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DesastresMoçambique

Beira: Reconstrução pós-ciclones só para edifícios públicos?

Arcénio Sebastião (Beira)
27 de fevereiro de 2024

Gabinete governamental é acusado de privilegiar a reconstrução de infraestruturas públicas e não dar apoio direto à população afetada pelos ciclones na cidade da Beira, governada pelo partido da oposição MDM.

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Conservatória dos registos notariais, em reabilitação. Em uso até 2023.
Conservatória dos registos notariais, em reabilitação. Em uso até 2023.Foto: Arcénio Sebastião/DW

O Gabinete de Reconstrução Pós-Ciclones (GREPOC), sediado na Beira, diz ter recebido dos doadores cerca de 1,5 milhões de dólares para ajudar a reparar os danos causados pelas catástrofes naturais dos últimos anos.

No entanto, vários cidadãos da Beira ouvidos pela DW afirmam que continuam à espera dos auxílios prometidos.

Cidadãos vivem com dificuldades

Silvério Meque, uma das muitas pessoas afetadas pelo ciclone Idai, inscreveu-se para receber uma casa e, até agora, não recebeu qualquer benefício. "Nós tínhamos ouvido que seriam reconstruídas cerca de 300 mil casas, mas vamos ver e de 2019 até cá nem uma casa foi construída", acusa.

Meque refere que residentes de outros pontos da província de Sofala estarão a ser apoiados com valores monetários. Por isso, pede "ao Governo central que saiba que a Beira é uma parte do território nacional e não pode haver discriminação".

Edifício da Assembleia provincial, abandonado em 2020, com agravamento dos problemas de infiltração de água desde 2015. Reabilitado.
Edifício da Assembleia provincial, abandonado em 2020, com agravamento dos problemas de infiltração de água desde 2015. Reabilitado.Foto: Arcénio Sebastião/DW

Fátima Colaço perdeu o seu negócio, uma mercearia, em 2019. Passou a sobreviver graças a pequenos biscates, que só chegam para cobrir despesas de alimentação. Não consegue reabilitar o lugar onde vive, mas foi inscrita para receber uma das dezenas de milhares de casas prometidas. Continua à espera dessa ajuda: "Apanho dinheiro só para comprar pão para as crianças. Faço biscates para comprar caril, mas a minha casa está estragada mesmo", conta.

Edifícios do Governo reabilitados

Enquanto isso, decorre a reabilitação de edifícios governamentais, alguns dos quais degradados muito antes do ciclone. É algo que cria descontentamento no seio dos habitantes da Beira que esperam as milhares de casas e de empresários que ficaram sem os seus negócios.

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Luís Mandlate, diretor executivo do GREPOC, explica o porquê da priorização: "Só para dar alguns exemplos: se estivermos a olhar para um edifício do governo do distrito, é onde todos nós vamos quando precisamos de um documento. O Registo Civil, qualquer um de nós, seja à nascença, seja em caso de tristeza ou hábitos, tem que passar por lá para obter um documento. Praticamente serve a todos. O Hospital, quando estamos doentes, dirigimo-nos para lá. Escolas idem, os nossos filhos precisam de escolas para poderem estudar".

Ainda assim, o responsável garante que os privados não foram esquecidos e que as autoridades estão "a implementar o programa das subvenções equivalentes, que são donativos comparticipados pelos empresários".

O ciclone Idai, em 2019, destruiu milhares de edifícios
O ciclone Idai, em 2019, destruiu milhares de edifíciosFoto: Arcénio Sebastião/DW

Oportunidades para trabalhadores locais?

Na semana passada, terminou o processo de submissão de candidaturas para recrutar artesãos locais que vão engrossar o grupo de reabilitação de casas particulares.

Marcelino Manuel diz que espera para ver os resultados. O residente da Beira lembra que este recrutamento já aconteceu várias vezes, mas não houve avanços significativos.

"Estamos a desconfiar mesmo muito, porque não é possível que o processo não se tenha exercido em quatro ou cinco anos. No final deste ano temos eleições, isso pode ser uma coisa para aldrabar a população", alerta.