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Davi Alcolumbre é eleito presidente do Senado

2 de fevereiro de 2019

Senador do DEM vence eleição marcada por tensões. Renan Calheiros, visto com desconfiança pelo governo, desistiu no meio da disputa. Sob suspeita de fraude, primeira votação foi anulada.

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O recém-eleito presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP)
Alcolumbre foi o escolhido do governo para tentar impedir o retorno de Renan à presidência da CasaFoto: Getty Images/AFP/S. Lima

Após uma sessão conturbada, marcada por uma série de articulações que chegou inclusive ao Supremo Tribunal Federal (STF), o Senado escolheu seu presidente neste sábado (02/02). Em votação secreta que precisou ser refeita, o senador Davi Alcolumbre (DEM-AP) foi eleito o novo chefe da Casa.

Ele obteve 42 votos – para vencer no primeiro turno, precisava do apoio de ao menos 41 dos 81 senadores. Outros quatro parlamentares concorriam ao cargo: Espiridião Amin (PP-SC) teve 13 votos; Angelo Coronel (PSD-BA), oito votos; Reguffe (sem partido-DF), seis; e Fernando Collor (Pros-AL) teve três votos.

Renan Calheiros (MDB-AL) – cuja candidatura a um quinto mandato como presidente do Senado foi o que provocou a sucessão de desentendimentos na votação na Casa – acabou desistindo da disputa no meio de uma segunda votação, depois de a primeira ter sido anulada.

Momentos antes da primeira rodada de votos, três senadores já haviam retirado a candidatura, na tentativa de enfraquecer Renan, fortalecendo seu principal adversário, que acabou vitorioso: Alvaro Dias (Podemos-PR), Major Olímpio (PSL-SP) e Simone Tebet (MDB-MS).

Alcolumbre, de 41 anos, foi vereador entre 2001 e 2002 e, desde estão, está no Congresso Nacional. Exerceu mandatos na Câmara de 2003 a 2014, quando foi eleito senador pelo Amapá, desbancando o então candidato de José Sarney (MDB-AP).

Nos últimos meses, Alcolumbre foi escolhido pelo ministro Onyx Lorenzoni, responsável pela articulação política do novo governo, como o nome para tentar impedir a volta de Renan à presidência. O alagoano era visto com desconfiança por boa parte do PSL, do presidente Jair Bolsonaro e da equipe que compõe o Planalto.

A votação para a chefia do Senado deveria ter ocorrido na sexta-feira, como a da Câmara, que reelegeu o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) para o seu comando. Mas uma sucessão de confusões acabou levando à suspensão da sessão, que foi retomada neste sábado.

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Por 42 votos, senadores elegeram Alcolumbre para comandar o Senado até janeiro de 2021Foto: Getty Images/AFP/S. Lima

Tensa eleição sem fim na sexta

Ainda na sexta-feira, uma série de articulações de adversários de Renan Calheiros enfraqueceu a posição do alagoano. Foi formada uma frente "anti-Renan" que incluía desde membros do PSL a adversários internos de Renan no MDB e senadores do PSDB.

Bolsonaro se posicionou publicamente de maneira neutra na disputa pelo comando do Senado, mas o mesmo não ocorreu com seu ministro da Casa Civil, Lorenzoni, que fez um intenso trabalho contra Renan nos bastidores. Lorenzoni tentava emplacar seu aliado Davi Alcolumbre na presidência da Casa – a mulher do ministro é assessora parlamentar do senador democrata.

Alcolumbre criou uma série de dificuldades para Renan na sexta-feira. Remanescente da antiga Mesa Diretora, o amapaense era terceiro suplente e acabou assumindo a presidência interina do Senado com a partida de outros membros que não conseguiram se reeleger.

Com a nova posição, ele deu início a uma guerra regimental para favorecer sua própria candidatura e enfraquecer a de Renan. Alcolumbre revogou um ato assinado por um secretário-geral da Mesa indicado por Renan que determinava que a eleição deveria ser comandada pelo senador mais antigo da Casa, no caso, José Maranhão (MDB-PB), outro aliado do alagoano.

Apoiadores de Renan ficaram furiosos com a manobra. A senadora Kátia Abreu (PDT-TO) chegou a arrancar papéis das mãos de Alcolumbre. Renan, por sua vez, trocou ofensas com o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), um velho desafeto que ensaiou se candidatar à chefia da Casa.

