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Covid-19: Médicos denunciam ameaças em Angola

31 de julho de 2020

Sindicato dos Médicos denuncia intimidações contra integrantes que tornaram públicas irregularidades no sistema de saúde em Angola. Segundo sindicalistas, faltam luvas e máscaras - profissionais de saúde estão em risco.

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Fotografia ilustrativaFoto: DW/A. Vieira

Esta semana, o sindicalista Adriano Manuel foi sancionado com um corte de 6% do seu salário por alegada quebra de sigilo profissional. O médico foi ameaçado e punido depois de denunciar, no princípio de julho, a morte de 19 crianças em menos de 24 horas no Hospital Pediátrico de Luanda.

Além de trabalhar no hospital, Adriano Manuel é também presidente do Sindicato Nacional dos Médicos de Angola (SINMEA). Segundo informações do sindicato, as mortes teriam ocorrido por falta de profissionais para atender as crianças na unidade sanitária.

No coração do maior centro de hidrocefalia de Angola

O secretário-geral da instituição, Pedro da Rosa, disse que o pediatra poderá ser transferido do hospital para o departamento de Recursos Humanos do Ministério da Saúde contra a sua vontade. Rosa afirma que a intenção constitui uma ilegalidade, porque sindicalistas não podem ser transferidos - a não ser que seja por vontade própria. 

O secretário-geral do Sindicato dos Médicos suspeita que o hospital está a ser usado pelo Ministério da Saúde. 

"As nossas reivindicações visam somente a melhoria das condições de trabalho, mas isto não é bem visto pelo Ministério da Saúde. E o resultado é a penalização do doutor Adriano", critica.

Apoio à classe

Várias associações profissionais solidarizaram-se com o SINMEA, entre as quais a Ordem dos Enfermeiros de Angola (ORDENFA). À DW África, o bastonário dos enfermeiros, Paulo Luvualo, condena as ações contra o dirigente do Sindicato Nacional dos Médicos. 

"Aquilo que o doutor Adriano tem dito é a verdade. Os nossos governantes deviam aferir essas denúncias para saberem até que ponto corresponde com a verdade. O doutor Adriano não inventa aquelas informações", afirma.

"Diz-se, na gíria, que 'a verdade dói'. Mas deve ser dita, porque são angolanos que estão a ser maltratados e são angolanos que estão morrer. Não devemos permitir isso", acrescenta Paulo Luvualo.

Angola Krankenhaus
Foto: Fernando Sefrin

Perigo na linha da frente

Enquanto crescem os casos positivos de Covid-19 no país, o médico Pedro da Rosa relata que os hospitais angolanos continuam a registar a escassez de materiais de biossegurança, como luvas e máscaras. 

Pedro da Rosa diz que não se justifica a falta destes itens, quando semanalmente o Governo anuncia a aquisição de equipamentos hospitalares. 

"Neste momento, estou no banco de urgência do hospital do Capalanga, em Viana. Não compreendo por que motivo, neste momento, não temos luvas. Os materiais vindos da China não estão a chegar aos hospitais periféricos. Os hospitais centrais também não têm materiais", denuncia. 

Segundo o Sindicato Nacional dos Médicos, cerca de 30 profissionais de saúde foram infetados pelo novo coronavírus. A organização sindical acredita que as infeções podem estar relacionadas com a má distribuição dos equipamentos. Pedro da Rosa alerta que há o risco de mais técnicos contraírem a doença. 

Angola Gesundheitssystem Paulo Luvualo
Paulo Luvualo, bastonário dos enfermeirosFoto: Borralho Ndomba/DW

"Todos os indivíduos que entram nos hospitais são potenciais infetados e vão infetar também os profissionais de saúde. Quer dizer que todo o profissional de saúde, no mínimo, tem que ter máscara, tem que ter gorro e luvas para se proteger quando estiver em contacto direto com o paciente", explica.

"Às vezes, faltam essas máscaras nos hospitais. Não temos luvas. Isso quer dizer que somos suscetíveis de contrairmos o coronavírus", considera o secretário-geral do SINMEA.

A Ordem dos Enfermeiros de Angola também considera preocupante a situação dos profissionais de saúde em Angola, sobretudo os que estão a trabalhar nos centros de tratamento da Covid-19. 

"Encontrámos nos hospitais de nível nacional profissionais que estavam a usar máscaras artesanais. Encontrámos hospitais onde os profissionais estão a receber uma máscara cirúrgica para trabalhar durante 24 horas - e é uma máscara que deve ser usada de duas a quatro horas", denuncia.

Luvualo reitera que outras unidades hospitalares estão a distribuir máscaras N95, filtradas. Trata-se de um tipo de máscara que está a ser usado durante quinze dias nas unidades de saúde, mas não seriam apropriadas para um período tão longo. 

Entre outras preocupações, a Ordem dos Enfermeiros também se queixa da exclusão dos técnicos de enfermagem da comissão interministerial de controlo da Covid-19 em Angola. 

A DW África contactou o Ministério da Saúde para ouvir a posição do Governo sobre as denúncias do SINMEA, mas não obteve resposta.

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