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Youtubers de direita tentam intimidar deputados no Bundestag

19 de novembro de 2020

Desordeiros entraram no Parlamento com autorização de deputados do partido de extrema direita AfD. Grupo invadiu gabinetes, filmando e insultando parlamentares que votavam projeto para expandir medidas contra a pandemia.

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Reunião do Bundestag, em Berlim
Comitê do Bundestag vai investigar participação de três deputados da AfD no atoFoto: Jens Krick/Flashpic/picture alliance

Enquanto o centro de Berlim era sacudido por protestos contra as medidas anticoronavírus na quarta-feira (18/11), o interior da sede do Bundestag (o Parlamento alemão) também foi palco de episódios de tensão. Um grupo de ativistas de extrema direita e influencers conspiracionistas conseguiu acessar o prédio. No interior, eles invadiram gabinetes, tentando intimidar a constranger deputados que se preparavam para votar um projeto de lei de reforço à capacidade das autoridades de impor restrições para conter o vírus.

Os ativistas não adentraram o prédio como invasores, mas sim como convidados de três deputados do partido extremista de direita Alternativa para a Alemanha (AfD), segundo registros de visitantes do Bundestag.

O caso foi denunciado como um ataque à independência do Parlamento por vários políticos, e um comitê foi convocado para discutir potenciais punições para os deputados da AfD que franquearam o acesso.

Após entrarem no prédio, os ativistas passaram a escolher alvos entre os deputados, filmando a ação e reproduzindo o conteúdo em redes sociais. Entre as figuras que foram abordadas e filmadas pelos extremistas estão o ministro da Economia, Peter Altmaier, e deputados verdes, liberais e da União Democrata Cristã (CDU), o partido da chanceler federal Angela Merkel.

Imagens divulgadas nas redes sociais mostram que uma ativista insultou Altmaier e o acusou de "não ter consciência" enquanto ele esperava o elevador. Imagens também mostram que os ativistas abordaram vários deputados de maneira agressiva exigindo saber como eles iriam votar. Funcionários de vários gabinetes afirmaram que os ativistas invadiram escritórios sem permissão.

Ao todo, quatro "visitantes" da AfD participaram da ação. Entre eles estão vários membros da cena conspiracionista da Alemanha, como o youtuber de direita Thorsten Schulte, que discursa regularmente em protestos contra as medidas de isolamento. Outro participante é Elijah Tee, também um youtuber de direita, que atua em Dresden.

A youtuber Rebecca Sommer também estava entre os desordeiros. É ela que aparece insultando o ministro Altmaier. O grupo acabou sendo expulso pela polícia legislativa quando entrou numa sacada do prédio para filmar o protesto anticoronavírus que ocorria nas proximidades.

Manifestantes contrários às medidas anticoronavírus protestam em frente ao Portão de Brandemburgo, em Berlim
Redondezas do Parlamento foram palco de protestos na quarta-feiraFoto: Andreas Rabenstein/dpa/picture alliance

Segundo relatórios de segurança do Bundestag citados pela imprensa alemã, o grupo conseguiu acesso ao interior do prédio a convite dos deputados Udo Hemmelgarn, Petr Bystron e Hansjörg Müller, da AfD. Alguns dos youtubers chegaram a filmar uma reunião no gabinete de Hemmelgarn antes de saírem pelo prédio para tentar constranger deputados de outras siglas.

Diante da perspectiva de protestos na capital alemã, todos os visitantes do Bundestag estavam sendo registrados pela segurança do Parlamento, com informações sobre quem permitiu a entrada. A medida permitiu identificar facilmente a cumplicidade dos parlamentares da AfD. Anteriormente, deputados podiam receber até seis convidados não anunciados. Segundo o jornal Tagesspiegel, alguns funcionários dos deputados da AfD também tomaram parte na ação.

Os deputados que foram abordados pelos youtubers denunciaram o acontecido. O deputado liberal-democrata Konstantin Kuhle, um dos alvos, disse: "Se uma câmera é colocada em seu rosto e lhe perguntam sobre seu voto, você se sente pressionado."

Outros parlamentares reagiram com mais indignação. "É monstruoso! Defenderemos nossa democracia e nosso Parlamento contra os inimigos da democracia", escreveu a deputada verde Britta Hasselmann, no Twitter.

"Pressionar os deputados e dificultar o livre exercício do seu mandato mina os alicerces da nossa democracia", disse o deputado Michael Grosse-Brömer (CDU).

Já a liderança da AfD, que se opôs ao projeto de lei votado na quarta-feira, afirmou lamentar o comportamento de alguns de seus convidados, mas negou que tenha intencionalmente liberado acesso a pessoas com o objetivo de interromper os procedimentos parlamentares.

JPS/ots