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Depois da greve, moçambicanos receiam hospitais

Nádia Issufo18 de junho de 2013

A greve do pessoal médico terminou sem um desfecho bom para os descontentes. Agora, está no ar a questão sobre a qualidade do atendimento nas unidades hospitalares.

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Depois da greve, moçambicanos receiam hospitais
Depois da greve, moçambicanos receiam hospitaisFoto: DW/J. Beck

Há quem suspeite que os médicos se possam vingar nos pacientes, e, por isso, nem vai aos hospitais. Será que os principios éticos que norteiam a profissão estão a ser respeitados?

O pessoal médico anunciou na última sexta-feira (14.06) que retomaria as funções, pondo fim à maior greve do país, que durou mais de 3 semanas. A greve foi organizada pela Associação Médica, em colaboração com a Comissão dos Profissionais de Saúde Unidos (CPSU), para exigir o aumento de 100% do salário base e uma subida de 10% para 35% no subsídio de risco.

Greve trouxe receio

Com a greve, o sistema de saúde tornou-se mais precário, deixando algumas unidades sanitárias vazias, apesar das necessidades. Mesmo depois do retorno ao trabalho, falta a confiança nestes profissionais e reina o receio de procurar os seus serviços, como conta uma cidadã que prefere não se identificar: "Não me sinto à vontade, tanto nas unidades sanitárias públicas como nas particulares", afirma.

"A greve foi feita por profissionais de saúde que são os mesmos que trabalham em todas as instituições, quer sejam privadas ou públicas", frisa, concluindo que "o que a greve acabou por trazer foi um receio por parte das pessoas de procurar estes serviços".

Apesar de tudo, esta cidadã não acredita numa atitude de vingança por parte dos profissionais de saúde, justificando com "o tipo de profissionais que são". "A saúde é uma coisa sensível às pessoas e, por isso, considerando que eles fizeram um juramento, não me parece que vão ter essa atitude", afirma.

Durante a greve, na maior parte das enfermarias do Hospital Central de Maputo, o maior do país (na foto), os serviços foram assegurados por alguns chefes de departamentos e médicos estrangeiros
Durante a greve, na maior parte das enfermarias do Hospital Central de Maputo, o maior do país (na foto), os serviços foram assegurados por alguns chefes de departamentos e médicos estrangeirosFoto: DW/J. Beck

População apoiou a greve dos médicos

De ressaltar que, apesar de lesada, a população viu com bons olhos a greve, tanto é que foi à esquadra exigir a libertação do seu líder, quando a polícia o deteve no mês passado, acusando-o de crime de sedição. Com cerca de 24 milhões de habitantes, Moçambique conta com cerca de 1800 médicos. Mas até que ponto cumprirão os médicos com o seu juramento, mesmo estando insatisfeitos? , responde, afirmando que

"O povo, durante estes dias todos, esteve do nosso lado, apoiando, entendendo as nossas reivindicações e apelando ao governo para que nos atendesse", lembra Emília Selemane, porta-voz da Associção Médica. "Por isso", continua, "o povo de maneira alguma deve ter receio de recorrer às unidades sanitárias. A única forma de greve que sabemos fazer é a que fizemos. Ou paramos de trabalhar ou, quando trabalhamos, trabalhamos em pleno".

"Não houve concessões aos médicos", lembra analista

Período de paralisação foi marcado pela falta de diálogo entre as autoridades e os grevistas
Período de paralisação foi marcado pela falta de diálogo entre as autoridades e os grevistasFoto: DW/J. Beck

"Esta nossa greve foi em busca de melhores condições de trabalho para melhor servir o povo", diz ainda Emília Selemane, frisando que "o atendimento vai ser o melhor possível", dentro das condições que os médicos tiverem.

Durante a greve, o pessoal médico foi substituído por estudantes de medicina e outro pessoal de apoio, que teve de trabalhar cerca de 48 horas seguidas. E nessa altura, o Governo anunciou a contratação de cerca de 100 médicos cubanos.

De acordo com o Executivo, a contratação já estava prevista mesmo antes da greve. Entretanto, a expetativa que reina é saber que remuneração terão. Para o analista moçambicano, Silvério Ronguane, o desfecho deste caso pode conduzir a uma situação mais difícil, já que "não houve uma concessão mínima, pelo menos para as pessoas saírem de cabeça erguida".

"Mais uma vez vamos entrar pela via da confrontação, das vinganças singulares e pessoais e da destruição completa do tecido social, em particular, do nosso precário sistema de saúde. É lamentável o que aconteceu, não acredito que alguém, que não é reconhecido possa exercer qualquer actividade e muito menos uma tão importante como a atividade médica", conclui.

Depois da greve, moçambicanos receiam hospitais