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Yankees go East

av2 de julho de 2003

Os EUA planejam diminuir sua presença militar na Europa Ocidental. Novas bases serão montadas em países no Leste Europeu que apoiaram guerra no Iraque. Entrevista exclusiva com general Charles Wald.

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Presença militar norte-americana em HeidelbergFoto: AP

A presença dos soldados norte-americanos no sul da Alemanha é parte integrante da história do pós-guerra no país, da mesma forma que o marco alemão ou Helmut Kohl. Dos 106 mil membros ativos do United States European Command, 70 mil soldados (e 90 mil familiares) estão estacionados na Alemanha. Durante décadas, cidades como Heidelberg e Wiesbaden, em Hessen, ou Grafenwöhr, na Baviera, estiveram identificadas com os "GI"s que patrulham as bases próximas. Estes, em contrapartida, injetaram dezenas de milhões de dólares na economia local e empregaram milhares de civis.

Antes o inimigo era a União Soviética, atualmente é o Oriente Médio, a Ásia Central e o Norte da África. Assim, os líderes militares norte-americanos planejam reduzir o tamanho de suas bases na Alemanha. Os novos candidatos são os países do Leste Europeu em ascensão econômica e cujo custo de vida é mais baixo. Entre eles a Polônia e a Hungria, onde os EUA treinaram combatentes da oposição curda no Iraque, antes da guerra do Golfo Pérsico.

Andreas Tzortzis, da DW-WORLD, conversou com o comandante das tropas americanas na Europa, general Charles Wald, sobre as conseqüências políticas e econômicas da iminente evasão militar para o Leste.

A mídia européia tem especulado muito sobre a abertura e fechamento de bases aqui ou acolá. Que tipo de mudança está sendo cogitada e por que essa discussão está ocorrendo agora?

Charles F. Wald
General Charles WaldFoto: AP

Charles Wald:

Cerca de 84% de nossas forças estão na Alemanha e na Europa Central, onde não há mais necessariamente um problema de segurança. Este está crescendo mais ao sul e mais ao leste. A turbulência no Oriente Médio, culminando agora na operação Iraqi Freedom, o Mar Cáspio: essas regiões estão-se tornando mais importantes do ponto de vista do terrorismo. O mesmo se aplica aos países no Chifre da África ou do Sub-Sahara.

Para nós, a questão é: quais são os interesses geopolíticos e estratégicos dos Estados Unidos, onde eles se localizam? Estamos nos locais certos, há gente demais estacionada no exterior, há uma outra maneira de marcar presença na Europa?

O que se verá nos próximos seis meses é a decisão de transferir parte dessas forças, algumas no âmbito do Comando Europeu, outras talvez voltarão para casa – o que pode ser um número bem elevado. Não temos ainda cifras definitivas, mas estamos falando de 30% a 40%.

O secretário da Defesa Donald Rumsfeld tinha este plano em mente desde que assumiu o posto, em 2000. Por que a discussão está ocorrendo agora, quando as relações entre os EUA e a Alemanha não são exatamente boas?

C.W.:

Para muita gente, a questão subjacente é: isso está acontecendo devido ao cisma entre os EUA, a Alemanha e outros países da Otan? A resposta é: não. Essas medidas eram indispensáveis, independente de qualquer dessas decisões políticas.

Uma das áreas críticas para nossas Forças Armadas é o treinamento. E um dos pontos fortes da Alemanha é a proteção do meio ambiente. O Exército norte-americano treina em Grafenwöhr e devido à atenção que deu à natureza local, ao longo dos anos, agora a área é uma reserva ambiental. É um desses paradoxos irônicos: [...] nós a protegemos tão bem que agora não podemos mais treinar lá. Nos países emergentes do Leste Europeu parece haver maior flexibilidade nesse aspecto – sem dúvida isso é parte da questão.

Do ponto de vista estratégico, há desvantagens em manter bases militares na Alemanha?

C.W.:

A maior desvantagem é provavelmente a restrição ao treinamento. Há muitos pontos favoráveis à Alemanha. Primeiro, ela é segura, segundo, nossas famílias gostam de viver aqui. Ela está um oceano mais próxima da ameaça, nossa presença aqui provavelmente nos permite acelerar em até duas semanas a mobilização para o Oriente Médio. Por outro lado, queremos ter nossas forças próximas de vários tipos de transporte, quer marítimo, quer aéreo. Portanto, onde quer que estejamos, vamos precisar disso.

A reação dos países emergentes da Otan é muito positiva, como pode imaginar. Eles têm interesse na presença dos Estados Unidos... E esse também é um aspecto de peso: é bom ser bem-vindo.

As cidades em torno das bases militares americanas na Alemanha, que se beneficiaram dessa presença durante mais de 50 anos, também querem as tropas dos EUA. O que têm feito para aplacar a sua preocupação?

C.W.:

Imagino que algumas cidades terão menos tropas, não posso dizer ainda quais. É bom ver a população alemã, os prefeitos e outras pessoas, ocuparem-se com a perspectiva de uma mudança. Não há dúvida: a presença norte-americana traz significativos lucros a algumas dessas localidades. Pois então está na hora de quem quer a nossa permanência articular sua opinião. Isso talvez influencie as decisões, e é importante estarmos em lugares que nos permitam realizar nosso trabalho.

Há uma certa hesitação em certos países: recentemente o presidente da República Tcheca declarou que seu povo se sentiria desconfortável com a presença de tropas estrangeiras, após décadas de ocupação soviética. O senhor está preocupado que o tapete de boas vindas não esteja estendido para recebê-los?

C.W.:

Não vimos nada disso. Um trunfo para os EUA é que jamais ocupamos nenhum território. Onde quer que estivemos sempre trouxemos melhorias, econômicas ou mesmo ambientais. [...] A beleza desse momento é que haverá uma discussão com todos os interessados, e teremos que negociar com os países para onde potencialmente gostaríamos de ir.

Tudo isso é para breve?

C.W.:

Acho que há a vontade de resolver tudo bem rápido. No prazo de um ano já haverá decisões ou pelo menos movimento em alguma direção. No segundo semestre já estará bem mais claro. Há uma realidade fiscal e uma realidade física, mas me parece que a intenção é que aconteça bem rápido.