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Urso de Ouro como manifesto antibélico

Soraia Vilela16 de fevereiro de 2003

"In this World", de Michael Winterbottom, recebe em Berlim o prêmio de melhor filme. "Amarelo Manga", de Cláudio Assis, é considerado o melhor filme da mostra paralela Fórum.

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O cenário é a iminência de uma guerra e a explícita discordância entre Alemanha e EUA. Para completar, são ouvidos depoimentos dos mais diversos diretores contra as intenções bélicas de George W. Bush. Assim foi o Festival de Cinema de Berlim em 2003. Nesse sentido, a chave é literalmente de ouro: a premiação máxima ao longa de Michael Winterbottom, que conta a saga de dois refugiados afegãos desde um acampamento na paquistanesa Peschavar a Londres, passando pelo Irã, Turquia e Itália.

Documentário e câmera digital -

Misto de documentário e ficção, In this World inclui imagens granuladas obtidas in loco (o que significa no cenário da trama e com personagens reais) e feitas com uma câmera digital. O ritmo da narrativa é determinado pelos imprevisíveis acontecimentos da viagem: esperas nas fronteiras, controles, encontros, saídas inesperadas. Os protagonistas de Winterbottom, Jamal (Jamal Udin Torab) e Enayat (Enayatullah) representam a si mesmos, o que reforça a veia documental do filme. Como se vê, um formato inusitado para o prêmio mais importante de um festival de grandes proporções como é Berlim.

Parte da crítica esperava a premiação máxima para The Hours, de Stephan Daldry, mas teve que se conformar com o Urso de Prata concedido ao mesmo tempo às protagonistas Meryl Streep, Nicole Kidman e Julianne Moore. Na escolha do ator, o júri também decepcionou toda e qualquer expectativa, preferindo Sam Rockwell em Confessions of a Dangerous Mind, de George Clooney, à interpretação impecável dos protagonistas Bruno Todeschini e Eric Caravaca em Son Frère, de Patrice Chèreau.

Já que o filme de Chèreau é áspero demais para agradar as leis do mercado (finalidade real de um festival desse porte), o consolo escolhido pelo júri foi premiar o diretor francês com um Urso de Prata pela melhor direção. O outro Urso de Prata por melhor filme saiu para Adaptation, de Spike Jonze. Uma escolha um tanto quanto duvidosa, atribuída às preferências do diretor Atom Egoyan, presidente do júri.

Curtas -

Se na premiação dos longas o Festival de Berlim frustrou as expectativas da maioria, o mesmo não ocorreu na categoria de curtas, cujo vencedor já havia sido anunciado no decorrer da última semana. A Torzija (A Torsão), do esloveno Stefan Arsenijevic, é uma das raras misturas bem sucedidas entre o cômico e o trágico. Em plena guerra da Bósnia, a única forma de fuga se dá através de uma passagem subterrânea ilegal, chamada pelos personagens do filme de túnel. No caminho, algo inusitado acontece.

O Urso de Prata dos curtas foi dividido entre o denso En Ausencia, da argentina Lucía Cedrón, e o hilário Ischov Tramwai N°9, do ucraniano Stepan Koval. O excelente curta de Cedrón deixa no espectador a vontade de continuar na sala de cinema, tão precisas são as imagens dos cinco minutos vividos em flashback pela protagonista Marie, enquanto espera o resultado de um teste de gravidez. A premiação dos longas na Berlinale de 2003 terminou longe de um consenso. Já a dos curtas ficou definitivamente acima de qualquer suspeita.

Amarelo Manga -

Entre as várias premiações destinadas às mostras paralelas, Amarelo Manga, de Cláudio Assis, foi considerado pela Confederação Internacional de Cinemas de Arte e Ensaio como o melhor filme do Fórum do Jovem Cinema. O júri justificou o prêmio com a afirmação de que "Cláudio Assis mostra em seu filme de estréia uma dúzia de pessoas, sem no entanto exibir as mesmas. Longe de serem simpáticas (umas às outras ou frente ao público) ou politicamente corretas, elas conseguem se relacionar de tal forma, que o lema do festival de Berlim – rumo à tolerância – parece possível de ser realizado não apenas na tela do cinema, mas também no dia a dia".