O senador do MDB também chamou Alcolumbre de "canalha" e, irritado com as movimentações de Lorenzoni, chegou a acusar o ministro de orientar o democrata a violar a Constituição.

Outra dificuldade para Renan ocorreu quando os senadores, por 50 votos a 2, se manifestaram a favor de uma votação aberta – algo que vinha sendo pedido tanto por militantes do PSL quanto por apoiadores de partidos de esquerda nas redes sociais.

Era também tudo que os adversários de Renan mais desejavam, já que eles contavam que vários senadores pensariam duas vezes antes de votar publicamente em um candidato desprezado por parte da opinião pública.

O regimento do Senado, no entanto, é bem claro sobre a votação ocorrer em "escrutínio secreto". Na madrugada deste sábado, o ministro Dias Toffoli, do STF, atendeu a um pedido feito pelo Solidariedade e pelo MDB e determinou que a eleição fosse secreta.

Mais células que senadores

Neste sábado, a sessão não foi menos tensa. Durante a tarde, após os discursos dos seis candidatos ao comando do Senado, os parlamentares proferiram seus votos em cédulas de papel, que foram depositadas em urna.

Em mais um capítulo da série de confusões no Senado, a apuração acabou descobrindo 82 cédulas, sendo que só há 81 senadores – 80 delas estavam dentro de envelopes, conforme manda a votação, e as duas restantes estavam fora.

Simone Tebet afirmou que esses dois votos fora dos envelopes eram no mesmo candidato. Ela evitou dizer diretamente em quem, mas, questionada se eram para Renan, ela respondeu: "O que você acha?". "O senador estava querendo fraudar, é lamentável", afirmou, sem dizer um nome.

O presidente da sessão – que após grande impasse acabou sendo José Maranhão, o senador mais velho, com 85 anos – rasgou as duas células polêmicas e anunciou que a votação seria refeita.

Renan Calheiros e Davi Alcolumbre
Renan Calheiros e Davi Alcolumbre: os principais candidatos na votação deste sábadoFoto: Getty Images/AFP/S. Lima

Renan retira candidatura

Em meio à segunda votação, Renan anunciou que estava deixando a disputa pelo comando do Senado. Ele criticou o processo de votação, tachando-o de antidemocrático, e lançou ataques a seu principal adversário, Alcolumbre.

"Para demonstrar que esse processo não é democrático, eu queria lhe dizer que o Davi [Alcolumbre] não é Davi. O Davi é o Golias. Ele é o novo presidente do Senado, e eu retiro a minha candidatura, porque não vou me submeter a isso", disse ele sob aplausos.

"Eles querem ganhar de todo o jeito. Isso não pode acontecer. Eu não sou um Jean Wyllys", completou Renan, mencionando o ex-deputado federal do Psol que largou o mandato e deixou o Brasil após sofrer ameaças. "Eu não vou renunciar ao meu mandato. Vou ficar aqui no Senado Federal. Mas o Brasil é testemunha do que está acontecendo no Senado desde ontem."

O alagoano também mencionou o voto do senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), filho do presidente, que anunciou seu apoio a Alcolumbre durante a segunda votação.

"Flávio Bolsonaro, diferentemente da votação anterior, abriu o voto. Abriu o voto. Abriu o voto. Abriu o voto. Este processo não é democrático", reforçou o emedebista.

Renan era visto com horror por boa parte do PSL e por figuras como o ministro da Justiça, Sérgio Moro. Nas eleições em 2018, o senador alagoano declarou apoio a Fernando Haddad (PT) e, em 2016, foi o articulador de uma fórmula que poupou os direitos políticos de Dilma Rousseff na votação final do impeachment.

A ala anticorrupção do governo também identificava o senador com velhas práticas da política e acusações de ilegalidades – Renan responde a 18 inquéritos no STF e foi envolvido na Lava Jato. O grupo de Moro no governo avaliava que ele seria uma barreira para a aprovação de medidas para combater a corrupção.

Nos últimos dias, Renan vinha fazendo acenos para o governo e chegou a demonstrar apoio público ao encrencado senador Flávio Bolsonaro como forma de conquistar simpatia para sua candidatura. Mas, famoso por entrar somente em disputas com uma posição sólida, ele ameaça agora virar um adversário do governo.

EK/ots

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