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Como caso Manuel Chang pode acelerar higienização da FRELIMO

Nádia Issufo
16 de janeiro de 2019

Em ano de eleições, a FRELIMO corre o risco de pagar um preço alto nas urnas com o escândalo envolvendo o ex-ministro das Finanças de Moçambique. Para analista, partido precisa higienizar imagem.

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Zentralkomitee von Regierungspartei FRELIMO in Mosambik
Foto de arquivo: Reunião do Comité Central da FRELIMO (2016)Foto: DW/L. Matias

"O silêncio é de ouro" pode ser o adágio que prevalece neste momento no seio do partido que governa Moçambique, na sequência da ação da Justiça norte-americana contra destacados membros da FRELIMO, acusados de crimes financeiros. Desde a detenção do deputado e ex-ministro das Finanças, Manuel Chang, a 29 de dezembro, não houve nenhuma iniciativa oficial de manifestação de um posicionamento. O analista político Calton Cadeado advinha que a mudez não passa de estratégia.

"É que neste momento o silêncio parece uma forma de evitar por lenha na fogueira. O timing para falar pode ser algo que está a ser equacionado, porque já não me parece que seja aquela estratégia de deixar a coisa morrer por si própria até que apareça um novo evento mais significativo. Este assunto vai-se estender até a véspera das eleições deste ano, não tenho dúvidas quanto a isso", afirma.

Golpe final A ação norte-americana contra figuras da FRELIMO é entendida como uma espécie de golpe final contra o partido, que assiste a um acentuado desgaste de imagem de ano para ano.

Porträt - Silvestre Baessa
Analista político Silvestre BaessaFoto: privat

Concorrem para isso vários factos, a destacar: a quebra de popularidade por constantes casos de corrupção envolvendo os seus membros, o aparente envolvimento de militantes em casos gritantes de ilícitos eleitorais e as dívidas ilegais contraídas pelo seu Governo, que deixaram o país numa crise financeira jamais vista.

O especialista em boa governação Silvestre Baessa lembra que ainda pode haver salvação. 

"A questão na FRELIMO neste momento é: o barco tem todas as condições ou está preparado para afundar. Mas há possibilidade dele afundar mais tarde, se eles se libertarem de uma carga tóxica e a carga tóxica está devidamente identificada", analisa.

Mão à palmatória Apesar da ausência de um pronunciamento voluntário da FRELIMO, respeitados membros reagiram ao caso Chang quando confrontados pela imprensa nacional, como é o caso do ex-Presidente Joaquim Chissano e do ex-ministro das Finanças Tomás Salomão.

Caso Manuel Chang: FRELIMO tem de se libertar de carga tóxica para não afundar

Salomão defende que seja feita justiça em qualquer lugar para que o caso sirva de exemplo. Uma posição apreciada, pois não é comum membros da FRELIMO darem a mão à palmatória. Silvestre Baessa recorda que a FRELIMO tem muitos problemas internos que começam a tornar-se mais públicos nos últimos anos.

"Porque já não há capacidade interna de os resolver, entre outros motivos. Porém, creio que fica claro, sobretudo para militantes como Tomas Salomão, que está na linha de frente e que esteve a liderar a campanha da FRELIMO na provínica de Nampula, que a imagem de um partido altamente corrupto não está a favorecer em pleitos eleitorais e essa informação tóxica precisa de ser completamente desassociada da FRELIMO", avalia Baessa.

Luta contra escândalos

Por outro lado, este é um ano de eleições gerais e os escândalos são um grande inconveniente, ainda mais para um partido abalado por ilícitos e que mostra sinais de decadência. Para se reerguer, para além do distanciamento de ilícitos, a FRELIMO precisa fundamentalmente de fazer uma higienização da sua imagem. É preciso responder satisfatoriamente a um eleitorado que está cada vez mais exigente.

"A FRELIMO não pode defender ou proteger um militante, sobretudo quando dá provas muito claras [de ter participado em ilegalidades] e sobretudo porque há um julgamento público que mostra que o eleitorado não está a espera de uma outra resposta se não essa. O que Tomás Salomão está a dizer é que a FRELIMO precisa de fazer uma espécie de uma distinção entre o que é aceite e o que não é", conclui.