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Zona do euro anseia por crescimento econômico

23 de maio de 2012

Slogan de crescimento do recém-eleito presidente francês vem na hora certa: as pessoas na zona do euro estão cansadas de poupar. Mas como crescer? Cúpula extraordinária em Bruxelas procura respostas.

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Foto: picture-alliance/dpa/WILDLIFE/S.Bishop

O encontro extraordinário de cúpula da União Europeia, que se realiza nesta quarta-feira (23/05) em Bruxelas, procura meios de impulsionar o crescimento europeu. A pergunta é: como se chega a esse crescimento? Através da austeridade econômica, de reformas ou de novas dívidas?

Desde 2007, o desempenho econômico da Grécia reduziu-se em cerca de um quinto. Não é de admirar que, apesar da poupança e do corte da dívida, o endividamento do país no próximo ano vá se elevar a 160% do Produto Interno Bruto (PIB).

Para muitos, o país de origem da crise de endividamento é o melhor exemplo de que falhou a gestão de crise encabeçada pela chanceler federal alemã, Angela Merkel, a qual aposta em primeira linha na consolidação dos orçamentos públicos.

Isso também se refletiu nas recentes eleições, afirmou o político social-democrata alemão Gernot Erler em entrevista à emissora Deutschlandfunk. "Neste contexto, a política de austeridade econômica perdeu diversas eleições, por exemplo, na Holanda, Romênia, Grécia e França."

Todos falam de crescimento

Principalmente a eleição presidencial na França mudou a forma de falar na Europa. "Poupar" é out, "crescimento" é in. Isso também foi percebido em Berlim. Recentemente, o governo alemão lançou até mesmo os parâmetros de um pacto de crescimento. Ele prega que a chave para o crescimento é maior competitividade e, para tal, são necessárias reformas estruturais. Ou seja: nenhum dinheiro adicional.

A oposição se enfada e classifica o comunicado do governo de mera retórica, já que maior competitividade significa mais cortes salariais e reformas estruturais flexibilizam ainda mais o mercado de trabalho, o que leva a um desemprego ainda maior em países em crise. Nesse aspecto, o governo alemão fez ofertas concretas: por exemplo, dinheiro do Banco Europeu de Investimentos e dos Fundos Estruturais da União Europeia.

Dinheiro em abundância

Principalmente nos chamados Fundos estruturais e de Coesão, que se destinam a equilibrar as diferenças de crescimento na União Europeia, já se conseguiu reunir até o momento uma boa soma. "Muitos países-membros entraram com pedido de dinheiro nos últimos anos e viram seus pedidos aprovados", disse Alexander Alvaro, vice-presidente do Parlamento Europeu. Mas no final, essas quantias não foram utilizadas, acresceu Alvaro.

Alexander Alvaro
Alexander AlvaroFoto: picture-alliance/dpa

"Isso significa que atualmente 250 bilhões de euros em créditos acumulados ainda estão lá", declarou Alvaro à Deutsche Welle. Pode-se dizer que os Estados em crise não estão nem mesmo em condições de utilizar o dinheiro disponível.

Outra explicação possível é que a situação financeira desses países é tão ruim, que eles não podem arcar com um quarto da quantia solicitada para receber o dinheiro. Pois uma contribuição própria é necessária para obter acesso aos meios financeiros.

Hollande não conhece tabus

Para o recém-eleito presidente francês, François Hollande, esse processo está sendo muito demorado. Um crescimento rápido é essencial para que os países em dificuldades tenham condições de pagar suas dívidas. Para ele, todos os meios parecem ser pertinentes: impostos mais elevados para os ricos, eurobonds (títulos públicos comuns europeus) – ou simplesmente novas dívidas.

Francois Hollande / Frankreich / Präsident
François HollandeFoto: AP

A oposição alemã não pretende ir tão longe. Em alemão, Schuld significa não só "dívida", como também "culpa", e é uma palavra tão feia, que os social-democratas preferem apostar no imposto sobre transações financeiras para financiar um crescimento maior.

Apoio para a nova política de crescimento vem do outro lado do Oceano Atlântico. O Nobel de Economia Paul Krugman classifica os gestores de crise europeus como Kaputtsparer – em alemão: "quem economiza até se estourar".

No jornal de economia Handelsblatt, ele escreveu: "A ideia de impulsionar a conjuntura com medidas de austeridade econômica é pouco admissível, e sob as condições que prevaleciam em 2010 e ainda hoje, ela é um absurdo."

Estratégia "tanto-quanto"

Thomas Straubhaar, presidente do Instituto da Economia Mundial em Hamburgo, considera a discussão "poupar ou crescer", hoje em curso na Alemanha, não absurda, mas "anêmica". "Trata-se, antes, de uma estratégia de tanto-um-quanto-o-outro", escreveu também no Handelsblatt. "A Europa precisa de ambas, com entendimento e razão: uma estratégia de crescimento e uma política de austeridade econômica", acresceu.

Thomas Straubhaar, Direktor des Weltwirtschafts-Instituts, HWWI
Thomas StraubhaarFoto: picture-alliance/dpa

Mesmo o próprio Hollande não poderá evitar medidas de economia. Caso queira pressionar o deficit orçamentário abaixo dos 3%, ele terá de economizar mais de 2% do Produto Interno Bruto (PIB).

Dessa forma, sobra pouco espaço de manobra para gestos de generosidade. Straubhaar está convencido de que Hollande vai falar alto de crescimento e igualdade social, e baixará a voz ao fazer o necessário para tal.

Ao contrário da poupança, o crescimento não pode ser ordenado. Além disso, ele não vem em prazo curto, disse Alexander Alvaro, vice-presidente do Parlamento Europeu. "Infelizmente, não existe o superfertilizante que fará brotar todas as flores europeias de um dia para outro."

Autora: Danhong Zhang (ca)
Revisão: Augusto Valente