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Verve lúcida de Tom Zé passeia pela Alemanha

Soraia Vilela

"Neto degenerado da Escola de Viena” e avô remoto dos remixes eletrônicos, Tom Zé volta aos palcos alemães, fala do “analfabetismo metafísico” do nordestino e discorre sobre as reverências à sua música fora do Brasil.

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Tom Zé: shows em Berlim e Recklinghausen

O som do baiano de Irará havia chegado ao lendário Franz Club, um reduto alternativo na parte da capital alemã que ainda tinha “cara de Berlim Oriental”, embora o ano já fosse 1994. Pouco depois, em 1995, Tom Zé voltava a Berlim para mais um inesquecível show. Seu link com o país se manteve, entre outros, através de Emerê, faixa de seu Com Defeito de Fabricação (1998), presente na trilha sonora de Água (2001), peça da coreógrafa Pina Bausch.

Elogio ao sertanejo

Tropicalista de lenta luta, Tom Zé já perguntava em plenos anos 70 com quantos quilos de medo se faz uma tradição e com quantas mortes no peito se faz a seriedade. Finalmente reconhecido após os tempos de sorte madrasta (1973-1990), um de seus temas prediletos é o elogio ao sertanejo, aquele de Euclides da Cunha ou Guimarães Rosa. Aquele que se assemelha aos clientes de então da loja de seu pai no interior baiano.

Sujeito delirante, autor de obras abertas – que podem ser completadas pelo ouvinte-compositor, como seu penúltimo CD, Jogos de Armar –, Tom Zé vai buscar sua matéria-prima na tradição. Ao reler clássicos como Asa Branca, de Luiz Gonzaga, desconstrói, fragmenta, brinca. Aqui e ali rebola. E debocha sem cinismo.

Inventor de idiossincrasias musicais, figura cerne do Tropicalismo, Tom Zé é uma espécie de “avô remoto” de experimentos sonoros hoje em alta. Inventor de instromzementos (ex-eletrodomésticos), costura sons de forma inusitada. Critica a globarbarização, denuncia a verborrologia dessa politimerdia, cria verbetes inéditos na música brasileira.

Reverências além-mar

Sofisticado, este Tom Zi do inglês, Tom Zê do francês, Tom Tssê do alemão é reverenciado com todas as honras fora do Brasil, principalmente por sua capacidade de criar uma linguagem própria, fruto da apropriação de signos estranhos ao mundo musicalmente correto.

Em contraponto ao mainstream, é capaz de brincar com ritmos e criar neologismos musicais. Autêntico representante da Dona Divergência dentro do mercado musical, Tom Zé gosta de dizer que escreve e compõe para uma parcela de ouvintes que ainda guarda um rastro de rebeldia.

Especialista no que chama de estética do arrastão, recicla até sua própria obra. Arrasta forró e John Cage, pop nova-iorquino e banda de pífanos. E arrasta o público alemão, como no Festival do Vale do Ruhr na última quarta-feira (5/5), ao anunciar que o “o baile vai começar”. E dá-lhe Xiquexique.

Autor da belíssima frase – “o embrião da coisa artística está sempre no limbo entre o ridículo e o brilhante” – Tom Zé continua, do alto de seus 67 anos, a explicar para confundir e a confundir para esclarecer. Pode até ferir com tamanha sensatez. Bálsamo para o ouvido, escancara mais uma vez sua lucidez no palco do Volksbühne, em Berlim, nesta sexta-feira (7/5).

Com a palavra, Tom Zé... (clique no link abaixo)