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Zeitgeist: Terceiro lugar vale muito na eleição alemã

14 de setembro de 2017

Merkel já ganhou, os social-democratas ficam em segundo lugar e o resto não interessa? Nada disso, muita coisa está em jogo na luta pela terceira maior bancada no Bundestag.

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Özdemir (e) e Lindner (d) podem vir a ser parceiros de coalizão dos conservadores de Joachim Herrmann, da CSU
Özdemir (e) e Lindner (d) podem vir a ser parceiros de coalizão dos conservadores de Joachim Herrmann, da CSUFoto: Getty Images/AFP/J. Macdougall

Angela Merkel vai vencer a eleição de 24 de setembro na Alemanha, e o segundo lugar vai ficar com o Partido Social-Democrata (SPD). Só um terremoto político muda essa situação, e para quem acompanha a campanha eleitoral de longe, isso soa a uma disputa sem graça.

Nada disso. Não só é esta a campanha mais concorrida das últimas décadas na Alemanha, com analistas prevendo um grande comparecimento às urnas – ela é também acompanhada com interesse em todo o mundo.

E, além disso, a disputa pelo terceiro lugar segue apertada, e essa "medalha de bronze" tem um grande significado simbólico e é estrategicamente importante para os partidos. Nas palavras da principal candidata do Partido Verde, Katrin Göring-Eckardt, "o terceiro lugar determina o rumo da política".

Se houver uma reedição da atual grande coalizão entre o partido de Merkel, a União Democrata Cristã (CDU), sua irmã bávara, a União Social Cristã (CSU), e o SPD, o terceiro lugar na eleição assume a liderança da oposição no Parlamento. Especialmente para a legenda populista Alternativa para a Alemanha (AfD), que é rechaçada por todos os demais partidos e entra pela primeira vez no Parlamento, conquistar esse posto teria um enorme valor simbólico.

Mas esse não é apenas um título simbólico. Em debates no Parlamento, por exemplo, o líder da oposição fala logo depois do representante do governo, geralmente a chanceler federal, e pode assim reagir de imediato às posições dela, influenciando o rumo do debate.

Mas há outras vantagens em ser o terceiro partido mais votado. Em geral, ele assume a presidência da Comissão do Orçamento, um cargo cobiçado. Essa é uma regra não escrita da política alemã, e os partidos tradicionais já sinalizaram que poderá ser ignorada se o terceiro lugar ficar com a AfD.

Além disso, a força de um partido determina não só quantos deputados ele vai ter no Bundestag, mas também quantos presidentes e membros terá nas comissões parlamentares, quantos funcionários poderá empregar e o tempo de intervenção de seus deputados nos debates parlamentares.

E, se não houver uma reedição da grande coalizão, a CDU/CSU, como maior bancada, terá de ser voltar para o terceiro lugar para formar um governo. Afora o SPD, apenas o Partido Liberal Democrático (FDP) e o Partido Verde são considerados como potenciais parceiros de coalizão dos conservadores.

Quem, entre esses dois, estiver mais bem colocado terá mais chances de formar uma coalizão, desde que, claro, haja maioria para isso. A CDU/CSU também pode tentar uma aliança com os dois ao mesmo tempo, se eles se entenderem. Nesse caso, o cargo de ministro do Exterior, um dos mais importantes do governo, ficaria com o segundo partido mais forte da coalizão.

Como disse o cientista político Oskar Niedermayer, "se não houver grande coalizão, então passa a ser extremamente importante quem dos dois – FDP ou Partido Verde – estiver à frente".

Verdes e liberais, claro, já entenderam há muito tempo a importância do terceiro lugar, como demonstram declarações de seus líderes. "Nossa meta é o terceiro lugar", afirmou o liberal Christian Lindner. E o verde Cem Özdemir declarou: "O terceiro lugar decide para onde o país vai". De fato, um governo conservador-liberal teria políticas ambientais e energéticas bem diferentes de um governo conservador-verde.

A coluna Zeitgeist oferece informações de fundo com o objetivo de contextualizar temas da atualidade, permitindo ao leitor uma compreensão mais aprofundada das notícias que recebe no dia a dia.