contra a corrupção e sensibilizar a população sobre os problemas ambientais, os estudantes de programas de estudo "verdes" precisam, além dos conhecimentos técnicos, das chamadas "soft skills", considera o pesquisador Gerhard de Haan, Universidade Livre de Berlin.

Ele publicou o guia de estudos "Pesquisa e estudo para sustentabilidade", para fornecer aos estudantes um panorama sobre os cursos "verdes" oferecidos na Alemanha. Haan também tem um site sobre o assunto, atualizado constantemente. "Essas 'soft skills' são tão importantes porque a sustentabilidade tem muito a ver com comunicação, ou seja, é preciso manter vínculos com os cidadãos e propagar as ideias sustentáveis", diz.

Oportunidades de carreira em todo o mundo

Egressos dos programas de estudo "verdes" têm boas perspectivas de emprego. Dos mais de 350 cursos oferecidos na Alemanha, a maioria possui uma orientação técnica, mas a área de humanas também está presente. Desde 2010, é possível estudar Ética Ambiental na faculdade de Teologia de Augsburg, por exemplo.

Valores ético-ambientais também são óbvios para Bianca, Anang, Barbara e os outros estudantes do programa de mestrado em Suderburg, e isso se reflete no dia a dia deles. Barbara, por exemplo, abre mão de ter um carro e quer continuar assim quando iniciar a vida profissional.

Autora: Alexandra Scherle (lf)
Revisão: Marcio Damasceno