1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW
ConflitosIsrael

Como é a relação de Israel com seus vizinhos árabes?

20 de outubro de 2023

Os ataques do Hamas e a retaliação israelense puseram em evidência o clima de animosidade no Oriente Médio. Entenda o histórico de parcerias e desavenças na região e como os vizinhos têm reagido ao conflito.

https://p.dw.com/p/4XoeN
Grupo de pessoas em frente à passagem de fronteira de Rafah, entre o Egito e a Faixa de Gaza.
Egito e Israel concordaram em abrir a passagem de Rafah para permitir entrada de ajuda humanitária em GazaFoto: REUTERS

Durante a maior parte de sua história, Israel manteve relações turbulentas com seus vizinhos. O clima de hostilidade se agravou ainda mais na terça-feira (17/10), quando uma explosão no Hospital al-Ahli, na Cidade de Gaza, matou um número alto e ainda incerto de pessoas. Imediatamente, várias nações árabes da região acusaram Israel de estar por trás do ataque, enquanto autoridades israelenses se apressaram em afirmar que um foguete palestino causou a explosão.

Após os ataques terroristas de 7 de outubro do grupo palestino Hamas em Israel, a maioria dos países árabes, mesmo aqueles que durante décadas vinham mantendo diálogo e cooperação com o governo israelense, responsabilizou o vizinho pela escalada da violência. Eles argumentam que os últimos acontecimentos são, particularmente, consequência dos assentamentos israelenses na Cisjordânia e da opressão contra a Faixa de Gaza.

Abaixo, entenda a posição dos países fronteiriços que cercam Israel em relação ao recente conflito.

Egito

Em 15 de outubro, o presidente egípcio, Abdel Fatah al-Sisi, criticou a resposta das Forças de Defesa de Israel aos ataques do Hamas, alegando que a ofensiva foi "além do direito à autodefesa" e, em vez disso, se assemelhou a uma punição coletiva.

Egito e Israel têm nutrido uma parceria de longa data, mais especificamente desde o tratado de paz israelo-egípcio de 1979, na esteira dos Acordos de Camp David.

O tratado de paz, contudo, sofreu várias crises desde então, entre elas a invasão do Líbano (1982) e da Cisjordânia (2002) pelos israelenses, a primeira e a segunda intifadas, e vários conflitos entre Israel e o Hamas.

Num desses conflitos – a Guerra de Gaza de 2014 –, o Egito instou Israel a adotar uma abordagem mais agressiva, mas Tel Aviv hesitou, temendo potenciais "vazios de poder" e subsequente caos na região.

O presidente do Egito, Abdel Fatah al-Sisi.
Presidente do Egito, Sisi culpa Israel por bloquear ajuda humanitária a GazaFoto: Michael Kappeler/AFP/Getty Images

Além de seus laços estreitos com o Irã, o Hamas – que Estados Unidos, União Europeia e vários outros países consideram uma organização terrorista – também mantém uma relação complexa com o movimento islâmico da Irmandade Muçulmana no Egito. Tal relação trouxe ao governo do Cairo preocupações de segurança em relação ao extremismo religioso. Por outro lado, ela também permite que o serviço de inteligência egípcio faça a mediação entre Israel e o Hamas através de negociações paralelas.

No atual conflito Hamas-Israel, as autoridades egípcias disseram que preferem facilitar a ajuda humanitária a Gaza do que permitir que os habitantes do enclave atravessem para a Península do Sinai.

Durante uma coletiva de imprensa na quarta-feira, Sisi disse que milhões de egípcios se opunham veementemente ao deslocamento forçado de palestinos para o Sinai, pois isso poderia transformar a península egípcia numa base para ataques contra Israel.

Tal oposição à entrada de palestinos também é vista como parcialmente ligada à atual situação econômica delicada do Cairo e ao afluxo contínuo de refugiados da guerra civil do Sudão.

A única saída da Faixa de Gaza

Jordânia

Jordânia e Israel estiveram em estado oficial de guerra durante décadas, mas, mesmo assim, conseguiram manter uma comunicação constante, levando à assinatura de um tratado de paz em 1994.

