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Vampiros e magia do Pacífico

Dorothee Ott / sv29 de janeiro de 2003

Exposição na capital alemã lembra a obra de Friedrich Wilhelm Murnau, que será também homenageado pelo Festival de Berlim este ano.

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Friedrich Wilhelm Murnau analisa celulóide em 1925Foto: Filmmuseum Berlin

Aos poucos, a sombra de uma mão escorrega sobre a camisola ingênua de uma jovem. Sentada sobre sua cama, de olhos estatelados, ela está ao mesmo tempo paralisada de medo e fascinação. De repente, os dedos (ou garras) caem sobre o coração da vítima, como se quisessem arrancar as últimas gotas de sangue daquele frágil corpo feminino.

Essa é apenas uma das diversas cenas de Nosferatu (1922), dirigido por Friedrich Wilhelm Murnau. Um filme mudo, que influenciou tudo o que foi feito em cinema tematizando vampiros, até o trabalho das mais jovens gerações de cineastas. A famosa cena é exibida na exposição no Museu do Cinema de Berlim em uma espiral infinita e projetada sobre uma grande tela. Além disso, o visitante tem acesso até mesmo às observações feitas por Murnau em seu roteiro, como os lacônicos "mão" ou simplesmente "coração".

Linguagem sugestiva

No centro da exposição, estão os cinco filmes mais importantes do diretor. Os curadores optaram por projeções em grande formato, pois apenas na tela de cinema a iluminação detalhada das imagens de Murnau pode ser observada. Vê-se excertos de três das grandes produções alemãs do cineasta: Nosferatu, Fausto e O Último Homem.

Além desses, Sunrise, rodado em Hollywood e premiado com três Oscars, e seu último filme, Tabu, explicitam a força visual da linguagem de Murnau, além da narrativa densa e intensa de seus filmes. Ao lado das projeções, vê-se fotos dos trabalhos de filmagem, maquetes dos sets, fotografias do próprio diretor e um material inédito do acervo deixado pelo cineasta, que expõe a vida privada de Murnau atrás da figura do homem público.

Também as inovações técnicas dos anos 20 podem ser admiradas na exposição: em uma vitrine, vê-se uma câmera Stachow, que Karl Freund utiliza em O Último Homem como uma espécie de steady cam. Com isso, surgem pela primeira vez na história do cinema imagens leves e flutuantes – hoje mais que padronizadas. "A linguagem utilizada por Murnau é extraordinariamente multidimensional", acentua Hans Helmut Prinzler, diretor do Museu do Cinema de Berlim. "Murnau tirava suas idéias, entre outros, da pintura, citando em Nosferatu quadros de Caspar David Friedrich e em Tabu de Paul Gaugin", completa Prinzler.

Da Alemanha a Hollywood

O Festival Internacional de Cinema de Berlim, que começa no próximo 6 de fevereiro, dedica à obra de Murnau uma retrospectiva. Serão exibidos doze dos filmes do diretor, todos em cópias restauradas. No dia 8 de fevereiro, está programada uma exibição de O Último Homem no Teatro Schaubühne, com direito até mesmo à música original reconstruída. "Esse olhar para o passado é importante para o festival", comenta Prinzler, orgulhoso de poder apresentar uma exposição tão extensa sobre Murnau, "principalmente por tratar-se de um diretor de renome internacional".

O mestre do cinema mudo, nascido na cidade alemã de Bielefeld, imigrou em 1926 para os EUA, levando o estilo alemão de fazer cinema para a América do Norte. "Lá, Murnau despertou nos cineastas locais a curiosidade sobre a Europa. O interesse pelo Velho Continente, na época, fosse talvez maior do que o existente hoje em Hollywood", compelta Prinzler.

O "gênio alemão", como Murnau era chamado nos EUA, não gostou da vida em Hollywood, tendo ido de lá para o Taiti, onde rodou seu último filme Tabu: um longa realizado apenas de acordo com suas preferências, sem levar em consideração quaisquer convenções hollywoodianas. No ano de 1931, Murnau morreu, aos 42 anos, em um acidente de carro.

Imagens em busca do paraíso

Pouco antes de deixar a exposição em Berlim, o visitante tem a possibilidade de admirar os figurinos originais dos personagens Reri e Matahi: saias rústicas, que remetem à areia do Oceano Pacífico. Tabu, o último trabalho de Murnau, é talvez seu filme mais pessoal. Uma bela e triste história de amor, que exalta a figura do melancólico e não permite ao casal de apaixonados nem um pouco de sorte. Dessa forma, sai-se da exposição levando não apenas um pouco da melancolia de Murnau através das muitas imagens redescobertas em sua linguagem, mas também um pouco da ânsia do diretor em busca do paraíso.