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Guerra ameaça economias latino-americanas

(ns)4 de março de 2003

A economia latino-americana já está sofrendo com as incertezas e uma possível guerra contra o Iraque. Em caso de eclosão do conflito, poucos países conseguiriam impedir uma queda do crescimento econômico.

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Investidores procuram valores seguros em tempos difíceisFoto: AP

É fato sabido que em épocas de instabilidade e crise os investidores procuram valores seguros. Por um lado, aumenta a aversão ao risco econômico e, por outro, aumentam as taxas de risco. Isso dificulta as condições de financiamento para os países em desenvolvimento, repercute nos planos de investimento e nas perspectivas do consumo privado. Esse é o panorama traçado pelo Dresdner Bank Lateinamerika (DBLA), a subsidiária do banco alemão Dresdner Bank, voltada exclusivamente para a América Latina.

Economia entre guerra e paz

A economia mundial enfrenta uma crise conjuntural que vai além do plano financeiro, afetando o setor de exportações, o que freia o crescimento econômico. O DBLA conta com uma taxa média de crescimento de 1,5% na América Latina em 2003. Neste contexto, o banco considera dois cenários para a crise iraquiana: uma guerra breve ou nenhuma guerra, por um lado, e uma guerra prolongada, de outro.

Um confronto militar de longa duração acarretaria um aumento duradouro do preço do petróleo, obrigando a uma revisão completa das perspectivas de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) na América Latina, no corrente ano e em 2004. Embora considere este segundo cenário menos provável, o banco alemão prepara-se para esse caso, que ressaltaria os pontos mais frágeis das economias latino-americanas.

A ameaça para Brasil e México

Diante de sua alta dívida externa e do endividamento do setor público, o Brasil, responsável por quase 50% da economia latino-americana, é o país que mais seria afetado pela fuga de capitais, se se concretizar esse Stress-Szenario (cenário estressante), como menciona o relatório de março. Mesmo que a necessidade externa de financiamento (para cobrir o déficit orçamentário e a amortização de compromissos financeiros de médio e longo prazos) tenha diminuído consideravalmente no último ano (2002: 38 bilhões de dólares; 2001: 58 bilhões de dólares), haveria um aumento de juros interno e externo.

Isso se refletiria tanto sobre os investimentos como sobre o consumo, com as respectivas conseqüências negativas para o crescimento do PIB. O Brasil deverá crescer 2% em 2003 segundo a previsão do Dresdner Bank LA para o "cenário básico", isto é, para o caso de não haver guerra ou esta ser de curta duração.

O México, por sua vez, iria ressentir-se principalmente com a queda da demanda internacional que lhe chegaria via Estados Unidos, para onde se destinam 90% de suas exportações. Menores atividades neste importante setor, contudo, poderiam ser compensadas com uma maior receita do petróleo. Outro fator positivo é sua situação macroeconômica relativamente estável.

Argentina, Venezuela e Chile

Uma aversão maior ao risco poderia atrasar mais ainda a chegada de investimentos privados na Argentina. A desaceleração da conjuntura mundial também afetaria outras previsões do banco para o país: o aumento das exportações e um crescimento do PIB de 3,5% este ano.

A Venezuela sairia claramente beneficiada com o aumento do preço do petróleo. No entanto, com os graves problemas internos e as incertezas políticas a médio e longo prazos, o DBLA não considera provável que o país consiga sair da recessão.

Com uma alta quota de exportação (34%) e dependente de importações de petróleo, seria de se esperar que o Chile sofresse especialmente com um enfraquecimento global da demanda. No entanto, isso poderia ser compensado pelo aumento do preço do cobre – o Dresdner conta com 6% de aumento em relação a 2001. Cerca de 40% dos produtos exportados pelo Chile são de cobre. As perspectivas de crescimento (3,3%) não seriam afetadas.

Peru e Colômbia

O Peru passaria relativamente sem grandes prejuízos pelas conseqüências de uma guerra, uma vez que a maior parte de suas dívidas foram contraídas junto a fontes multilaterais, o que diminui sua dependência do mercado de capitais. Já a Colômbia, que tem 26% de suas exportações ligadas ao petróleo, saira lucrando com o aumento do preço do ouro negro.

As perspectivas traçadas, porém, se referem ao pior dos cenários, que não é o mais provável segundo o banco alemão. Se a guerra contra o Iraque for de curta duração, haverá apenas maior volatilidade, isto é, oscilações no fluxo de capitais. Embora estas não tenham influências sobre as perspectivas de crescimento, a situação econômica da América Latina continua sendo "frágil", segundo o Dresdner Bank Lateinamerika.