A Jordânia prestou assistência a Israel em diversas ocasiões, como durante os tumultos em Jerusalém em novembro de 2014 – em torno do acesso ao Monte do Templo e à Mesquita de al-Aqsa –, quando oficiais jordanianos trabalharam com as forças israelenses para manter a segurança nos locais sagrados.

Israel, por sua vez, colabora com a Jordânia em vários projetos comerciais, agrícolas, industriais e de saúde pública.

Contudo, a relação entre os dois países tem registrado tensões recorrentes, muitas vezes ofuscadas pelos contínuos apelos palestinos pela criação de um Estado.

Em 11 de outubro, o rei Abdullah da Jordânia fez um discurso em que sublinhava a importância de uma resolução do conflito: "Nossa região nunca será segura nem estável sem alcançar uma paz justa e abrangente com base na solução de dois Estados", disse.

A Jordânia também teme um novo afluxo de refugiados palestinos, insistindo que eles devem permanecer em sua terra natal se quiserem formar um Estado próprio no futuro.

Com 11,6 milhões de residentes, a Jordânia já abriga milhões de migrantes, vindos não só de territórios palestinos, como também da Síria e do Iraque – o que a torna um dos países com a maior proporção de refugiados por habitantes do mundo.

Líbano

A organização política xiita libanesa Hisbolá representa uma ameaça considerável para Israel. A ala militar do grupo, que é designada como organização terrorista por União Europeia, Estados Unidos e outros países, mantém um arsenal substancial de armas e exerce ampla influência política e econômica dentro do Líbano.

Nas últimas décadas, Israel e o Hisbolá estiveram envolvidos numa série de conflitos armados.

Já as tensões entre Líbano e Israel remontam a 1948, quando o Líbano, juntamente com outras nações árabes, declarou guerra a Israel logo após o estabelecimento do Estado judaico.

Desde então, o Líbano tem sido lar de refugiados palestinos e de vários grupos de milícias, enquanto Israel diversas vezes ocupou partes do sul do Líbano.

Em 2000, na esteira de um cessar-fogo mediado pela ONU, Israel se retirou dos territórios libaneses ocupados. No entanto, a zona fronteiriça entre os dois países permanece volátil e tem sido palco de confrontos armados constantes.

Após o ataque do Hamas a Israel, o Hisbolá prometeu "solidariedade" ao povo palestino. No dia seguinte, veio a troca de tiros na zona fronteiriça, evocando memórias de um conflito que parecia relativamente adormecido desde 2006.

Ataque sem precedentes a Israel abre novo conflito. E agora?

Síria

Tal como o Líbano, a Síria considera oficialmente Israel um adversário, com o qual mantém um estado de guerra desde o estabelecimento da nação judaica em 1948.

Em 1967, durante a Guerra dos Seis Dias, Israel capturou as Colinas de Golã, um planalto fronteiriço com a Síria que ocupa desde então.

A Síria também mantém uma aliança com o Irã, principal rival de Israel na região.

Em 2007, quando Tel Aviv manifestou a vontade de trocar terras pela paz em resposta a uma proposta do presidente sírio, Bashar al-Assad, a ideia era que Damasco cortasse os laços com Teerã e outras milícias anti-Israel. A Síria, no entanto, rejeitou os termos do acordo.

Ao longo das últimas duas semanas, os dois países trocaram tiros. Mas ataques com mísseis da Síria contra Israel ocorrem há anos, normalmente após períodos de agitação em Israel e atingindo sobretudo áreas descampadas.

Israel também tem realizado ataques aéreos na Síria desde a eclosão da guerra civil síria em 2011. O objetivo principal seria cortar o abastecimento de armas para o Hisbolá e atingir instalações pertencentes ao Irã e seus representantes na Síria.

Na semana passada, Israel lançou ataques com mísseis contra os dois principais aeroportos da Síria, em Damasco e Aleppo, fazendo com que ambos ficassem fora de serviço.

Guerra em Gaza pode envolver outros países?