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Ucrânia tenta recrutar combatentes africanos

Chrispin Mwakideu
9 de março de 2022

A Nigéria, o Senegal e a Argélia criticaram os esforços da Ucrânia para alistar combatentes internacionais.

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Foto: Andrew Marienko/AP/picture alliance

A guerra da Rússia contra a Ucrânia dura há duas semanas, e Kiev tem pedido a cidadãos estrangeiros que se juntem aos combates. O apelo já chegou até ao Quénia.

"Se a Ucrânia decidir pagar-me uma muito boa quantia de dinheiro, que sei que não posso ganhar aqui, irei definitivamente para lá e lutarei", afirma Kimanzi Nashon, estudante na capital queniana, Nairobi.

"Quando formos para lá e a guerra acabar antes que algo aconteça, voltarei para o Quénia e serei milionário", acrescenta.

Nashon não é o único a ponderar combater na guerra ao lado das forças ucranianas.

"Se tivesse a possibilidade de lutar na Ucrânia como mercenário, correria para lá", diz à DW Beatrice Kaluki, que está desempregada. "Preferia morrer na linha da frente na Ucrânia sabendo que a minha família seria compensada após a minha morte, do que morrer no Quénia de depressão por causa da louca taxa de desemprego".

Kaluki, de 27 anos, acredita que outros jovens iriam para a Ucrânia se surgisse uma oportunidade.

O apelo de Zelensky

O Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky pediu, na semana passada, que mais pessoas se juntem às suas forças para defender o país da invasão russa.

Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky
Presidente ucraniano pediu ajuda para combater as tropas russasFoto: Ukrainian Presidential Press Office/AP Photo/picture alliance

De acordo com Ryan Cummings, diretor da Signal Risk, uma empresa sul-africana de consultoria sobre riscos de segurança, Zelensky pode estar a querer tirar proveito das condições socioeconómicas desafiantes em muitos países para atrair combatentes para a Ucrânia.

"Os cidadãos africanos poderão ver uma oportunidade económica na participação no conflito", afirma Cummings em entrevista à DW.

Zelensky referiu que a recompensa pela participação no conflito em nome das forças ucranianas poderia ser a obtenção da cidadania ucraniana ou um valor monetário.

No entanto, vários países africanos condenaram veementemente o apelo da Ucrânia para que os combatentes africanos se juntem à "legião internacional" contra a invasão russa.

A Nigéria alertou na segunda-feira (07.03) os seus cidadãos de que não toleraria qualquer recrutamento de mercenários para lutar ao lado das forças ucranianas.

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Francisca Omayuli, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros nigeriano, mencionou ainda que a Embaixada da Ucrânia na Nigéria refutou as notícias de meios de comunicação locais nigerianos de que estava a exigir dinheiro de voluntários nigerianos.

"A Embaixada dissociou-se da alegação de que está a pedir 1.000 dólares [917 euros] a cada voluntário nigeriano para o bilhete de avião e o visto", disse Omayuli.

Segundo o jornal nigeriano The Guardian, na semana passada, mais de 100 jovens registaram o seu interesse em lutar pela Ucrânia na embaixada do país em Abuja.

Senegal 'em choque' com campanha de recrutamento

O Senegal também manifestou o seu descontentamento com o Governo da Ucrânia, acrescentando que pelo menos 36 pessoas no país se mostraram dispostas a confrontar as forças russas.

A DW tentou contactar alguns voluntários mas não teve sucesso.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros senegalês disse que ficou surpreendido ao saber que a Embaixada da Ucrânia em Dakar tinha colocado um apelo na sua página do Facebook para que os cidadãos estrangeiros se juntassem à defesa militar da Ucrânia.

Em comunicado, o Governo criticou a iniciativa e avisou os seus cidadãos que o recrutamento de voluntários, mercenários ou combatentes estrangeiros em solo senegalês é ilegal.

Embora a Embaixada da Ucrânia no Senegal tenha desde então eliminado o post no Facebook, a vontade de alguns jovens africanos de lutar na Ucrânia levanta questões sobre os seus perfis e motivações.

"Estes jovens que querem envolver-se [na Ucrânia] não têm considerado plenamente as implicações políticas ou religiosas", diz Serigne Bamba Gaye, investigador sobre paz, segurança e governação no Instituto de Formação de Operações de Paz (POTI), sediado nos Estados Unidos. "Eles só estão interessados em responder a um apelo sem compreenderem as questões em torno do conflito ucraniano", afirma Gaye.

G20 Gipfel Russland Sankt Petersburg Wladimir Putin und Macky Sall
Presidente russo, Vladimir Putin (esq.), e homólogo senegalês, Macky Sall, em setembro de 2013Foto: Eric Feferberg/AFP/Getty Images

Os laços entre África e a Rússia

O Senegal, que tem extensos laços políticos e militares com a Rússia, foi um dos 17 países africanos que se abstiveram de votar na resolução da ONU de 2 de março que condena a agressão da Rússia e apela ao fim dos combates.

A Argélia, outro cliente de material bélico russo, também apelou à Ucrânia para que desistisse de tentar alistar combatentes do seu país. O Governo do país também se manteve em silêncio sobre a invasão russa da Ucrânia.

"Nos últimos 20 ou 30 anos, temos visto muitas pessoas que recrutam jovens africanos para os levar a desempenhar o papel de mercenários", disse Gaye, acrescentando que a perspetiva de ganhos económicos atrai facilmente os jovens. "O outro elemento que me parece importante são as redes sociais, que fazem com que qualquer causa tenha hoje uma dimensão global. Um país precisa de apoio, por isso vamos para lá".

As redes sociais transformaram-se num campo de batalha entre aqueles que apoiam a Ucrânia e os que apoiam a Rússia.

Para o analista Ryan Cummings, os países africanos precisam de considerar as implicações de permitir que os seus cidadãos viajem para a Ucrânia para se juntar aos combates contra as tropas russas. "A Rússia declarou que qualquer país que esteja a ajudar ativamente a Ucrânia nesta guerra, ou como a Rússia a designa - uma 'operação militar especial para desmilitarizar e desnazificar a Ucrânia -, será considerado como estando em guerra com a Rússia", disse.

Cummings avisa que o Kremlin poderia retaliar, pondo termo às relações diplomáticas com os países africanos que apoiam a Ucrânia.

Andrew Wasike e Carole Assignon contribuíram para este artigo.

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