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Cabo Delgado: "Os terroristas bailam a bel-prazer"

António Cascais
4 de março de 2024

Há uma nova vaga de ataques na província moçambicana de Cabo Delgado, mas o Governo diz que são meros "grupinhos" que querem "criar pânico". Ativista fala à DW sobre a discrepância entre os discursos e a realidade.

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Foto de arquivo: Ataque em Naunde, agosto de 2018
Foto: DW/A. Chissale

Da província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique, chegam notícias contraditórias: A maior parte dos relatos refere-se a ataques cada vez mais violentos perpetrados por insurgentes islamistas, que provocam o pânico entre as populações. Já as autoridades moçambicanas esforçam-se por desdramatizar a situação.

Segundo o Presidente de Moçambique, Filipe Nyusi, a intenção dos grupos rebeldes atualmente é "criar pânico", num contexto em que os terroristas "não têm mais a mesma capacidade".

O jovem Abudo Gafuro, membro da associação Kuendeleya, uma organização da sociedade civil que trabalha junto das comunidades que sofrem "na pele" as consequências do terrorismo em Cabo Delgado, diz que há uma grande discrepância entre os discursos oficiais e a situação no terreno. "A situação não está controlada; a situação é bastante dramática e violenta", comenta Abudo Gafuro em entrevista à DW.

DW África: Como descreveria a situação em Cabo Delgado?

Abudo Gafuro (AG): São dias de incerteza, concretamente no distrito de Chiùre, onde a maior parte da população das aldeias mais recônditas teve de abandonar [as suas casas]. São mais de 67 mil pessoas, são números que não víamos desde 2017, quando os ataques terroristas começaram. Queimaram algumas infraestruturas religiosas, escolas, centros de saúde. Desalojaram milhares de crianças, cerca de 35 mil crianças estão fora do sistema de ensino. E alguns dos nossos ativistas voluntários que estavam posicionados em Quissanga tiveram de ser retirados para a Ilha do Ibo, e do Ibo para Pemba, por causa da forte presença dos terroristas naquela região da província de Cabo Delgado.

Ativista cívico moçambicano Abudo Gafuro
Ativista cívico Abudo Gafuro: "A situação não está controlada; a situação é bastante dramática e violenta"Foto: Privat

DW África: Os terroristas já estão nas ilhas das Quirimbas?

AG: Estão nas ilhas das Quirimbas há mais de três dias. Eles entraram no sábado à noite e estão a saquear produtos alimentares que vêm sendo abastecidos nas regiões insulares.

DW África: É verdade que os terroristas se instalam nas aldeias e até proferem palestras à vontade sem uma pronta intervenção das autoridades?

AG: Os terroristas estão a "bailar" a bel-prazer. Não há nenhuma resistência. Eles estão a proferir palestras, sim – tivemos informações de pessoas na zona da aldeia de Cumilamba, na Ilha das Quirimbas, que relatam que os terroristas foram até às matas, onde há pessoas escondidas. E vão atrás dos militares moçambicanos, para poderem mostrar que não têm medo das Forças de Defesa e Segurança.

DW África: Entretanto, o Governo e o próprio Presidente da República esforçam-se em desdramatizar a situação. Porquê?

AG: Há individualidades que dizem que a situação está controlada, mas o que estamos a ver na prática, o que estamos a sentir na pele, é o oposto disso. A situação não está controlada; a situação é bastante dramática e violenta.

DW África: Há algum apelo que gostaria de lançar às autoridades moçambicanas ou à comunidade internacional?

AG: Temos de deixar de olhar para isto como se fosse uma coisa normal. Nós não podemos normalizar algo que está a desestabilizar uma província e uma economia. A comunidade internacional não deveria estar em silêncio. O nosso Governo deve adotar um plano de emergência para poder acomodar as pessoas; acomodar aqueles deslocados que querem sair das zonas de perigo e encontrar áreas seguras.

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