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Repercussão

1 de novembro de 2010

Mídia alemã enfoca vitória de Dilma Rousseff e aponta para os desafios do novo governo, principalmente na economia e nas políticas externa e interna.

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Vitória de Dilma ocupou espaço na mídia alemãFoto: dpa

Um dia após a vitória de Dilma Rousseff nas urnas, importantes veículos da mídia alemã analisam nesta segunda-feira (01/11) o futuro governo da presidente eleita.

"Dilma não tem o carisma de seu mentor, Lula, mas sua mensagem é clara: com uma política conservadora, ela pretende impulsionar a economia em crescimento e acabar com a miséria em algumas partes do país", escreve Jens Glüsing, correspondente no Rio de Janeiro para o semanário alemão Der Spiegel.

"Em sua festa pela vitória eleitoral, Dilma Rousseff, a primeira mulher a chefiar o maior país sul-americano, encontrou palavras simples e sóbrias, mas justamente no tom certo. Dilma Rousseff não é mulher de discursos inflamados, ela não tem o carisma e o talento retórico de Luiz Inácio Lula da Silva, uma estrela na política."

Por duas vezes Rouseff salientou em seu primeiro discurso como chefe de Estado eleito, o quão importante é a liberdade de expressão. Um sinal, segundo o correspondente do Spiegel, de que a ex-guerrilheira não se esqueceu da tortura e dos anos que passou na prisão durante a ditadura militar.

Sem rancores da imprensa

Ela não quer guerra com a imprensa brasileira, ela não quer censurar os jornalistas como seus colegas populistas de esquerda na Argentina, Venezuela, Bolívia e Equador, escreve o site do Spiegel. "Por isso, os articulistas da poderosa rede de televisão Globo, que descaradamente favoreceram o candidato da oposição, José Serra, lhe tributam respeito."

"A transformação do Brasil de gigante confinado em promissora superpotência emergente não começou com Lula. Na realidade, ela tem raízes em 1994, o ano do surgimento do real. Naquela época, através de um pacote de reformas econômicas e fiscais, o social-democrata Fernando Henrique Cardoso conseguiu colocar no rumo certo a nação abalada por uma hiperinflação e uma horrenda dívida."

"A vitória de Rousseff é uma prova da maturidade democrática no Brasil, apesar de todos os seus problemas", continua o correspondente em sua análise. "Hoje, eleições no Brasil acontecem sem problemas e de forma mais segura do que nos Estados Unidos. O sistema eletrônico de votação é considerado exemplar em todo o mundo."

"O fato de o país passar a ser liderado por uma mulher divorciada é uma evidência da normalidade democrática. Antigamente isso teria sido impensável", salienta o Spiegel.

Expectativas econômicas

"Rousseff deve se preparar para uma corda bamba na economia", escreve o jornal alemão Handelsblatt. "As incríveis taxas de crescimento e os altos gastos do Estado nos últimos meses deverão se tornar um problema para a futura presidente."

Para o diário, é preciso que Rousseff consiga a façanha de reduzir as despesas públicas, sem sufocar o crescimento e ao mesmo tempo sem se afastar de seus apoiadores. Por isso, escreve o Handelsblatt, provavelmente não tenha sido coincidência que, no pronunciamento pela vitória, Rousseff tivesse ao seu lado Antônio Palocci, ex-ministro das Finanças e "queridinho" de Wall Street.

O diário lembra que Palocci conseguiu impor cortes no orçamento do Estado já no primeiro mandato de Lula. Para os investidores estrangeiros, é claro o sinal de que ela continuará o curso da esquerda moderada do governo Lula, escreve o jornal especializado em economia.

Desafios do governo Rousseff

"Durante toda a sua campanha, Rousseff prometeu que vai dar continuidade à política de Lula. Entretanto, faltam-lhe seu carisma e sua flexibilidade. Por isso, muitos brasileiros temem que ela siga uma linha mais dura em relação à oposição, buscando mais confrontos", escreve a articulista do jornal Die Welt.

"Dilma assume um país que está transbordando de autoconfiança", destaca o veículo conservador, assinalando que o país sobreviveu tão bem à crise que este ano espera um crescimento econômico de 7,5%.

Em nível internacional, o Brasil está desempenhando um papel cada vez mais importante, e já há muito tempo assumiu a liderança política na América Latina. "Mas Lula também se esquivou de reprimir a política externa cada vez mais agressiva de Hugo Chávez na Venezuela."

Também na política interna o legado deixado a Dilma Rousseff envolve desafios: Lula não abordou a tão necessária reforma fiscal e, mais importante, a do sistema de aposentadorias. Além disso, há problemas com a segurança, especialmente nas grandes cidades, salienta o Die Welt.

Além disso, Dilma terá a tarefa hercúlea de preparar o país para a Copa de 2014 e para os Jogos no Rio de Janeiro em 2016. Se ela quer e se conseguirá sair da sombra de Lula, isso ainda está em aberto, conclui a articulista.

Compilação: Roselaine Wandscheer
Revisão: Augusto Valente