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Reino Unido

Gesa Schölgens (sv)23 de setembro de 2007

A convenção do Partido Trabalhista no Reino Unido acontece pela primeira vez sob os auspícios de Gordon Brown na presidência da facção e como chefe de governo.

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Gordon Brown: divergências não impedem apoioFoto: AP

Tony Blair é um nome do passado. Os participantes da convenção do Partido Trabalhista, que acontece a partir deste domingo (23/09) em Bournemouth, no sul da Inglaterra, têm seus olhos voltados para o novo presidente da facção e chefe de governo: Gordon Brown. Especialistas não acreditam, porém, que ele vá pedir a antecipação das eleições para outubro próximo, como propagam alguns boatos no país.

Mesmo considerando que o Partido Trabalhista está à frente nas pesquisas de opinião, não seria estrategicamente interessante convocar as eleições para agora, diz Bernd-Werner Becker, cientista político e especialista em questões relacionadas ao Reino Unido.

Política sólida

Sob a presidência de Brown, o partido parece bem mais bem-visto do que andava nos últimos meses da era Blair. De acordo com enquetes realizadas pelo diário The Guardian, o Labour angaria hoje a preferência de 40% do eleitorado, ou seja, 8% a mais que os conservadores.

Analistas não acreditam, contudo, que Brown vá anunciar qualquer ruptura da política pró-empresariado levada à frente por Blair, mesmo que o novo chefe de governo tenha prometido "novas prioridades" por ocasião de sua posse. "Não vai haver nenhuma guinada para a esquerda. Brown foi, por dez anos consecutivos, ideólogo de Blair em termos de política interna. Logo, ele não vai desviar seu curso agora, de repente", analisa Becker.

O parlamentar Ian Lucas, próximo de Brown, também espera continuidade no que se refere à política econômica e social: "Brown é considerado um político sólido, confiável e pragmático", afirma Lucas ao diário alemão Hamburger Abendblatt. Em relação à política externa, no entanto, é possível que ele vá acentuar outros princípios e se aproximar mais da Europa do que Blair.

Mesmo que o novo chefe de governo desperte mais desconfiança da UE que seu antecessor, "ele vai atuar bastante no palco internacional. E, a médio prazo, vai aprender a apreciar o apoio da UE", acredita Becker. Suas posições, porém, são firmes, como ficou claro em sua recente ameaça de não participar da planejada cúpula UE-África, caso Mugabe, ditador do Zimbábue, também estivesse presente.

Plebiscito da UE divide partido

Outro ponto melindroso para Brown é a posição do Partido Trabalhista em relação ao plebiscito para a aprovação de um novo contrato da UE, uma vez que 60% da população defende a execução do referendo. Por ocasião das eleições em 2005, o Partido Trabalhista ainda apoiava a idéia. Hoje, Brown é contra.

Segundo críticos, o contrato em questão não se distingue tanto do anterior, que não foi aprovado há dois anos. O que leva a crer que, em caso de um plebiscito, este viesse a ser novamente rejeitado. Brown, por sua vez, afirma que se trata de um "documento completamente novo", cujos detalhes jurídicos ainda precisam ser avaliados pelas autoridades competentes. Caso os interesses de Londres sejam respeitados, não haveria, segundo o chefe de governo, "necessidade de um novo referendo".

Dentro dos quadros do partido, já há, no entanto, resistências à postura de Brown, com mais de 120 parlamentares participando de uma campanha em prol do plebiscito. "Há cada vez mais gente em defesa do referendo. Vai ser difícil resistir", observa o parlamentar Ian Gibson.

Para além da controvérsia, acredita-se ainda que Brown deverá ser ainda confrontado, durante a convenção que reúne 12 mil membros do partido, com temas polêmicos como a presença das tropas britânicas no Iraque e no Afeganistão. Estes não são aspectos com os quais ele pode angariar votos, "mas os membros do partido esperam que ele toque nesses assuntos", diz Tony Travers, cientista político da London School of Economics and Politics.

Tensão frente aos sindicatos

Analistas prevêem ainda bastante tensão com os sindicatos durante os cinco dias de convenção. Uma das razões é a recusa de Brown em aumentar os salários no serviço público, bem como de fortalecer os direitos dos trabalhadores. "Temos sucesso com nossa política econômica, pois mantivemos a disciplina por dez anos consecutivos", revida o chefe de governo ao ouvir críticas à sua política salarial.

Outro ponto de discórdia entre a cúpula trabalhista e os sindicalistas diz respeito às negociações sobre o contrato da UE com Bruxelas. Em junho último, o Partido Trabalhista tratou de assegurar que o respeito ao catálogo europeu de direitos fundamentais não é obrigatório para os tribunais britânicos. Desta forma, os trabalhadores do Reino Unido não podem, por exemplo, entrar com um processo pedindo direitos adicionais de greve.

Mais adorado que Blair

Durante a convenção, acredita-se que Brown, apesar das controvérsias em debate, deverá manter uma postura coesa. "Seu partido vai apoiá-lo, apesar das divergências em relação ao referendo da UE", prevê Travers. "Brown tem tudo sob controle", acredita o especialista e vários outros analistas especializados em política britânica. "Acho que vai ser uma convenção muito bem-sucedida. É a plataforma perfeita para Brown", diz Mark Wickham-Jones, cientista político da Universidade de Bristol.

Gordon Brown und Tony Blair
Brown e Blair: nem tão diferentesFoto: AP
EU-Referendum Frankreich Wahlurne
Plebiscito sobre Contrato da UE: motivo de discórdiaFoto: AP
Großbritannien Tony Blair gibt Rücktritt bekannt
Número 10 da Downing Street, residência oficial do primeiro-ministro, em LondresFoto: AP

Todos são unânimes em apontar Brown como líder de uma política confiável. "Após a renúncia de Blair, o 'efeito Brown' disparou. Na preferência dos cidadãos, ele está à frente do líder conservador David Cameron. O povo confia em Brown", conclui o cientista político Becker.