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ReligiãoMoçambique

Líderes religiosos querem preservar a paz em Cabo Delgado

DW (Deutsche Welle)
25 de maio de 2022

Líderes religiosos da província de Cabo Delgado voltam a distanciar-se das ações dos grupos armados que semeiam terror na região, supostamente em nome do Islão. Lembram que ser crente pressupõe amar e promover a paz.

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Encontro de líderes religiosos na província moçambicana de Cabo Delgado
Foto: DW

Kalid Uraibo rejeita que os ataques em Cabo Delgado tenham motivações religiosas. O líder religioso muçulmano frisa que nenhum crente muçulmano seria capaz de fazer mal a outras pessoas.

"Há preconceitos de terrorismo, que dizem que os muçulmanos são terroristas. Isso é apenas preconceito, porque nós devemos saber o que é ser um verdadeiro muçulmano. O nome em si já diz: 'Islão' quer dizer 'paz'. O verdadeiro muçulmano é aquele que promove a paz. Onde ele estiver, deve manter o sossego", explica.

As lideranças religiosas de Cabo Delgado estiveram reunidas, esta quarta-feira, (25.05), na cidade de Pemba para discutir formas de preservar a paz numa província atingida por ataques de grupos armados desde 2017.

Confissões religiosas "estão unidas"

Nzé Assuate, do Conselho Islâmico de Moçambique, disse que conflitos de natureza inter-religiosa nunca foram característicos das comunidades residentes na província de Cabo Delgado e em Moçambique, no seu todo.

"Aqueles que se encontram aí no mato, a sua tendência foi sempre de se fazerem valer como se fossem religiosos, como se na nossa província existissem conflitos inter-religiosos", explica.

"Ataques terroristas não têm nada a ver com Islão"

"Não é esta realidade que temos na nossa província. Independente da religiosidade de cada um, as confissões religiosas estão todas elas unidas", diz o líder religioso.

Como forma de contribuir para a conquista e manutenção da paz na província de Cabo Delgado, foi instituído o Conselho dos Religiosos de Moçambique (COREM), um órgão que junta diferentes congregações religiosas.

Segundo Nzé Assuate, o COREM tem trabalhado na fortificação dos laços de irmandade das pessoas vítimas do extremismo violento: "Temos ido ao encontro das comunidades, dos nossos irmãos deslocados, dando conselhos e o consolo necessários [para o seu restabelecimento]".

Sobretudo agora, sublinha, perante a reconstrução e o regresso a casa, "é importante que esse aconselhamento continue".

Regresso às zonas de origem

Numa altura em que as autoridades da província trabalham para o regresso voluntário, seguro e faseado dos deslocados internos às zonas de origem, devido à redução dos ataques terroristas em Cabo Delgado, o secretário de Estado António Supeia diz contar com as religiões no aconselhamento psicossocial dos regressados, por forma a criar um ambiente pacífico.

"Este movimento de pessoas deve ser acompanhado de perto pelas confissões religiosas, empenhando-se no diálogo e pregação da paz para travar tendências extremistas e ajudar a perdoar os incautos arrependidos, os retornados que se posicionam do lado errado e os resgatados das bases terroristas pelas forças conjuntas", defende.

António Supeia considera ainda que "o ato de perdoar deve ser cultivado com a ajuda das confissões religiosas, não somente como preceito de adoração a Deus, mas como uma terapia ligada à concessão de uma sociedade onde reina a harmonia e coesão social."