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Cabo Delgado: Novos ataques "podem desestabilizar eleições"

22 de setembro de 2023

Em entrevista à DW, o ativista Gafuro Manana alerta que os novos ataques em Cabo Delgado podem ser uma tentativa de colocar a região num "estado de sítio ou de alerta" e de desestabilizar o período eleitoral.

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Foto: Camille Laffont/AFP/Getty Images

Depois de uma relativa acalmia, a província de Cabo Delgado voltou a ser palco de ataques de grupos extremistas. Mas o Governo entende que estes são protagonizados por insurgentes que estão em fuga das tropas moçambicanas e seus aliados do Ruanda e da Missão Militar da África Austral (SAMIM).

À DW África, o ativista Gafuro Manana diz, no entanto, que estes ataques podem também significar uma demonstração de "musculatura" por parte dos terroristas. Manana alerta que a morte do líder do terrorismo no país, Bonomade Machude, "pode ser o início de uma nova era dentro do grupo". Por isso, apela às autoridades a não baixarem a guarda, principalmente numa altura em que se aproximam as eleições autárquicas.

De acordo com o ativista, estas incursões podem ser também "uma forma de desestabilizar e tentar forçar as forças da região a entrar em estado de sítio ou de alerta". 

Cabo Delgado: Novos ataques visam "desestabilizar eleições"

DW África: O que significa esta nova onda de ataques para Cabo Delgado?

Garufo Manana (GM): Esta nova forma de operações desses grupos de extremistas já levou cerca de 1.490 pessoas a se deslocarem novamente do posto administrativo de Mbau, em Mocímboa da Praia, quando já estavam a regressar... 

DW África: Haverá garantias de segurança para que essas pessoas retornem às suas zonas de origem?

GM: Na verdade, havia garantias de segurança, porque os ataques já tinham abrandado. Havia menos ataques contra civis, continuavam apenas os ataques contra as Forças de Defesa e Segurança. Mas agora voltaram à carga com violência.

DW África: Estes ataques são uma demonstração de "musculatura" por parte do grupo?

GM: Sim, é uma demonstração de musculatura, e estão a provocar ataques onde há mais presença [militar] internacional. Refiro-me às tropas da SADC e Ruanda. Se estivermos a falar de Mocímboa da Praia, é lá onde está a operar o Ruanda e as Forças de Defesa e Segurança moçambicanas. Também em Macomia, na zona de Mucojo, há uma presença permanente da SADC, coadjuvada pelos próprios donos da terra, as Forças Armadas de Defesa de Moçambique.

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DW África: Como é que se pode explicar ataques em regiões onde as forças de defesa moçambicanas, assim como estrangeiras, estão a operar?

GM: Isto pode significar um relaxamento das operações. Mas, neste momento, não [se pode] relaxar a segurança e vigilância em cada centímetro daquela região. Porque a morte do líder dos terroristas pode ser o início de uma nova era dentro do grupo, que pode causar mais destruição ou desestabilização da nossa segurança na província de Cabo Delgado, em termos de circulação de pessoas e bens.

DW África: Qual o risco desses ataques influenciarem ou comprometerem o processo de votação nestas autárquicas, principalmente em Mocímboa da Praia, tendo em conta que, por exemplo, o posto administrativo de Mbau faz parte do distrito e isso está agora a começar a criar um movimento de pessoas de um lado para outro. Há um risco maior para as próximas eleições?

GM: Sim, pode ser uma forma de desestabilizar o retorno dessas pessoas, uma vez que as cerca de 120 mil pessoas que regressaram à sua zona de origem podem se sentir ameaçadas com estes novos modelos de ataque, para desestabilizar o processo de eleições e tentar forçar esta região a entrar num estado de sítio ou de alerta.

Eles podem tentar desestabilizar esta região, como uma zona frágil para poder fazer os ataques, porque há uma predominância de mata bem fechada naquela região.

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